Woody Allen conseguiu publicar seu livro de memórias Apropos of nothing (A propósito de nada, em tradução literal), que havia sido recusado por sua editora original, segundo informa a Associated Press. Com 400 páginas, a autobiografia do cineasta norte-americano foi lançada na segunda-feira pela Arcade Publishing.
"O livro é um relato pessoal sincero e abrangente de Woody Allen de sua vida", anunciou a Arcade, "desde sua infância no Brooklyn até sua aclamada carreira em cinema, teatro, televisão, comédia impressa e stand-up, além de explorar seus relacionamentos com a família e os amigos".
Com pouco aviso prévio, o livro do cineasta de 84 anos chega em um momento em que grande parte do mundo está preocupada com a pandemia de coronavírus. Arcade é uma marca da Skyhorse Publishing e uma porta-voz da Skyhorse disse que nenhuma decisão foi tomada sobre entrevistas promocionais. Os detalhes financeiros de seu acordo com a Arcade não foram divulgados, nem se o livro seria lançado na Europa - onde editores de vários países manifestaram interesse.
Apropos of nothing começa em tom irônico descrevendo sua educação e casos de amor na cidade de Nova York com Diane Keaton e outros com um sentimento de nostalgia e angústia que também reflete os filmes de Allen, de A era do rádio e A rosa púrpura do Cairo a Annie Hall e Hannah e suas irmãs. Mas muda de tom e se torna defensivo ao lembrar seu relacionamento com Mia Farrow e as alegações de que teria abusado da filha, Dylan - que, para muitos, vieram definir sua imagem pública nos últimos anos. Ele esteve com Mia por mais de uma década e relembra momentos felizes com a atriz "muito, muito bonita" que esfriava ao longo dos anos, especialmente após o nascimento de 1987 de seu único filho biológico, Rona.
Como o ator e diretor alegou antes, ele e a atriz estavam essencialmente separados quando começou a namorar sua filha Soon-Yi Previn, mais de 30 anos mais nova que ele, no início dos anos 1990. "Nos estágios iniciais de nosso relacionamento, quando a luxúria reina suprema... não podíamos tirar as mãos um do outro", escreve ele sobre Soon-Yi, com quem se casou em 1997 e a quem dedica o livro.
Lembrando o dia em que Mia Farrow soube do caso, depois de descobrir fotografias eróticas de sua filha de vinte e poucos anos no apartamento de Allen, ele escreve: "É claro que entendo seu choque, sua consternação, sua raiva, tudo. Foi a reação correta".
Allen nega há muito tempo ter abusado sexualmente de Dylan e, como alegou antes, acredita que as acusações surgiram de uma tentativa de Mia Farrow de buscar vingança: "Eu nunca coloquei um dedo em Dylan, nunca fiz nada com ela que pudesse ser mal interpretado como abusando dela; foi uma fabricação total do começo ao fim".