Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

literatura

- Publicada em 15 de Junho de 2020 às 20:25

João Uchôa lança nesta terça-feira o livro 'P.A. 11 - Arquitetura, arte e ralação'

Arquiteto é responsável pelos principais palcos do Rock in Rio e pela Cidade do Samba

Arquiteto é responsável pelos principais palcos do Rock in Rio e pela Cidade do Samba


SIMONE KONTRALUZ/DIVULGAÇÃO/JC
Projeto de Arquitetura (P.A.) é uma disciplina do curso universitário de 10 períodos no qual se conclui a formação de arquiteto. Assim, 11 seria o número correspondente ao período posterior à graduação - um período de amplo aprendizado, já que dura a vida toda.
Projeto de Arquitetura (P.A.) é uma disciplina do curso universitário de 10 períodos no qual se conclui a formação de arquiteto. Assim, 11 seria o número correspondente ao período posterior à graduação - um período de amplo aprendizado, já que dura a vida toda.
Pode-se dizer que esse conceito sintetiza a proposta de P.A. 11 - Arquitetura, arte e ralação (Vermelho Marinho, 229 págs., R$ 20,00), livro que o conceituado arquiteto João Uchôa está lançando nesta terça-feira (16), em e-book, pela Amazon, e, futuramente, em versão impressa. A publicação é repleta de dicas para quem tem interesse em seguir carreira na área, mas a escrita passa longe da linguagem técnica que poderia se supor presente em uma obra sobre arquitetura. "Não é um livro de mesa para ver figurinha. Apresento conteúdo prático e histórias reais que considero fundamentais para a formação de um profissional do mercado", diz o autor.
Há capítulos mais direcionados a quem tem (ou pretende ter) conhecimentos específicos, mas, em geral, é um livro leve, com relatos que despertam a curiosidade de qualquer um. E não é para menos: entre as inúmeras obras assinadas por Uchôa e sua empresa, a Ciclo Arquitetura, estão os principais palcos do Rock in Rio e a Cidade do Samba. As experiências do arquiteto, que começaram na infância (aos nove anos, fez uma exposição com 45 telas pintadas a óleo) e incluem trabalhos em comunicação, design de moda e outras áreas, são tantas que ele já planeja um novo volume de P.A. 11, que "está avançado e terá uma função mais ligada à produção da arquitetura propriamente dita". Em entrevista ao Jornal do Comércio, Uchôa fala sobre o livro e sobre sua carreira.
Panorama - Como surgiu a ideia de colocar no papel suas experiências na arquitetura. Faz muito tempo que começou a escrever o livro?
João Uchôa - Comecei a escrever o livro há 15 anos. Gostava de escrever principalmente no ônibus, nas viagens de visita a obras. Nunca vou de carro. As cinco, seis ou sete horas a bordo do ônibus tornam-se muito produtivas. Nessas viagens surgiu a ideia de escrever um livro. Nunca quis fazer um livro de mesa apenas para apresentar projetos concluídos. Gosto de conteúdo e assim pensei em escrever para os jovens arquitetos, designers, engenheiros ou mesmo interessados no mercado de entretenimento, onde atuamos também.
Panorama - Você já teve incursões por áreas distintas, como artes plásticas, design de moda e comunicação, reforçando o quanto isso é importante para seu trabalho como arquiteto. Foi muito difícil optar por uma área apenas?
Uchôa - Comecei a desenhar aos cinco anos de idade, por vontade própria, e continuo desenhando até hoje. Quando me envolvi com o teatro, com a moda, com a televisão e o rádio, fui movido apenas pela vontade e pela oportunidade de experimentar. Nunca por um sonho profissional. Apenas pela curiosidade e pela possibilidade de experimentar segmentos diversos da arte e da comunicação. Em determinado momento da minha vida, operava em três ou quatro destes segmentos simultaneamente. Optar pela arquitetura não foi uma escolha difícil. O difícil foi optar por abandonar outras experiências. Mas nos mercados onde fui me infiltrando, estava sempre aberto às possibilidades da multimídia e da comunicação. Foi mais fácil lidar e ofertar produto para áreas diversas, como hotelaria, educação, show business, exposições, Carnaval, esporte, restaurantes, casas noturnas, parques e muitas outras.

Palco Folha, na Amazônia, recebeu Plácido Domingo e Ivete Sangalo

Palco Folha, na Amazônia, recebeu Plácido Domingo e Ivete Sangalo


ACERVO JOÃO UCHÔA/DIVULGAÇÃO/JC
Panorama - Você trabalhou em grandes projetos arquitetônicos. Tem algum deles que poderia dizer: “esse é o meu favorito, a minha obra-prima”?
Uchôa - Tenho, mas não apenas na área da arquitetura. A TV Búzios e a Rádio Búzios FM foram duas experiências que transformaram minha percepção de produto e comunicação. O palco Folha, na Amazônia, que recebeu Plácido Domingo e Ivete Sangalo em 2016, e algumas peças do Rock in Rio, como os palcos Mundo, Sunset, Eletrônica e Favela, também são destaque. Os restaurantes Guapo Loco, Cozumel e Zapata e o novo Bar do Zeca Pagodinho fazem parte de um bom momento dessa história. A Cidade do Samba foi um trabalho muito rico em relacionamentos. O CT do Flamengo e o novo BioParque do Rio também são peças que nos enchem de orgulho.
Panorama - Quais os impactos que a arquitetura sofrerá em decorrência da pandemia de coronavírus? Os ambientes de grandes shows e festivais, por exemplo: mesmo com todas as precauções possíveis, não será necessário repensá-los de alguma forma?
Uchôa - O mundo já passou por pandemias muito piores e que mataram milhões de pessoas. No que se refere ao retorno dos eventos, como shows ou Carnaval, acho que voltaremos 100% à normalidade. De positivo, sem dúvida nenhuma, o distanciamento nos possibilitou experimentar o enorme potencial das redes de comunicação individual, o trabalho remoto e a possibilidade de nos livrarmos de deslocamentos, carros e de percorrer distâncias para chegar aos encontros. Espero que a vida remota possa nos trazer mais conforto operacional e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida.
Panorama - Você diz que a arquitetura autoral precisa de criatividade, ousadia e respeito ao meio ambiente. Temos no País exemplos que são justamente o contrário, seguindo tendências de mercado e arranjando formas de burlar a legislação ambiental. Como avançar em relação a isso?
Uchôa - Nos países em desenvolvimento, como o Brasil, o impacto de algumas atitudes primitivas do ser humano certamente é mais forte. Existe um tempo de aprimoramento das nossas estruturas de formação e tempo de amadurecimento da espécie. O primeiro, podemos prover com a nossa capacidade criativa e produtiva. O segundo, somente com o tempo. Sempre digo que na Idade Média era pior. Estamos evoluindo. Para avançar só existe uma única ferramenta, que é a educação. Ela nos dá a oportunidade de aprimorar os nossos potenciais e nos tornarmos pessoas melhores. Todo mundo vai ganhar, inclusive o meio ambiente.

BioParque, um centro de conservação da biodiversidade no Rio de Janeiro

BioParque, um centro de conservação da biodiversidade no Rio de Janeiro


ACERVO JOÃO UCHÔA/DIVULGAÇÃO/JC
Panorama - Ainda sobre a questão ambiental... Você fala sobre a importância dos profissionais conscientes, que não basta apenas serem bons técnicos. Em um mundo que prega cada vez maior o tecnicismo, de onde deve partir essa mudança de cultura? Do governo? Das instituições educacionais? Da própria sociedade?
Uchôa - Deve partir de todos. Acho que as redes sociais e os smartphones colocaram o quinto poder em nossas mãos. Nunca a sociedade teve uma oportunidade tão democrática e envolvente como a comunicação que operamos hoje. Nunca experimentamos nada parecido. Hoje é a sociedade que começa a falar livremente e a ser cobrada por suas próprias atitudes. Não podemos depender dos governos para nos prover de tudo. Governos precisam fazer o que é importante para garantir nossa qualidade de vida, o que inclui prover educação, saúde e habitação para quem precisa. O restante, deixa para a iniciativa privada e para o próprio cidadão resolverem. Mas volto a afirmar que somente a educação pode alavancar um povo e, infelizmente, nenhum governante atual ou nos últimos 20 anos levantou essa bandeira como deveria.
Panorama - O trabalho de divulgação/promoção de P.A. 11, em formato digital, foi adotado em função da pandemia. Há uma previsão de lançamento no formato impresso?
Uchôa - O livro impresso está em processo de finalização e seguirá para a gráfica em 10 a 15 dias (esta entrevista foi feita há pouco menos de uma semana). Acredito que em meados de agosto teremos o impresso produzido com excelente qualidade. Com a quarentena, optamos por alterar nossos objetivos e focar nas plataformas digitais. Particularmente, tem sido uma experiência incrível descobrir ainda mais sobre o potencial das redes. Certamente temos questões e cuidados a tratar no que se refere ao uso das redes, mas sem dúvida nenhuma elas podem nos auxiliar na busca de soluções que facilitem o nosso dia a dia.
Panorama – No livro, você deixa claro que vai lançar um novo volume de P.A. 11. Ele já está escrito? Que pontos pretende abordar nessa segunda parte?
Uchôa - O segundo volume está avançado e terá uma função mais ligada à produção da arquitetura propriamente dita. Projetos e obras serão tratados com mais detalhes, mas sempre buscando passar dicas relativas à atividade profissional, ao relacionamento, à formação e às melhores atitudes para oferecer um serviço de excelência como técnicos, profissionais e cidadãos.