Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 15 de Abril de 2020 às 20:17

Zoravia Bettiol aproveita confinamento para produzir obras de sua nova série, 'Ícones'

Trabalho é uma celebração aos 85 anos de idade e 65 de carreira da artista

Trabalho é uma celebração aos 85 anos de idade e 65 de carreira da artista


CRISTIAN COMUNELLO/DIVULGAÇÃO/JC
Daniel Sanes
Uma artista inquieta, produtiva e esperançosa. Em meio ao confinamento provocado pela pandemia de Covid-19, Zoravia Bettiol mantém essas características não só porque o momento exige, mas porque são inerentes a ela. Artista visual autônoma, tem uma rotina de trabalho de 12 a 14 horas - algo que, para alguns, pode ser considerado exaustivo, mas, para Zoravia, é uma necessidade.
Uma artista inquieta, produtiva e esperançosa. Em meio ao confinamento provocado pela pandemia de Covid-19, Zoravia Bettiol mantém essas características não só porque o momento exige, mas porque são inerentes a ela. Artista visual autônoma, tem uma rotina de trabalho de 12 a 14 horas - algo que, para alguns, pode ser considerado exaustivo, mas, para Zoravia, é uma necessidade.
"Com esta situação dramática que ocorre no nosso planeta azul, estou conseguindo ter uma rotina positiva, produtiva, mantendo a moral alta e alimentando a esperança. Quem tem contribuído muito para que eu esteja em reclusão confortável é a minha filha, Eleonora, e o meu genro, Gabriel, que se encarregam da compra de alimentos e outros assuntos de rua", afirma ela, que faz questão de citar aqueles que a ajudam. "Também tenho um assistente, Cristian Comunello, que me auxilia na parte administrativa e burocrática, que eu detesto", confessa.
É verdade que o fato de poder trabalhar em sua própria residência ("sempre tive estúdio em casa, depois galeria e, atualmente, a sede do Instituto Zoravia Bettiol") facilita bastante as atividades. O que poderia ser prejudicado é o processo criativo, mas, nesse caso, a artista tem um trunfo na mão: quando o confinamento começou, ela já estava se dedicando a um projeto bem definido. "Em 2020, completarei 85 anos de vida e 65 anos dedicados às artes visuais, e pretendo celebrar essas datas por meio da exposição de pinturas intitulada Ícones. São 15 obras, e estou trabalhando intensamente nelas", ressalta.
O tema não é novo para Zoravia, que já havia se inspirado em figuras icônicas. "Tinha realizado a série de xilogravuras Iemanjá e a forma tecida Iemanjá do Guaíba, o Universo de Mario Quintana, composto por duas instalações e por desenhos e monotipias sobre o poeta, e, ainda, o Universo fantástico de Alice (personagem do escritor britânico Lewis Caroll), composto por cadeiras, chapéus das três rainhas, instalação, adesivos de parede, rotogravuras e uma performance", detalha, lembrando também a série de xilogravuras O circo, com figuras como palhaço, mágico, equilibrista e trapezistas.
Com a temática já presente em sua obra, Zoravia decidiu, há cerca de três anos, pintar os novos trabalhos, com acrílica sobre madeira. "A figura homenageada é representada pelo seu busto e, abaixo, uma, duas ou até cinco referências sobre a vida ou realizações do homenageado", explica. Os personagens vão de mitos como Medusa, Ícaro e Boto a personalidades como a bailarina e atriz russa Tamara Toumanova e a cantora argentina Mercedes Sosa, além dos já citados.
Se o aspecto criativo anda bem, há outros que incomodam Zoravia. Um deles é a situação política do País. "Com os governos autoritários de Michel Temer e, agora, de Jair Bolsonaro, a cultura, a arte, a educação e a ciência são áreas ameaçadoras. O conhecimento, a reflexão e a liberdade de expressão compreendem o passado e miram o futuro, sendo que a ignorância e o preconceito estão nos conduzindo a uma situação anticivilizatória", critica.
Em relação ao cenário econômico, ela considera que houve uma piora crescente nos últimos anos, e que isso tem se refletido no mercado de arte - e, agora, com a pandemia, a situação tende a piorar "vertiginosamente". "Como vivo exclusivamente do meu trabalho artístico, vou colocar no site (www.zoraviabettiol.com.br) e nos meus dois perfis do Facebook obras que estão à venda de diferentes técnicas e preços com um desconto para facilitar a aquisição. Pensem que, se vocês colaborarem com os artistas, estão movimentando e aquecendo o mercado da arte."
Ligada a diferentes entidades em defesa da cultura, entre outras causas, Zoravia não deixou o ativismo de lado por conta do confinamento. Recentemente, ajudou a divulgar duas propostas do Comitê em Defesa da Democracia: o Manifesto por um combate à pandemia da Covid-19 que proteja toda a população brasileira e uma carta aberta ao governador Eduardo Leite e ao prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Jr., pedindo mais atenção aos profissionais que mantêm a infraestrutura da Capital em funcionamento. "O recém-formado movimento Livre Atelier Livre, que se opõe à contratualização dos serviços estaduais e municipais das instituições culturais, tem me ocupado também", completa.
Mesmo se mantendo otimista em meio à pandemia, Zoravia é reticente ao falar sobre o que vai acontecer quando tudo acabar. O ser humano tomará alguma lição disso? Ela tem mais dúvidas que certezas. "O que irá mudar após esta pandemia nem os deuses saberão dizer, pois muitos morrerão com a Covid-19. Será que o sofrimento e a tragédia poderão contribuir para que os seres humanos sejam menos arrogantes e mais solidários, resilientes e colaborativos?", questiona.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO