Um dos maiores programas de fomento às artes do Brasil, o Rumos 2019-2020 está com inscrições abertas para iniciativas culturais de todo o País. A expectativa do Itaú Cultural, mantenedor do Rumos, é superar os R$ 15 milhões distribuídos entre os 109 projetos apoiados no biênio 2017-2018.
Será a 19ª edição do Rumos, que já selecionou 1.458 projetos em 22 anos de existência. "Reafirmo que o Rumos é plural, tanto na diversidade de projetos quanto na diversidade geográfica das iniciativas apoiadas. Temos compromisso com a sociedade e com os artistas do Brasil", ressalta Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural.
O modelo do Rumos segue aberto, ou seja, podem ser inscritos projetos ou trabalhos sobre arte e cultura brasileiras em qualquer linguagem, apresentados ou desenvolvidos em qualquer tipo de suporte, formato, expressão artística ou mídia. Não há valor mínimo ou máximo para os projetos, a não ser para os proponentes que se inscreverem como pessoa física - novidade incorporada nesta edição, que não permite a migração para pessoa jurídica após a inscrição. Neste caso, o teto é R$ 70 mil.
Há algumas novidades neste ano, como inserir o nome social como proponente do trabalho. "Um pouco dessa mudança veio da demanda maior que percebemos, nos últimos anos, por questões ligadas à identidade de gênero. É um passo importante ainda mais nos tempos atuais", explica Ana de Fátima Sousa, gerente de comunicação do Itaú Cultural.
Diretor do Itaú Cultural, Saron anunciou novidades no programa. Foto Denise Andradas/Divulgação/JC
Ela esclarece que o projeto é completamente livre, mas sugere que, em áreas como audiovisual e artes cênicas, o proponente coloque a ficha técnica e detalhes sobre o roteiro. "São informações importantes que auxiliam a comissão de avaliação", complementa Ana.
O processo de seleção, por sinal, é trabalhoso. Após a finalização das inscrições, em 19 de outubro, uma comissão de seleção composta por 40 profissionais contratados pelo Itaú Cultural em todo o Brasil avalia um por um dos projetos, e não é pouca coisa: no ciclo anterior foram 12.616 trabalhos inscritos e apenas 109 selecionados.
Do Rio Grande do Sul foram escolhidos 4 projetos, ainda em andamento, de um total de 564 inscrições em 2018. No ciclo 2015-2016, a montagem Caliban - A tempestade de Augusto Boal encontrou no Rumos o parceiro ideal: a peça da Terreira da Tribo não apenas saiu do papel, como foi homenageada pelo Palco Giratório do Sesc e também recebeu o Prêmio de Teatro Myriam Muniz.
Saron destaca que o Rumos não é um programa de patrocínios, mas de parcerias. "Digo isso porque já nos vimos em situações de aumentar ou diminuir os recursos porque determinado projeto mudou após a relação com o Itaú Cultural. Nos aproximamos do proponente", relata. Ele informa ainda que o Itaú Cultural não utiliza recursos via Lei Rouanet - todo o montante gasto no instituto e nos editais Rumos é repassado pelo Banco Itaú.
Conforme Saron, o Rumos é importante por continuar dialogando com o Brasil - "algo tão essencial em momentos atuais, de fake news e de algoritmos", lamenta. É necessário olhar para outras regiões, principalmente o Norte e o Centro-Oeste, que menos inscrições fazem no programa. "Por isso temos as caravanas em todos os Estados, para conversar com as pessoas. A gente, que se acha no 'centro' do País aqui em São Paulo, precisa descer do salto e olhar para outras regiões, como a Amazônia", admite. Em Porto Alegre, a caravana do Itaú irá ocorrer no dia 2 de outubro, em local ainda a definir.
Questionado se o clima político atual vivenciado no Brasil pode se refletir nos projetos inscritos, o executivo acredita que sim. "O Rumos é um retrato daquele ou deste momento. O Brasil não tem política para as artes há, no mínimo, 30 anos. O agente em melhor condições de fazer isso, via governo federal, seria a Funarte, mas ela tem sido fragilizada há décadas", explica.