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Cultura

- Publicada em 03 de Fevereiro de 2021 às 19:48

Zeca Pagodinho completa 62 anos sem comemorações e longe dos palcos

Isolado com a esposa no sítio em Xerém, ele afirma: "Nunca imaginei que fosse passar por isso na minha vida"

Isolado com a esposa no sítio em Xerém, ele afirma: "Nunca imaginei que fosse passar por isso na minha vida"


GUTO COSTA/DIVULGAÇÃO/JC
Roberta Requia
Comemorando seus 62 anos nesta quinta-feira, Zeca Pagodinho celebrará o aniversário em casa com alguns de seus filhos. "Esse 'bah' aí eu conheço, hein? Tu é do Sul, né?", dispara Zeca nos primeiros minutos da entrevista concedida por telefone ao Jornal do Comércio na semana passada. "Porto Alegre tá cada vez mais presente na minha vida, mais do que já era. Tô com saudade daí, poder tomar um chimarrão. Faz um pouquinho mais de um ano a última vez que toquei aí", lembra.
Comemorando seus 62 anos nesta quinta-feira, Zeca Pagodinho celebrará o aniversário em casa com alguns de seus filhos. "Esse 'bah' aí eu conheço, hein? Tu é do Sul, né?", dispara Zeca nos primeiros minutos da entrevista concedida por telefone ao Jornal do Comércio na semana passada. "Porto Alegre tá cada vez mais presente na minha vida, mais do que já era. Tô com saudade daí, poder tomar um chimarrão. Faz um pouquinho mais de um ano a última vez que toquei aí", lembra.
Ele não recorda muito bem como fora a comemoração dos 61 em 2020, mas garante que festejou o suficiente no ano anterior: "Ainda bem que na de 60 foi um festão, o bom é que agora dá pra ficar mais de 10 anos sem festa", brinca. Ele se refere-se à celebração com mais de mil convidados e 200 caixas de cerveja, realizada na Cidade do Samba em 2019: "Semana que vem vai ser só os filhos. Não dá pra fazer festa não, minha família é muito grande. Tá todo mundo em casa. Ainda sou quase o caçula, meus irmãos e meus primos são todos mais velhos, então tá todo mundo se cuidando".
Há oito meses, o cantor e a esposa Mônica Silva deixaram o apartamento na Barra, Zona Sul do Rio de Janeiro, e isolaram-se no sítio da família no bairro Xerém, no município de Duque de Caxias. O local possui animais como galinhas, porcos, pavão, cavalos e cachorros, que segundo Zeca mais o incomodam do que ajudam. "Gosto da lida. Sempre gostei de quintal. Moro em Xerém tem 30 anos. Morava na Barra né, mas todo final de semana eu vinha pra cá. Agora já tô só em Xerém. Mas isso aqui sempre foi a minha vida, tudo pra mim. Agora que não posso fazer nada, não posso sair de casa, não posso tocar, não posso tomar minha cerveja num bar, ficou melhor pra mim ficar por aqui", comenta.
O sambista não tem composto durante a quarentena. O período, pra ele, tem sido muito triste e de bloqueio criativo. "Tô com saudade de tudo, de fazer show, dos palcos, dos músicos. Não dá, tá esquisito. Tô esperando essa abençoada vacina. Não imaginei que fosse passar por isso nunca na minha vida", desabafa. "O que mais eu tenho saudade é dos estúdios, de gravar."
Sem novas composições, ele tem comemorado desde o final de 2020 os 25 anos do álbum Samba pras moças, considerado divisor de águas na sua carreira e no próprio samba. O disco, recentemente disponibilizado nas plataformas de streaming, foi relançado com uma nova mixagem de Flávio Senna, engenheiro de som do projeto original, e direção musical de Max Pierre, também diretor artístico da época.
Quando a pandemia chegou, Zeca estava em turnê com seu último disco, Mais feliz, lançado em setembro de 2019. Em dezembro de 2020, chegou a realizar um show da turnê no Teatro Multiplan, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Mas com o público reduzido e todas as medidas de precaução, não foi o suficiente para matar a saudade dos palcos: "Foi dentro de um teatro, as pessoas não podiam dançar. Não foi aquele público grande, que grita, que canta que samba, foi um público mais sentado. As pessoas estão mais cansadas", desabafa.
Para marcar seu aniversário, a Universal está preparando o lançamento, nas plataformas digitais, de vídeos inéditos de um espetáculo feito em 1999, no Canecão, que gerou o disco Zeca Pagodinho Ao Vivo, com vários sucessos do artista, como Vivo isolado no mundo, Seu Balancê e Verdade, além de interpretações pouco exploradas como as dos sambas Feirinha da Pavuna, de Jovelina Pérola Negra, e Sem essa de Malandro Agulha, de Jayme Vignoli e Aldir Blanc. Estes vídeos serão divulgados nos aplicativos durante três meses.
Ele comenta que também não tem mais visto os noticiários na TV: "Antes era a primeira coisa que eu fazia de manhã, agora já tô deixando de assistir", e completa: "Essa doença não tinha que ter vindo pro Brasil. Porque como é que um país como o Brasil, igual ao livro Um país chamado favela (Um país chamado favela: A maior pesquisa já feita sobre a favela brasileira, escrito por Celso Athayde e Renato Meirelles e lançado em 2014), como é que vai ter distanciamento? Roubam tudo, já tão roubando vacina, já tão roubando respirador, pô, isso não podia estar aqui não. Ninguém respeita nada, não dá".
Reclamando constantemente do calor, ele pede uma pausa na entrevista para ir até um dos cômodos com ar-condicionado. "Vou te contar uma coisa: odeio calor. Cara, tá um calor do inferno aqui, o diabo tá de leque." Fazia 37ºC em Xerém na tarde da entrevista.
Um hábito que ele adquiriu durante o isolamento foi o de assistir novelas: as antigas, que passam no canal Viva: "As que eu não tinha visto, agora tô vendo. Acabei Chocolate com pimenta, agora tô vendo A viagem e Mulheres apaixonadas. Cinco horas da tarde, gosto de olhar o programa do Chico Anysio. Tô que nem peixe: só nada. Fico aqui no ar-condicionado, vendo televisão. Ah, odeio calor cara, tá quente pra raio".
Sem shows e longe dos estúdios, Zeca aproveita o marasmo de sua casa e da lida com os animais. "O quintal é grande, então não enjoo. O que faço às vezes é pegar a minha filha e sair pra tomar café numa padaria lá no início de Xerém. A padaria é vazia na hora que vou, minha filha toma um suco, a gente volta. Mas de máscara. Às vezes, a gente demora mais, mas é só pra isso que eu tô saindo de casa."
Zeca aguarda a chegada da vacina, afirmando que tomará quantas forem necessárias para se ver livre da doença. "Já disse que vou tomar uma em cada braço!", brinca, mais uma vez. Para ele, somente a vacina pode trazer uma normalidade na vida novamente.
A pandemia e o isolamento afetaram suas composições: "Não tem nem assunto pra compor. Ainda tô muito triste com isso." Com a sabedoria e a paciência de quem deixa a vida lhe levar, ele aguarda mudanças: "Muita coisa tem que mudar, se não vai morrer todo mundo. Ou morre de tristeza ou morre de doença".
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