Nesta quinta-feira (12), os fãs do músico uruguaio Daniel Drexler poderão conferir nas plataformas de streaming seu mais novo álbum, Aire. Antes da pandemia, o disco estava com o lançamento previsto para o dia 9 de maio, com uma turnê que passaria por Brasil, Uruguai, Argentina e México.
Após repensar e planejar uma nova estratégia, Drexler se prepara agora para o show de estreia com público presencial em Montevidéu no dia 27 de novembro, às 21h. O espetáculo também será transmitido para aqueles que adquirirem ingressos (disponíveis neste
link). O show promete romper a "quarta parede", e levar interação direta para público que estará em casa.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, Daniel Drexler falou sobre a expectativa de lançamento deste trabalho: "É como se fosse a primeira vez que eu fosse me apresentar ao vivo na minha vida. Eu nunca fiquei tanto tempo longe dos palcos, sem o contato olho a olho com o público."
Mesmo que planejado em um momento distante da pandemia do novo coronavírus, em 2019, Aire possui peculiaridades que aproximam seus ouvintes dos momentos introspectivos. Segundo Drexler, ele diferencia-se de seus trabalhos anteriores por ser um disco minimalista, que busca respeitar o espaço de cada um dos elementos presentes. Ele revela que, desde o início da produção, a proposta era não utilizar mais elementos do que as quatro vozes presentes, incluindo ele próprio e as de Analía Parada, Camila Ferrari e Fede Wolf, além do violão e das percussões.
O resultado foi um disco intimista que aproxima o ouvinte através da voz. "Para mim, a voz é o principal instrumento que tem a capacidade de transmitir emoção e empatia. A intenção nesse trabalho é que a voz estivesse livre e com muito espaço no ar para transmitir a emoção de cada uma das músicas que integram Aire", e completa: "É um disco que está muito centrado na voz. As vezes pensávamos que seria bom colocar instrumentos de cordas ou de sopro, mas nos olhávamos no estúdio e respeitávamos as regras que criamos para o projeto. O resultado final é um disco que tem muito espaço, tem muito ar, tem muito aire".
Por conta de todo esse intimismo transmitido através da suavidade das palavras, o álbum dialoga com o momento atual. Segundo Drexler, com a necessidade de conexão com o lado mais humano de cada um. "Neste disco, a minha intenção foi que fosse muito centrado na parte humana das músicas, por isso essa ênfase nas vozes. Eu acho que tem um diálogo muito forte com o que está acontecendo no mundo, mas isso não foi uma intenção, foi uma casualidade que aconteceu", comenta o músico.
Ao mesmo tempo que planejava o lançamento e a turnê de Aire, Drexler também aproveitou o momento para compor. "Se você coloca um músico dentro de um estúdio, com um violão no colo e caderno com folhas em branco na frente, ele vai começar a escrever músicas. Isso aconteceu comigo. No ano passado, saí do Uruguai 34 vezes. Fiz muitas turnês pelo México, Espanha, Tel Aviv, Brasil e Argentina, um ano de muito trabalho. Precisava parar um pouco, ter tempo de ficar em casa para cuidar do quintal, ler, ver filmes."
Ele conta que os primeiros meses da pandemia foram como um retiro espiritual, uma viagem de introspecção em que escreveu quase um disco inteiro, primeiros elementos que cria depois de Aire. "A vida de músico é muito estranha, tem a parte extrovertida de turnê, de viagem, de muita vida social em diferentes cidades, aquela correria louca que agora estou com tanta saudade e ao mesmo tempo tem essa outra parte que é um trabalho muito solitário da composição. Acho que os músicos sabem muito ficar sozinhos", contou.
Retomando a rotina de divulgação do novo álbum, Drexler reflete sobre o momento e sobre as marcas que o distanciamento deixou em sua música: "Foi um período particularmente bom porque tive tempo para pensar, escrever, compor e ler. Mas, ao mesmo tempo, isso me ensinou a valorizar a vida que eu tinha antes da pandemia. Meu último aniversário foi em janeiro, e eu tive uma festa com quase 400 pessoas de 9 países diferentes em um espaço muito pequeno e agora eu penso nisso e parece um sonho". O uruguaio finaliza: "Quando tudo isso terminar, quando recuperarmos a vida, uma das coisas que vamos aprender a valorizar é a importância do abraço, de abraçar os pais, os amigos, os avós".