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Literatura

- Publicada em 27 de Abril de 2020 às 18:27

Eric Nepomuceno, em isolamento social, lança série 'Leituras na quarentena' na internet

Em quarentena com a família há mais de um mês, autor lança programa nas mídias sociais a partir desta segunda-feira (27)

Em quarentena com a família há mais de um mês, autor lança programa nas mídias sociais a partir desta segunda-feira (27)


NEPOMUCENO FILMES/DIVULGAÇÃO/JC
Após mais de um mês em isolamento social com a família devido à pandemia do Covid-19, Eric Nepomuceno estreia, a partir desta segunda-feira (27), um combo de conteúdo inédito na internet, composto por duas séries e um curta-metragem produzidos de forma totalmente independente ao longo de abril. Filmados com celular - por seu filho Felipe Nepomuceno, premiado diretor, da produtora Nepomuceno Filmes - e editados em laptop, as séries Leituras na quarentena, Dias e noites de amor e de guerra e o curta-metragem Cinco anos de solidão foram feitos na serra de Petrópolis (RJ).
Após mais de um mês em isolamento social com a família devido à pandemia do Covid-19, Eric Nepomuceno estreia, a partir desta segunda-feira (27), um combo de conteúdo inédito na internet, composto por duas séries e um curta-metragem produzidos de forma totalmente independente ao longo de abril. Filmados com celular - por seu filho Felipe Nepomuceno, premiado diretor, da produtora Nepomuceno Filmes - e editados em laptop, as séries Leituras na quarentena, Dias e noites de amor e de guerra e o curta-metragem Cinco anos de solidão foram feitos na serra de Petrópolis (RJ).
Leituras na quarentena (de segunda a sexta-feira, entrando no ar às 11h) é uma série de 40 programas de aproximadamente dois minutos cada, com sugestões de livros, autoras e autores, para ajudar a enfrentar a solidão e o isolamento. Apresentada pelo escritor e tradutor Eric Nepomuceno, que entre uma e outra dica de leitura revela histórias de amigos como Gabriel García Márquez, Cristovão Tezza, Juan Rulfo e Fernando Morais, além de memórias pessoais relacionadas a livros como O apanhador no campo de centeio, de J.D. Salinger; Antes do baile verde, de Lygia Fagundes Telles; O quarto de Giovanni, de James Baldwin, e personagens como Mafalda e Tom Sawyer.
Dias e noites de amor e de guerra (sábados e domingos, a partir de 2 de maio) é um conjunto de 16 programas de aproximadamente três minutos cada, com leituras da obra de Eduardo Galeano, no ano em que o escritor uruguaio completaria 80 anos, realizadas pelo seu amigo e tradutor, Eric Nepomuceno.
Já o curta Cinco anos de solidão (que estreia na quinta-feira, 30) retrata um casal em isolamento em uma cidade no interior do Rio de Janeiro, rodeado de árvores e livros, lidando com memórias e ausências, durante a quarentena de abril. O filme é uma carta de amor e resistência em um tempo trágico, composto por incertezas e esperanças.
As produções audiovisuais serão exibidas nas redes sociais da Nepomuceno Filmes no Instagram e Facebook, e canal de Eric Nepomuceno no YouTube.

'Ler é o melhor remédio', por Nepomuceno

"Ficar sozinho é uma coisa, sentir solidão é outra.
Eu, por exemplo, adoro ficar sozinho. Sempre que posso, escolho essa situação.
Mas não ter essa escolha é, para mim, assustador: muito diferente de me isolar, é ser isolado. Ficar isolado, sem poder ver amigas e amigos de décadas e que estão logo ali, ao alcance da mão.
Pensando nisso, pensei em maneiras de combater o vazio do isolamento. E cheguei à conclusão de que ler é o melhor remédio.
Ao longo de anos e anos eu disse e redigo que nenhum, nem um único livro, mudou a história do mundo. Nem mesmo a obra de ficção mais lida e traduzida na história da humanidade, a Bíblia, mudou o mundo.
O que os livros podem mudar e muitíssimas vezes mudam é a nossa maneira de ver a vida e o mundo. E nos levar a tentar, então, mudar a realidade que nos rodeia ou buscar a realidade que nos foi escondida.
O que eu nunca disse, porque embora estivesse convencido acreditava ser muito óbvio, é que os livros podem, e conseguem na imensa maioria das vezes, suavizar a nossa solidão.
Ao conviver com personagens que nos atraem ou rejeitamos, ao tentar descobrir não apenas o que eles pensam mas qual rumo tomarão, eles se transformam em companhia.
Por esses dias de pandemia descontrolada e de país desgovernado, sem norte nem rumo, tenho lido.
E além de ler, tenho me lembrado de livros que li (e alguns reli, e outros se tornaram releituras rotineiras ao longo dos tempos).
Assim, conto que andam me fazendo companhia o velho Santiago, de O velho e o mar, e Lia, Lorena e Ana Clara, de As meninas, e convivo com a tensa e amedrontadora atração entre David e Giovanni de O quarto de Giovanni, ou padeço a tensão que paira soberba sobre o desespero do casal de O banho, e observo de longe a solidão do halterofilista de A força humana, e torno a mergulhar, depois de décadas, nas águas do Mississipi e constato, sereno e feliz, que nada mudou nem nelas, nem na minha memória.
São companhias variadas, que varrem a minhas lembranças pelo avesso. E é graças a essas companhias que a solidão da quarentena se torna menos densa, mais suave.
Como disse dia desses Joaquín Sabina, um dos maiores compositores da música popular espanhola contemporânea, ler é o melhor remédio contra o medo – esse medo imenso que se espalha nestes tempos de tensão e breu."