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Cultura

- Publicada em 19 de Fevereiro de 2020 às 03:00

Baseado em fatos reais, 'Luta por justiça' expõe falhas no sistema judiciário dos EUA

Michael B. Jordan vive o advogado Bryan Stevenson e Jamie Foxx, o acusado, Walter McMillian

Michael B. Jordan vive o advogado Bryan Stevenson e Jamie Foxx, o acusado, Walter McMillian


JAKE GILES NETTER/DIVULGAÇÃO/JC
Frederico Engel
Mostrar os problemas do sistema judiciário norte-americano ao sentenciar inocentes é uma das propostas de Luta por justiça, novo longa do diretor Destin Daniel Cretton, tendo Michael B. Jordan como protagonista, além de Jamie Foxx e Brie Larson no elenco. Ambientada no estado do Alabama entre o fim dos anos 1980 e o início dos 1990, a história apresenta uma forte narrativa sobre justiça social baseada em eventos reais.
Mostrar os problemas do sistema judiciário norte-americano ao sentenciar inocentes é uma das propostas de Luta por justiça, novo longa do diretor Destin Daniel Cretton, tendo Michael B. Jordan como protagonista, além de Jamie Foxx e Brie Larson no elenco. Ambientada no estado do Alabama entre o fim dos anos 1980 e o início dos 1990, a história apresenta uma forte narrativa sobre justiça social baseada em eventos reais.
O filme se inicia com Walter McMillian (Foxx) em seu trabalho, cortando árvores e dirigindo sua caminhonete enquanto retorna para casa. Abordado pela polícia, ele é preso e sofre abuso de força, sendo acusado de cometer um crime com o qual afirma não ter nenhuma relação - o assassinato de uma jovem. Bryan Stevenson, interpretado por Michael B. Jordan, é um advogado recém-formado em Harvard que, ao observar da violência usada por um guarda com um detento, fica ainda mais convencido de que deveria lutar contra essa realidade, passando a conhecer o caso de McMillian.
A condução do longa, por diversas vezes, mostra a violência policial sofrida pelos negros, agredidos de forma descabida e sem justificativa. Méritos para Cretton, que escreveu o roteiro ao lado de Andrew Lanham com base no livro de Bryan Stevenson Just mercy: uma história de justiça e redenção (tradução livre de Just mercy: a story of justice e redemption). Na construção do drama, a trilha sonora desempenha um importante papel, com música gospel e mudando para uma climatização mais tensa ao longo do desenvolvimento da história, retornando em momentos pontuais para o gospel. O diretor também se utiliza de diversos planos de dentro do carro, além de outros na estrada - o que melhor funciona demonstra as claras diferenças entre os bairros de brancos e negros no Alabama. Foxx entrega um ótimo monólogo quando encontra o personagem de Jordan pela primeira vez, falando sobre a questão racial na região.
A montagem também vale ser destacada, em específico quando a personagem Eva Ansley, de Brie Larson, recebe maior destaque. Isso ocorre na sequência de investigação, em conjunto com a trilha, em que ela começa a pesquisar e ir atrás de testemunhas ao lado de Stevenson. O diretor tem se tornado um colaborador frequente da atriz, já tendo trabalhado com ela em longas como Temporário 12, de 2013, e O castelo de vidro, lançado em 2017. Possivelmente por conta de seu trabalho como roteirista, Cretton soube explorar a direção da melhor forma, usando de planos simples, mas funcionais, que valorizam um dos aspectos que mais importam para a trama: as atuações.
Nesse quesito, Luta por justiça tem um dos melhores elencos de 2019 (ano de lançamento nos EUA). Jordan apresenta um Stevenson que também tem de lidar com o racismo, além de ser uma pessoa dotada de compaixão e respeito com os familiares de McMillian, algo que o resto da comunidade não demonstra por eles. O ator também produziu o filme, função que já havia desempenhado em obras como Creed II.
Foxx chegou a ser especulado para uma indicação ao Oscar, e foi nomeado para a categoria de ator coadjuvante para o SAG 2020 (Sindicato dos Atores). O papel que ele entrega é mais íntimo, sem momentos expansivos ou de elevação da voz, o que pode dificultar para transmitir as nuances do personagem, assim como sotaque, que poderia torná-lo caricato. Mas isso não ocorre, o que torna este um dos melhores papéis do vencedor do Oscar por Ray. A história tem relação com Foxx, que comentou que seu pai enfrentou um caso semelhante, tendo ficado preso por sete anos por portar substâncias ilegais no valor de US$ 25.
McMillian não é, necessariamente, o coadjuvante com mais destaque, tendo muito espaço para todo o elenco de apoio brilhar (Tim Blake Nelson, Rob Morgan, Larson, O'Shea Jackson Jr., Rafe Spall, entre outros). Jackson Jr., filho de Ice Cube, tem uma ótima fala em sua cela. Blake Nelson é excelente como Ralph Myers; tem uma atuação cheia de tiques, mas que são usados na medida correta e que mostram os medos e os traumas pelos quais seu personagem passou. Morgan, como Herbert Lee Richardson, é capaz de fazer chorar com sua performance - o ponto mais emocional, tenso e triste (em que atuação, direção e trilha sonora elevam a cena) ocorre quando ele recebe o apoio de todos os outros presos. Os diálogos ao longo do filme são marcantes, capazes de passar toda a emoção que a situação precisa.
Existe também espaço para o controverso, apresentando o conflito de um policial que se questiona sobre o que ocorre diante dele. Um dos poucos problemas é relativo ao primeiro acusado, apresentado na primeira cena de Stevenson - não fica esclarecido o que ocorreu com ele.
Entre outros objetivos, o filme propõe reflexões sobre o racismo, em especial em uma fala de McMillian sobre o negro já nascer culpado no Alabama. Luta por justiça é um filme que machuca e inspira a buscar o que é certo, mesmo que, para isso, seja preciso superar muitas adversidades.
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