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FESTIVAL DE GRAMADO

- Publicada em 26 de Setembro de 2020 às 07:30

Escritora gaúcha é autora de narração em longa pernambucano concorrente ao Kikito

Equipe de 'King Kong en Asunción' (PE), de Camilo Cavalcante, debateu filme em live do festival

Equipe de 'King Kong en Asunción' (PE), de Camilo Cavalcante, debateu filme em live do festival


FESTIVAL DE GRAMADO/DIVULGAÇÃO/JC
Apesar de ser uma coprodução com Paraguai, ser filmado naquele país e também na Bolívia e quase não ter diálogos em português, King Kong en Asunción concorreu na mostra de longas brasileiros no 48º Festival de Cinema de Gramado, sendo considerado um título pernambucano.
Apesar de ser uma coprodução com Paraguai, ser filmado naquele país e também na Bolívia e quase não ter diálogos em português, King Kong en Asunción concorreu na mostra de longas brasileiros no 48º Festival de Cinema de Gramado, sendo considerado um título pernambucano.
O diretor da obra é Camilo Cavalcante, nascido em Recife. E, em debate com transmissão ao vivo nesta sexta-feira (25), ele falou que a participação da autora gaúcha Natalia Borges Polesso no projeto foi fundamental.
No enredo, um velho matador de aluguel (Andrade Júnior) comete o seu último assassinato na região desértica de Salar de Uyuni e se esconde no interior da Bolívia. Após meses isolado, ele viaja para o interior do Paraguai, onde recebe uma boa recompensa e segue para Asunción com o objetivo de conhecer sua filha, concebida há mais de 40 anos, quando ele fugiu do Brasil para o país vizinho após ter matado um homem importante.
O filme tem na equipe profissionais de cinco países latino-americanos: colombianos, paraguaios, argentinos, bolivianos e brasileiros. O roteiro previa inicialmente uma narração em off do próprio personagem (que o diretor concluiu depois que não acrescentaria em nada), e acabou sendo narrado em guarani pela atriz paraguaia Ana Ivanova (de As herdeiras).
É este texto poético, representando a voz da Morte, que é assinado por Natalia Borges Polesso. Cavalcante leu coisas dela e a convidou para participar. “Precisávamos de um escritor, pois a camada literária tem força, relevância, para somar com a camada audiovisual. As subtramas já existiam, Natalia entrou para escrever essa camada poética da voz da Morte, que é sarcástica, antecipa o futuro dos personagens”, conta o diretor.
Natalia escreveu em português e, depois, o texto foi adaptado para o guarani pela atriz e poeta paraguaia Lilian Sosa. “Foi uma adaptação delicada e complexa, pois certas palavras não tinham tradução em guarani”, garante o pernambucano. “A voz é um elemento tão poderoso, que acrescentava tanto, que revisamos toda a montagem, precisávamos equalizar poesia, imagem e som para encontrar equilíbrio que soasse como fábula para adultos. O guarani é o povo massacrado ao longo dos séculos. A intenção era empoderar essa voz tão massacrada; no filme, ela é protagonista. E, no Paraguai, o guarani é língua oficial, é ensinada nas escolas. Se a língua do Diabo é o húngaro, talvez a da Morte seja o guarani.”

Passado colonial, herança indígena, luta, pandemia, política e morte

Natalia Borges Polesso escreveu texto poético que amarra narrativa da fábula audiovisual

Natalia Borges Polesso escreveu texto poético que amarra narrativa da fábula audiovisual


LIVIA PASQUAL/DIVULGAÇÃO/JC
A percepções do realizador realmente parecem conversar com a obra da escritora gaúcha. Natalia, que também é pesquisadora e tradutora, é autora de Recortes para álbum de fotografia sem gente, Coração à corda, Pé atrás, Amora (Prêmio Jabuti 2016), Controle e o mais recente, Corpos secos: um romance (Alfaguara, 192 páginas, R$ 44,90 - e-book R$ 29,90), uma ficção científica escrita com Luisa Geisler, Marcelo Ferroni e Samir Machado de Machado. Lançada em março de 2020, a publicação retrata a luta por sobrevivência em um Brasil pós-apocalíptico, repleto de zumbis e assolado por uma doença fatal.
A narrativa distópica tem como pano de fundo uma pandemia e dialoga com o momento atual do País. Para a coluna Um certo alguém, do site do Itaú Cultural, em junho, a escritora afirmou: “Eu quero que as pessoas se eduquem sobre racismo e colonialidade, leiam cada vez mais autoras negras e indígenas. Quero que as lutas sejam intimamente compreendidas e se tornem um compromisso diário. Estamos em um presente de negligências genocidas, de violências reais e simbólicas muito evidenciadas e legitimadas por vozes políticas. Não há novidade da institucionalização da necropolítica, mas o levante tem tomado força”.
Sobre a experiência de ter a estreia de King Kong en Asunción na TV (Canal Brasil) em um momento de pandemia, a produtora-executiva Carol Vergolino, em live do Festival de Gramado, falou: “Toda a solidariedade a essas famílias dos quase 140 mil mortos. Mortos que esse governo de morte fez com que fossem mais do que as esperadas. O cinema também é a interação de corpos. A classe artística foi a primeira a parar e será a última a voltar. Mas este também é um momento de ver outras possibilidades, há também de se esperançar, ver o que há de saldo positivo e promover o festival é um ato de resistência. Saldo de poder ser visto na TV por muito mais gente, mas chegar a isso em cima de muitos corpos é muito triste”.