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Cultura

- Publicada em 19 de Abril de 2021 às 20:03

Cinema de Patricia Pará Ixapy Ferreira sob a ótica do orvalho

Minha Aldeia, Minha Vida, de Patricia Pará Ixapy Ferreira, foi projetado em pontos da Capital na semana passada

Minha Aldeia, Minha Vida, de Patricia Pará Ixapy Ferreira, foi projetado em pontos da Capital na semana passada


COLETIVO MBYA GUARANI DE CINEMA/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
Traduzindo literalmente, o nome em Guarani de Patrícia Pará Ixapy Ferreira significa "orvalho do mar". "Pará vem da morada do Tupã, que é a divindade da chuva, da água e dos trovões. Na nossa cultura, o nosso modo de ver as coisas depende dos nomes que a gente carrega", explica a cineasta de 35 anos.
Traduzindo literalmente, o nome em Guarani de Patrícia Pará Ixapy Ferreira significa "orvalho do mar". "Pará vem da morada do Tupã, que é a divindade da chuva, da água e dos trovões. Na nossa cultura, o nosso modo de ver as coisas depende dos nomes que a gente carrega", explica a cineasta de 35 anos.
Com uma carreira reconhecida pelo Brasil e mundo afora, ela participa nesta quarta-feira (21) de um bate-papo com Vherá Xunu (dos curtas Perigo na mata e O despertar do divino Sol) no Instagram da Casa de Cultura Mario Quintana (@ccmarioquintana), às 20h.
Neste mês, a instituição promove uma programação voltada à visibilidade dos povos nativos. Patrícia e outros nomes tiveram suas produções expostas na mostra Tela Indígena no projeto Mborayvu: imagens e mensagens indígenas para a cidade, que tem projetado filmes realizados por indígenas em diversos cantos da Capital.
Patrícia trabalha com audiovisual desde meados de 2007, quando ajudou a criar o coletivo Mbyá-Guarani de Cinema, que reúne cineastas que usam a linguagem como expressão artística e política. Ela conta que fundar o coletivo foi extremamente necessário para a construção de produções feitas por indígenas guarani que expusessem a verdadeira realidade de sua cultura.
Morando em São Miguel das Missões, além da renda arrecadada com o turismo e a venda de artesanatos, ela percebeu que a cultura e o modo de vida guarani eram frequentemente temas de produções audiovisuais encabeçadas por pessoas brancas, sob uma perspectiva exterior. "Queríamos trabalhar um pouco a nossa visão de dentro, contar sobre os problemas existentes nas aldeias, nossas preocupações, contar a nossa própria história. Os trabalhos que até então eram feitos pelos não indígenas muitas vezes distorciam um pouco a informação e geravam ainda mais preconceito para as pessoas que assistiam, mesmo com boas intenções. Olhando esses problemas, comecei a trabalhar com isso", explica Patrícia.
Pará Ixapy está sendo homenageada no Amazonas com o Cineclube Patricia Pará Ixapy Ferreira, realizado com recursos da Lei Aldir Blanc. O evento tem temática livre e é voltado para produções de mulheres nortistas, indígenas e LGBTQIA+. "É um sensação muito boa, porque é o resultado de um longo trabalho que aos poucos vai chegando nas pessoas, chegando nos estados em que nunca fui, por exemplo, como o próprio Amazonas", comenta.
Ela também fala sobre a sensação de reconhecimento dentro desse meio, e principalmente da importância em ser homenageada em um edital que priorize mulheres que nem sempre estão no foco dos ambientes tradicionais. "O trabalho que eu venho realizando é justamente para isso, para todas as mulheres, as minorias que estão lutando dia a dia, como nós, como eu. Não é fácil trabalhar com audiovisual e ao mesmo tempo ser reconhecida em outro lado do Brasil. É uma sensação de falar: 'Nossa, tô no caminho certo. Não cheguei ainda, mas tô no caminho'. Ainda precisamos fazer muita coisa, para que as pessoas não indígenas, principalmente, consigam ver o quão importante são as culturas indígenas existentes no Brasil".
Patrícia conta que a pandemia trouxe novas reflexões sobre seu próprio trabalho. Seu entendimento sobre o mundo, sobre suas origens e as mulheres que a antecederam, como sua mãe e sua avó. Além disso, passou a produzir, em separado do coletivo, narrativas sobre o seu próprio corpo e o corpo da mulher como tema central. "É um tempo de reflexão. Na minha visão, isso é algo para todos, que as pessoas possam pensar, refletir mais as suas ações, então tenho feito isso. Tenho pensado para trabalhar isso nos próximos filmes e nos próximos tempos", desabafa.
A temática feminina sempre fora uma questão norteadora em seu trabalho. Ela conta que, no início, o principal questionamento sobre seu trabalho era a respeito da vida das mulheres guarani dentro das aldeias. "Sempre perguntavam isso. Porque não aparecem muito no protagonismo. Isso me deixava muito inquieta, porque quando eu tô na aldeia não sinto essa diferença, de ser mulher e de ser homem", conta. Ela reforça que a voz feminina é muito importante nas reuniões e na tomada de decisões sobre a comunidade: "Parece que as mulheres guarani não aparecem e não tem voz na sociedade, mas não é isso".
A cineasta é cautelosa sobre adiantar possíveis tópicos do encontro promovido pela Casa de Cultura. Para ela, a situação depende muito da inspiração do momento e do dia. Porém, ela se mostra contente com a oportunidade, principalmente por poder debater cinema com outras pessoas também indígenas. "Para todas as pessoas indígenas é importante esse tipo de espaço, porque dá uma visibilidade para seu povo. Principalmente aqui no Rio Grande do Sul, não temos muito espaço para ficarmos conversando. Então, acho que será importantíssimo para as pessoas que vão fazer parte", finaliza.
Já na quinta-feira (22), no mesmo horário (20h), os convidados para o debate online no Instagram da Casa de Cultura Mario Quintana são Gerson Gomes Wherá (do coletivo audiovisual de jovens Mbyá-Guarani Comunicação Kuery) e Pará Reté (do curta Kyringue Rory'i: o sorriso das crianças).
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