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Cultura

- Publicada em 11 de Agosto de 2020 às 21:15

Cotidiano de mulheres fronteiriças é tema do documentário 'Pasajeras'

Pasajeras traz um olhar observacional do cotidiano de trabalho e convivência familiar de quatro cases

Pasajeras traz um olhar observacional do cotidiano de trabalho e convivência familiar de quatro cases


LUCIANA BASEGGIO/DIVULGAÇÃO/JC
Com o tema da fronteira atravessando todo o seu processo formativo desde a graduação em Jornalismo na UFSM, a realizadora gaúcha Fran Rebelatto - hoje docente da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu - está em fase de pós-produção do seu primeiro longa-metragem como diretora e roteirista. Apesar de ser um documentário, Pasajeras, que tem lançamento previsto para dezembro, foi roteirizado e filmado como uma ficção.
Com o tema da fronteira atravessando todo o seu processo formativo desde a graduação em Jornalismo na UFSM, a realizadora gaúcha Fran Rebelatto - hoje docente da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), em Foz do Iguaçu - está em fase de pós-produção do seu primeiro longa-metragem como diretora e roteirista. Apesar de ser um documentário, Pasajeras, que tem lançamento previsto para dezembro, foi roteirizado e filmado como uma ficção.
A obra é "sobre a vida de quatro mulheres trabalhadoras da fronteira - que são as personagens centrais -, mas também de outras mulheres trabalhadoras no entorno delas. Partimos da história de Soledad, que é paraguaia, bailarina, professora de dança e 'pasera'. O filme vai tratar destas várias camadas e papéis assumidos pelas mulheres nas suas relações inter-geracionais, na relação entre mães e filhas. Também serão personagens centrais a indígena maká Susy, a comerciante paraguaia Felicia e a pasera/comercinante brasileira Maria", explica Fran, que, durante o processo, escreveu um breve livro de poesia a ser lançado, Fronteriza.
Sobre o título do documentário, a diretora destaca que ele deriva do encontro entre a atribuição que se dá às mulheres que transportam mercadoria, ou seja, 'paseras', e a ideia de passagens-cruzamentos, por isso Pasajeras: "Sem tradução para o português, pois a ideia é assumir mesmo a escrita, a grafia e o sentido em portunhol. Diria que o nome foi uma das primeiras coisas a nascer no filme, logo de imediato, no início do projeto, ele surgiu e se consolidou... Nunca mais deixou de ser Pasajeras". O documentário mostrará a fronteira e as rotinas dessas mulheres por meio de três dispositivos cinematográficos: um olhar observacional sobre o cotidiano delas com a encenação de situações de trabalho e na convivência familiar; a narrativa de lendas da região que estão baseadas nas histórias de duas mulheres indígenas (Jupira e Naipi, que levam a um olhar sobre a paisagem da fronteira); e ainda um espaço afetivo no qual as mulheres relataram suas histórias num olhar íntimo à câmera.
O projeto participou de vários laboratórios de desenvolvimento de filmes. "Entre eles, o Ibermedia no Peru, que foi uma instância fundamental para troca de referências, especialmente por que contei com o olhar e a 'assessoria' do cineasta colombiano Luis Ospina (que infelizmente faleceu no ano passado), com uma trajetória particular e intensa no documentário latino-americano. Participar do laboratório do Ibermedia é uma chancela importante para a vida e caminhada do filme", garante a diretora.
A proposta também passou pelo GenderLab no Festival de Direitos Humanos no México, em laboratório de pitching e Mercado Audiovisual do Festival de Cinema de Brasília e laboratório do Festival de Vídeodanza de Buenos Aires - neste último, recebeu o prêmio de legendagem. Segundo Fran, "todos esses espaços são fundamentais para que o filme vá crescendo, para que possas ir te confrontando com outras percepções sobre as diferentes formas de narrar, de contar a história. Ao mesmo tempo, são espaços nos quais conhecemos realizadores de vários países, projetos, suas ideias, e, de forma generosa e coletiva, podemos ir construindo os filmes juntos/as". A produção ainda foi contemplada com o apoio financeiro do Edital Rumos Itaú Cultural em 2018-2020.
Outro aspecto a ser destacado na trajetória de Pasajeras é que se os rostos femininos são o foco na tela, por trás das câmeras também há muito esforço colaborativo de profissionais do gênero feminino. Fran reconhece que queria muito viver a experiência de ter uma equipe majoritariamente de mulheres realizadoras, especialmente trabalhar com as colegas docentes e com estudantes mulheres da Unila. "Penso que a práxis cinematográfica, ou seja, a relação entre um pensamento sobre o cinema e sua realização tem um lugar privilegiado de encontro no set de filmagem e na sala de montagem. Então, foi muito importante essa vivência de nos deslocarmos da sala de aula, das nossas pesquisas acadêmicas, para comungar de um espaço de realização cinematográfica, estabelecendo, assim, vínculos ainda mais profundos entre nós professoras/realizadoras." Ela ressalta que as colegas professoras são profissionais com longa trajetória na realização: "Virginia Osório Flores, montadora do filme, tem uma trajetória com mais de 100 longas. Tainá Xavier é diretora de arte com produção em Cinema e Televisão, bem como Kira Pereira, que fez a captação de som, já trabalhou muito nesta função no cinema, especialmente em documentários".
Também participaram do projeto mulheres profissionais do cinema e do audiovisual de outras partes do Brasil, que a diretora foi conhecendo neste percurso: "O filme é produzido, por exemplo, pela produtora porto-alegrense Vulcana Cinema e tem como produtora-executiva Jéssica Luz - uma produtora porto-alegrense muito generosa e que abraçou o filme e a fronteira nesta empreitada. Ainda contou com a direção de fotografia de Luciana Baseggio do Coletivo DAFB (Diretoras de Fotografias Brasileiras) e com a produção de Nay Araújo, brasileira que vive em Portugal".
Fran diz que se desafiou a ter uma equipe de mulheres no set por que, na sua trajetória, sempre trabalhou em sets em que a maioria das pessoas eram homens, especialmente, nos papéis de 'cabeças de equipe': "Ainda mais na minha área, que é a direção de fotografia. Então, considerei importante tensionar esta forma histórica de se fazer cinema e realocar esses papéis, agora, em mãos/ideias de mulheres, especialmente em um filme no qual contamos histórias de mulheres trabalhadoras. Acredito que isso proporcionou uma empatia e confiança maior por parte das personagens ao estarem em um ambiente de filmagem entre outras mulheres. Este encontro entre mulheres trabalhadoras do cinema e mulheres trabalhadoras da fronteira se deu de uma forma muito generosa e bonita".
Membro do Fórum Entre Fronteiras, a pesquisadora segue o seu tema norteador também em seu estudo de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual na Universidade Federal Fluminense (UFF). No momento, ela se dedica à escrita da tese A fronteira territorial Sul da América Latina frente às câmeras: representação da paisagem transnacional no cinema.
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