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cinema

- Publicada em 16 de Janeiro de 2021 às 19:38

Documentário mostra como Enem atravessa as vidas dos adolescentes

'Atravessa a vida', de João Jardim, acompanha estudantes do 3º ano que se preparam para o exame

'Atravessa a vida', de João Jardim, acompanha estudantes do 3º ano que se preparam para o exame


COPACABANA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Na semana marcada pelo receio de contaminação nos locais de prova e as incertezas sobre a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - que deve ocorrer neste domingo (17), estreou nos cinemas do País mais um impactante documentário do cineasta brasileiro João Jardim (o mesmo de Janela da alma, Pro Dia nascer feliz, Amor?, Lixo extraordinário e Getúlio). As filmagens de Atravessa a vida - em cartaz em Porto Alegre somente na sala 8 do Espaço Itaú de Cinema, nas sessões das 19h40min e 21h20min - acompanham o cotidiano de uma turma do 3º ano, no interior do Sergipe, preparando-se para os testes que dão a nota para o ingresso na universidade.
Na semana marcada pelo receio de contaminação nos locais de prova e as incertezas sobre a aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) - que deve ocorrer neste domingo (17), estreou nos cinemas do País mais um impactante documentário do cineasta brasileiro João Jardim (o mesmo de Janela da alma, Pro Dia nascer feliz, Amor?, Lixo extraordinário e Getúlio). As filmagens de Atravessa a vida - em cartaz em Porto Alegre somente na sala 8 do Espaço Itaú de Cinema, nas sessões das 19h40min e 21h20min - acompanham o cotidiano de uma turma do 3º ano, no interior do Sergipe, preparando-se para os testes que dão a nota para o ingresso na universidade.
O título teve sua estreia mundial no 25º Festival É Tudo Verdade. A obra conquistou diversos prêmios, incluindo Melhor Documentário na Mostra de São Paulo. A trajetória de Jardim é marcada pela forma diferenciada com que se debruça sobre temas sociais importantes do contexto nacional.
O longa deve ser exibido na televisão sem demora, já que é uma produção da Copacabana Filmes e Fogo Azul Filmes com Globo Filmes, GloboNews e Canal Curta!. Trata-se de uma obra documental que interessa o público de TV, uma vez que é um recorte regional (Simão Dias, cidade sergipana de 40 mil habitantes), histórico e político (produzida em meio ao período eleitoral de 2018). Aqueles jovens estão em um momento-chave da vida, em que olham para si e tentam se reconhecer, enxergando seu lugar no mundo, no País, na família. 
O documentário mergulha no universo escolar e adolescente dos alunos do Centro de Excelência Dr. Milton Dortas, escola com cerca de mil estudantes. É possível entender a aplicação de uma fórmula matemática com o barulho de uma furadeira na cabeça? Ou perceber sua posição sobre repressão, aborto e pena de morte quando andaimes estão montados nas paredes das salas de aula.
O ambiente de reforma no colégio também deixa a diretora estressada, mas não limita sua capacidade sensível de entender que aqueles alunos passam por um delicado período de suas trajetórias, e talvez só possam encontrar o apoio e estímulo que não recebem em casa nos seus educadores. Para eles, a formatura no 3º ano é um fim de ciclo, um portal para a vida adulta. E suas opiniões expressão a cruz ou espada que o Enem representa sobre as suas cabeças, se não passarem nos cursos escolhidos, aquilo lhe trará a pecha de fracassados. E ainda há outra questão anterior a se vencer: qual são as opções corretas de acordo com os seus perfis, sendo que suas personalidades ainda estão em formação?

Me explica a grande fúria do mundo

Diretor mergulha no universo do 3º ano de uma escola no interior do Sergipe

Diretor mergulha no universo do 3º ano de uma escola no interior do Sergipe


COPACABANA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Impressiona a delicadeza e sensibilidade com que João Jardim conduz as gravações nas salas de aula, conferindo um ambiente nada hostil para a entrada da câmera. De um grande grupo de estudantes, somente um deles se mostra desconfortável com ela, tentando sair do quadro.
Por mais que sejam somente três alunos que falam diretamente com o diretor, para a câmera, em formato de entrevista, o documentário Atravessa a vida não elege protagonistas. O filme não "atravessa" e interfere nos caminhos dos jovens, ele consegue entrar no trajeto deles e trilhar junto, de forma que a intimidade da equipe audiovisual com o pessoal da escola parece ser uma crescente com o andar das filmagens.
A bela trilha do longa é assinada por Dado Villa-Lobos. Irônica ou propositalmente - só consultando a produção para concluir -, uma letra da canção Pais e filhos, da banda Legião Urbana, é trabalhada em aula. Os alunos opinam sobre os significados dos versos, a sugestão de suicídio, o relacionamento difícil dos adolescentes com os pais. Mas "nada é fácil de entender". Os professores tentam mostrar a fúria do mundo aos seus pupilos, prepará-los para o que eles advertem que não será fácil. "O que você vai ser/ Quando você crescer?"

Papel das famílias

Jovens contam suas histórias particulares e seus anseios para o futuro

Jovens contam suas histórias particulares e seus anseios para o futuro


COPACABANA FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
A questão das classes sociais, a necessidade do trabalho, de não ter dinheiro para pagar uma faculdade e o papel familiar na base de formação de um estudante permeiam a narrativa do documentário Atravessa a vida, de João Jardim. 
"Você culpa seus pais por tudo/ E isso é absurdo." No contexto dos jovens dessa escola de Sergipe, o versão da canção da banda Legião Urbana talvez não seja. "Eu moro com a minha mãe/ Mas meu pai vem me visitar", dizem os compositores em outro momento da música. No caso dos três entrevistados do filme, o pai não está mais presente. 
E é quando o assunto familiar vem à tona que o choro ganha intensidade, nas lágrimas que correm pelo rosto das meninas e da diretora, e não rapidamente, enxugadas, ou na garganta seca que o garoto que aperta as mãos tenta segurar. 
Outros participantes do longa deixam transparecer a grande pressão da família, o dilema e a angústia de talvez não corresponder à expectativa dos pais. Quem já passou por isso, se identifica. Quem só viu episódios conhecidos e se impressionou com os sentimentos em ebulição, compreende melhor. E para quem ainda não chegou nessa fase, essa produção audiovisual pode preparar para a complicada etapa. 
O trabalho de Jardim é mais uma grande contribuição para a cinematografia do País. Adolescentes se percebendo atores políticos, as aulas sobre História, Filosofia e Sociologia muito interessantes na sua reprodução. Para o diretor, a escola tem partido.