Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 07 de Março de 2021 às 19:10

Liderança feminina frente à pandemia de Covid-19 no Rio Grande do Sul

Lucia Pellanda, Caroline Rigotto, Nadine Clausell e Leany Lemos atuam em posições de comando nos setores público e privado

Lucia Pellanda, Caroline Rigotto, Nadine Clausell e Leany Lemos atuam em posições de comando nos setores público e privado


LUCIANO AJ VALÉRIO/DIVULGAÇÃO FEEVALE/CLÓVIS DE SOUZA PRATES/ITAMAR AGUIAR/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
A data 8 de março marca mundialmente um dia de reflexão, lutas e conquistas para o público feminino. Durante uma das maiores crises sanitárias da história, elas estão presentes à frente de pesquisas, hospitais, secretarias governamentais e em diversos outros setores. Neste Dia Internacional da Mulher, o Jornal do Comércio conversou com quatro profissionais que se destacaram em posições de liderança no Estado durante o último ano, em função da pandemia de Covid-19, para entender melhor os desafios por elas enfrentados.
A data 8 de março marca mundialmente um dia de reflexão, lutas e conquistas para o público feminino. Durante uma das maiores crises sanitárias da história, elas estão presentes à frente de pesquisas, hospitais, secretarias governamentais e em diversos outros setores. Neste Dia Internacional da Mulher, o Jornal do Comércio conversou com quatro profissionais que se destacaram em posições de liderança no Estado durante o último ano, em função da pandemia de Covid-19, para entender melhor os desafios por elas enfrentados.
Lucia Pellanda é professora de epidemiologia e metodologia científica da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Ufcspa), onde também exerce a função de reitora. Ela conta que entre as 63 universidades federais brasileiras, apenas 11 são reitoras mulheres, o que para ela já demonstra um "teto de vidro": "Muitas vezes fui a única mulher em uma sala de reuniões ou de representação científica".
A professora acredita que quanto mais espaços as mulheres ocuparem, mais fácil será de desmanchar os estereótipos machistas da sociedade, como a ideia de que meninas não possuam capacidade nas ciências exatas, por mais que recebam estímulos diferentes do que meninos. "De vez em quando, uma aluna vem me contar que se vê como reitora um dia, e acho incrível, pois jamais imaginei isso quando era estudante. As minhas professoras são médicas, gestoras, profissionais de saúde, educadoras, pesquisadoras, cientistas. Todas elas fazem parte da minha história. Nunca me senti limitada em nada por causa delas, nunca duvidei de que poderia fazer o que quisesse por causa delas. Por outro lado, vou sempre me sentir limitada enquanto houver uma menina limitada em seus sonhos por ser mulher", compartilha.
Doutora em Biotecnologia, a bióloga Caroline Rigotto trabalha como docente e pesquisadora do mestrado em Virologia da Feevale. Ela apresenta uma visão mais otimista da situação e acredita que sua área de atuação possua uma boa inserção de trabalhadoras mulheres.
Para a pesquisadora, as novas gerações estão conseguindo quebrar o paradigma de que lugar de mulher não é na ciência: "Minhas referências como orientadoras de iniciação científica, mestrado, doutorado e pós-doutorado sempre foram mulheres, grandes pesquisadoras que me inspiraram a seguir carreira acadêmica". Caroline coordenou um estudo pioneiro no Brasil, projeto da universidade em convênio com o Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS), que detectou a circulação do novo coronavírus em pontos de esgoto da Capital e Região Metropolitana.
Nadine Clausell também é professora e acadêmica. Docente na Ufrgs e médica cardiologista, é formada há 30 anos e atualmente mantém o posto de diretora-presidente do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Na área da Cardiologia, relata que a presença feminina nos cargos de liderança é uma tendência, já que cada vez mais mulheres se formam nos cursos de Medicina: "Já disputamos cargos de comando par a par com os homens. Acredito que todas as questões acadêmicas e de trabalho devam ser debatidas no nível intelectual técnico e científico. Independente de homem ou mulher, precisamos sempre preponderar o conhecimento, a inteligência até emocional para lidar com algumas situações, mas fundamentalmente o aspecto acadêmico tem que ser preponderante".
A diretora conta que nunca sentiu que deveria se esforçar mais em questões acadêmicas ou profissionais por ser mulher, e que não conhece diretamente casos do tipo em seu setor. Porém, acredita que ainda exista preconceito com profissionais do gênero feminino: "Talvez uma ideia de que as mulheres, porque tenham que cuidar dos filhos e da família, não sejam qualificadas o suficiente ou não tenham disposição. Mas isso é uma coisa que vejo que vem caindo na área médica, porque existe uma organização bem diferente nas famílias". Nadine também enxerga uma maior abertura de espaço para atuação feminina em posições de liderança dentro da área médica: "Temos sempre que estimular nossas alunas, nossas residentes, a se qualificar ainda mais. O que abre espaço é competência, estudo, esforço, não se é homem ou mulher, bonito ou feio. É essa a ideia que tento passar para os meus alunos que circulam comigo nesses anos".
Leany Lemos é pós-doutora em Ciência Política e atualmente preside o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), tendo também atuado em 2020 como chefe do Comitê de Análise de Dados do Estado. Há 30 anos no setor público, já passou por inúmeras situações inapropriadas, inclusive ao ser chamada de "princesa" ou "docinho" em reuniões de trabalho. "Outro dia, em Brasília, já atuando no BRDE, aguardava um ministro quando o cerimonial perguntou 'A senhora está acompanhando o presidente?'. Ele tinha meu nome na mão", e acrescenta: "Na minha área de atuação, sempre houve poucas mulheres. Me lembro do recorde - uma reunião com 34 pessoas e eu era a única mulher. Para os homens, isso pode passar desapercebido; para uma mulher, jamais".
Ela também acredita que o peso das duplas e triplas jornadas enfrentadas por mães de família exerçam uma pressão ainda maior nas profissionais femininas. "Também abri mão de cargos de chefia, algumas vezes, porque achava incompatível com ter filhos, ou com filhos pequenos. Depois, como chefe, mais de uma vez insisti com mulheres que rejeitavam um cargo de chefia porque 'tenho um filho adolescente' ou 'estou grávida'. Minha pergunta era se o marido recusaria a promoção porque tem o filho adolescente ou um filho chegando. Acho que é possível e desejável conciliar, mas para isso é preciso mudar uma cultura em que as mulheres precisam escolher se terão família ou trabalho."
Leany é a primeira diretora do BRDE em 60 anos de história e também foi a primeira secretária de Planejamento, tanto no Distrito Federal como no Rio Grande do Sul. Ela lamenta ainda que seja esperado da mulher uma certa masculinização no cumprimento dos papéis de liderança: "Por muito tempo, muito mesmo, não usava maquiagem ou roupas coloridas e estampadas, usava cabelo discreto, não pintava as unhas, pois sabia que chamaria a atenção e meus créditos cairiam. Hoje, gosto de fazer o oposto, para que entendam que somos mulheres com o estilo que quisermos e, sim, podemos tomar decisões e liderar", finaliza.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO