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audiovisual

- Publicada em 04 de Junho de 2021 às 09:05

Estreia série 'O cinema e as cidades' no canal Prime Box Brazil

Diretor Eduardo Wannmacher procurou maior diversidade de funções e gerações no seriado

Diretor Eduardo Wannmacher procurou maior diversidade de funções e gerações no seriado


ISIDORO B. GUGGIANA/DIVULGAÇÃO/JC
Estreia, nesta sexta-feira (4), uma série de televisão que, em quatro episódios, revisita quatro décadas de Porto Alegre por meio de 20 filmes locais - entre curtas e longas, ficções, documentários e animações. O cinema e as cidades vai ao ar semanalmente, com exibições nas sextas-feiras, às 21h30min, no canal Prime Box Brazil.
Estreia, nesta sexta-feira (4), uma série de televisão que, em quatro episódios, revisita quatro décadas de Porto Alegre por meio de 20 filmes locais - entre curtas e longas, ficções, documentários e animações. O cinema e as cidades vai ao ar semanalmente, com exibições nas sextas-feiras, às 21h30min, no canal Prime Box Brazil.
O seriado é dirigido por Eduardo Wannmacher e produzido por Frederico Mendina, com financiamento do Edital Pró-cultura RS FAC de Produção Audiovisual, realizado pela Sedac em parceria com a Ancine, através do Fundo Setorial do Audiovisual. Produzida pela Pironauta e coproduzida pela Firma Filmes, a série é estruturada em imagens originais das obras analisadas e depoimentos dos respectivos realizadores.
A geração oitentista inicia a produção de um novo cinema urbano em Porto Alegre, com a descoberta do super-8 no formato de ficção. Esse movimento é revisitado no episódio introdutório da série, por meio do depoimento de Carlos Gerbase, diretor de Inverno (1983). O distanciamento social por muros e grades é retratado no segundo episódio, com uma análise do curta Ângelo anda sumido (1997), de Jorge Furtado. Giba Assis Brasil, montador da Casa de Cinema de Porto Alegre, comenta este título e Três minutos (1999), de Ana Luiza Azevedo, que também dá entrevista para a produção.
O cinema fantástico, com criaturas e lendas mágicas, chega ao terceiro episódio, com a animação Reino Azul (1989), de Otto Guerra. Ao longo do tempo, temas ligados ao cinema de gênero, como ficção-científica e terror, sempre estiveram presentes nas produções gaúchas, revelando um lado mais sombrio da Capital. Outra animação presente é Cidade Fantasma (1999), Lisandro Santos. 
Da virada do milênio, estão representados ainda o inventivo Um estrangeiro em Porto Alegre (1999), de Fabiano de Souza, comentado pelo diretor e pelo ator Nelson Diniz, e Quem? (2000), de Gilson Vargas, resgatado pelas suas memórias e pelas visões do ator Julinho Andrade sobre Porto Alegre. 
Dois marcos do cinema gaúcho na década seguinte estão demarcados na série: O cárcere e a rua (2005), de Liliana Sulzbach, e Ainda orangotangos, de Gustavo Spolidoro (o famoso longa em plano-sequência que tem totalmente a cara da capital gaúcha). O recorte deste ponto em diante deve ter sido complicado para os realizadores. "A lista inicial tinha cerca de 50 obras. Quando formatamos a série, tivemos de escolher apenas 20 filmes. Mas era importante que o conjunto representasse mais filmes e pessoas e que trouxesse as transformações geracionais. Então os temas presentes nos filmes e os diferentes gêneros foram norteadores, assim como as transformações tecnológicas do cinema", explica Wannmacher.
O curta De lá pra cá (2011), de Frederico Pinto, muito bem realizado tem a Trensurb como protagonista desta Região Metropolitana. Amores passageiros (2012), de Augusto Canani, ambientado no Departamento de Esgotos Pluviais da Cidade de Porto Alegre e com o excelente com Osmar Prado, também é lembrado. O documentário poético-visual sobre a obra do escritor Caio Fernando Abreu, Sobre sete ondas verdes espumantes, de Cacá Nazario e Bruno Polidoro também tem entrevista com os dois diretores, sobre o formato diferenciado do documentário e locações mais cosmopolitas. 
A leva final dos títulos abordados pelos capítulos derradeiros traz os potentes e premiados Castanha (2014), Davi Pretto; O corpo (2015), de Lucas Cassales; O teto sobre nós (2015), de Bruno Carboni; Sob águas claras e inocentes (2016), de Emiliano Cunha; Secundas (2017), de Cacá Nazário; O Caso do Homem Errado (2017), de Camila de Moraes; Um corpo feminino (2018), de Thaís Fernandes (também montadora da série) e o fenômeno Tinta Bruta (2018), de Marcio Reolon e Filipe Matzembacher.
O último episódio explora temas urgentes que são o mote das produções mais recentes, como a diversidade de gênero, o racismo, a questão da moradia, da educação e das manifestações sociais. A geração que vem produzindo nesta última década parece se dedicar mais a temas sociais, grandes, coletivos, tendo o cinema como um suporte para registro e preservação da memória deste tempo. Os cineastas das gerações anteriores pareciam mais preocupados com dramas pessoais, individuais, que faziam pensar sobre assuntos importantes da sua época, mas não tão sérios e preocupantes como os novos realizadores saídos dos cursos de graduação em Audiovisual da Região Metropolitana de Porto Alegre. 
Conforme o diretor de O cinema e as cidades, o título da série foi escolhido para pensar as diferentes metrópoles que aparecem nos filmes, ao longo do tempo: "Embora seja basicamente sobre Porto Alegre, acompanhamos as transformações da cidade e do próprio cinema feito no Rio Grande do Sul. Assim, existem várias cidades presentes, de acordo com cada olhar".

Apesar do verão insuportável, prevalece a frieza de Porto Alegre

Ator gaúcho Julio Andrade dá entrevista para a série O cinema e as cidades

Ator gaúcho Julio Andrade dá entrevista para a série O cinema e as cidades


THIAGO GRUNER/DIVULGAÇÃO/JC
Ao lado do parceiro José Maia, Otto Guerra disse que, antes e após o boom da animação no País, poderia ter saído de Porto Alegre, mas considera que a cidade tem um caldo cultural interessantíssimo. 
Além do montador Giba Assis Brasil e de todos os diretores das produções citadas, também participam dando depoimento na série O cinema e as cidades alguns outros integrantes das equipes dos filmes. De gerações diferentes, têm voz as produtoras Nora Goulart, da Casa de Cinema de Porto Alegre; Jéssica Luz e Mariani Ferreira, as diretoras de arte Valéria Verba e Manuela Falcão e a diretora de fotografia Lívia Pasqual. Kiko Ferraz e Thiago Bello falam sobre o som nos títulos. “Eu tentei ter a maior diversidade de funções e gerações na série. Mas de fato são apenas 20 filmes. E como o filme era sempre definidor das escolhas, acabamos por aproveitar profissionais em diferentes funções ou episódios”, comenta Eduardo Wannmacher.
E três atores são eleitos como “representantes que falam pelas suas produções”: Nelson Diniz (Um estrangeiro em Porto Alegre), Julinho Andrade (Quem?) e Gabriela Poester (O corpo). “Entrevistar atores era importante, pois o diálogo sobre cidade e cinema não deveria ser somente pelos integrantes das equipes. E são três grandes atores. Então vale pela obra e, ao mesmo tempo, pela carreira profissional”, destaca o diretor.
Ao contrário da fala de Otto Guerra, Julinho Andrade – que hoje é um dos principais atores do País – comenta na sua entrevista que saiu da capital gaúcha por já ter trabalhado com todo mundo que fazia teatro e cinema aqui, e queria aprender coisas novas com outros profissionais.
Nos filmes selecionados, há uma forte presença do trem da Trensurb nas narrativas, assim como das grades nas portas e janelas dos prédios da Capital, e com menor intensidade o Guaíba, Muro da Mauá, a região do Centro Histórico e bares clássicos, como a Lancheria do Parque e o Bar do João. “Porto Alegre é uma cidade muito presente no cinema local. Então, muitas coisas se repetem ao longo do tempo. Alguns filmes fazem homenagens, outros são sarcásticos e críticos com a própria Capital nos filmes - é o caso do curta Cidade Fantasma do Lisandro Santos. A cidade sempre tem um certo protagonismo, mas acaba recebendo releituras ao longo das décadas. Nos filmes mais recentes, fica claro que Porto Alegre é vista de maneira sombria, um local que abandona e que é abandonado”, avalia Wannmacher.
Na sua entrevista sobre o curta Secundas, Cacá Nazario informa que tem o projeto de uma continuação para a obra: “Queria pegar os personagens e ver como estão agora, porque não terminou, por isso o filme continua atual. Tem um longo tempo de transformação, e eu não vejo Porto Alegre com grandes avanços”.
Tendo no recorte um longa chamado Inverno, é este o clima preponderante no recorte da série. Apesar de a cidade ter verões quase insuportáveis, o calor não é central, porque a sensação de frio também é simbólica para uma cidade retratada como hostil, violenta e opressora.
O diretor dos episódios concorda: “A frieza é um assunto amplo e contamina os temas e as imagens dos filmes. É também um DNA da cidade e da geografia do Sul. O frio acaba reforçando essas sensações dos realizadores, das personagens e, consequentemente, do público. O frio também remete às transformações vistas nos filmes que, com o tempo, ficaram mais preocupados com questões universais, como o drama social, a questão racial e a diversidade de gênero. São temas caros aos diretores e diretoras contemporâneos, que querem repensar o País e o próprio cinema produzido ao longo do tempo”.