Filmado no inverno de 2018 na Capital e Região Metropolitana, o thriller de horror psicológico Disforia é o primeiro longa do cineasta gaúcho Lucas Cassales, reconhecido pelos seus curtas. O diretor foi o grande premiado no Festival de Gramado de 2015 com O corpo, vencedor nas categorias de melhor fotografia, roteiro, direção e melhor curta na mostra regional.
No roteiro coassinado por Thiago Wodarski, após sofrer uma experiência familiar traumática - a morte da filha recém-nascida e a necessidade de internar a esposa, interpretada por Juliana Wolkmer (a Neusa Brizola de Legalidade), em uma instituição psiquiátrica -, o protagonista Dário (Rafael Sieg, o "louco do Cati" de A última estrada da praia), um psicólogo infantil, volta a atender crianças. A primeira paciente desse retorno é Sofia (Isabella Lima), uma menina que provoca sensações perturbadoras à sua volta e arrepios no espectador.
Ao longo do tratamento, Dário volta a ter as sensações de aflição que ele não esperava que reaparecessem. A aproximação com Sofia - cuja mãe morreu no parto - acaba despertando lembranças que estavam guardadas no passado do terapeuta, trazendo à tona seus traumas, além de questões como a paternidade, o sofrimento e a dor. Atormentado, ele precisa encarar o passado e o mistério envolvendo a família da menina.
Com narrativa calcada nas diferentes manifestações da culpa na mente dos sujeitos, diferentemente dos filmes do gênero tradicionais, em Disforia há um suspense apreensivo que quase nunca é concluído, criando uma atmosfera de mal-estar permanente, uma agonia latente, que não ganha alívio nem no desfecho.
A palavra "disforia" significa um distúrbio caracterizado pela dificuldade em se recuperar depois de vivenciar ou testemunhar um acontecimento assustador. A condição pode durar meses ou anos, com gatilhos que podem trazer de volta memórias do trauma acompanhadas por intensas reações emocionais e físicas.
O gênero do qual Cassales se apropria com maestria - perturbando também quem está olhando para a tela - está cada vez mais em evidência na produção audiovisual brasileira contemporânea. Os realizadores do longa, que aborda alguns temas como transtornos psicológicos, estresse pós-traumático, depressão pós-parto, solidão e insanidade, transgride os limites entre o real e o imaginário, devem promover com sessões comentadas por especialistas na área, pois o título proporciona muitos questionamentos.
Tendo uma narrativa de forte carga visual, merecem destaque na produção da Sofá Verde e Epifania Filmes a fotografia de Arno Schuh e a direção de arte de Richard Tavares e Mauricio Bispo. No âmbito da atuação, a obra conta com a incrível Ida Celina no papel de avó materna de Sofia e ainda tem as participações de Áurea Baptista e Roberto Salerno de Oliveira. A distribuição é da também porto-alegrense Lança Filmes.