A cinematografia africana contemporânea terá espaço privilegiado na Cinemateca Capitólio Petrobras (Demétrio Ribeiro, 1.085) nesta semana. De amanhã até domingo, a Mostra de Cinemas Africanos trará uma seleção de filmes africanos e afrodiaspóricos reconhecidos em grandes festivais e respaldados pela crítica e por públicos internacionais. São 15 títulos - procedentes de 12 países -, a maioria inédita no Brasil, com curadoria de Ana Camila Esteves e Beatriz Leal Riesco. Todas as sessões terão ingressos a R$ 16,00 com opções de meia-entrada.
A sessão de abertura, que acontece amanhã, contará com o longa-metragem nigeriano Kasala!. O filme, autofinanciado, foi escrito, produzido, dirigido e filmado pela diretora estreante Ema Edosio. A obra narra a amizade e a cumplicidade entre quatro jovens, apresentando um retrato da vida na cidade de Lagos. A sessão acontece às 20h, e a curadora Ana Camila Esteves fará comentários após a exibição.
A programação conta, ainda, com o curso
Cinemas africanos contemporâneos, ministrado por Ana Camila, que traz um panorama sobre as cinematografias africanas no contexto contemporâneo de produção e difusão. As aulas ocorrem na terça e quarta-feira, das 9h às 12h, na Sala Multimídia da Cinemateca Capitólio. As inscrições custam R$ 50,00 e podem ser feitas no link
http://bit.ly/cursocinesafricanos.
Neste ano, a presença das mulheres é um dos destaques na programação da mostra, refletindo o crescimento exponencial de realizadoras na África e na diáspora. As jovens diretoras dominam gêneros tão heterogêneos como a comédia adolescente (Kasala!), o curta-metragem poético (Irmandade, da tunisiana Meryam Joobeur), o ensaio autobiográfico (Lua Nova, de Philippa Ndisi-Hermann) ou o melodrama experimental (Ame quem você ama, da sul-africana Jenna Bass).
Outras cineastas optam por usar o cinema como ferramenta de denúncia e espaço de abertura de diálogo. É o caso de Sofia (de Meryen Benm'Barek-Aloïsi), um melodrama social centrado na situação vulnerável da mulher violentada no Marrocos e que venceu o prêmio de melhor roteiro no Un Certain Regard do festival de Cannes. Outro exemplo é A luta de Silas, de Hawa Essuman e Anjali Nayar, que traz à tela o ativismo contra práticas de extração neocoloniais na Libéria.
Há espaço, também, para o reconhecimento aos pioneiros dos cinemas africanos. Nesta edição, serão projetados, em cópias recentemente restauradas, dois longas de ficção do senegalês Djibril Diop Mambèty (1946-1998), as obras Touki Bouki (1973) e Hyènes (1992). O diretor é tio de Mati Diop, primeira diretora africana negra a competir pela Palma de Ouro no último Festival de Cannes e vencedora do Prêmio do Júri com Atlantique.
Servindo-se dos meios da poderosa indústria de cinema sul-africana, o diretor Michael Mathews usa o formato western como alegoria em Cinco dedos por Marselha. Da região do Magrebe vem o tunisiano Look at me, de Néjib Belkadhi. Exibido no Festival de Berlim deste ano, o longa traz a história de um pai que reavalia sua vida ao se reencontrar com o filho que abandonou.
Samantha Biffot, realizadora do Gabão, assina O africano que queria voar, um documentário sobre Luc Bendza, primeiro campeão negro de arte marcial chinesa wushu de todos os tempos. Por sua vez, os documentários Bakosó - Afrobeats de Cuba (de Eli Jacobs-Fantauzzi) e o moçambicano A dança das máscaras (de Sara Gouveia) abordam o papel da música como ingrediente de identidade cultural. Tema que também surge no média-metragem Nora, da coreógrafa e bailarina Nora Chipaumire, que conta seu retorno ao país natal (Zimbábue) em um relato autobiográfico dançado.
A programação também traz a produção ruandesa A misericórdia da selva, dirigido por Joël Karekezi e que conta a história de dois soldados ruandeses na Segunda Guerra do Congo, e a comédia ganesa Keteke, de Peter Sedufia. As duas sessões são realizadas com o apoio do Instituto Francês e da Cinemateca Francesa.
É a segunda vez que a Mostra de Cinemas Africanos passa por Porto Alegre. O evento itinerante já esteve nas cidades de Salvador, Aracaju e São Paulo, e deve passar ainda neste ano por Poços de Caldas, em Minas Gerais.