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Cultura

- Publicada em 06 de Julho de 2019 às 12:09

Obra de Saramago é tema de conversa com Pilar del Río e José Luís Peixoto na Pucrs

Encontro em Porto Alegre ainda abordou novo romance de Peixoto, em homenagem ao escritor

Encontro em Porto Alegre ainda abordou novo romance de Peixoto, em homenagem ao escritor


Bruno Miguel/TAG/Divulgação/JC
Amanda Jansson Breitsameter
Com doses de humor e momentos comoventes, a obra e o legado do escritor português José Saramago foram celebrados por um auditório lotado na noite de sexta-feira (5), na Pontifícia Universidade Católica (Pucrs), em Porto Alegre.
Com doses de humor e momentos comoventes, a obra e o legado do escritor português José Saramago foram celebrados por um auditório lotado na noite de sexta-feira (5), na Pontifícia Universidade Católica (Pucrs), em Porto Alegre.
A universidade recebeu a presidenta da Fundação José Saramago, a jornalista espanhola Pilar Del Río, que também foi casada com o escritor por mais de duas décadas, e o escritor português José Luís Peixoto, que está lançando Autobiografia, um romance em homenagem ao escritor ganhador do Prêmio Nobel e falecido em 2010. A obra foi escrita para marcar os cinco anos do clube de leitura TAG - Experiências Literárias.
Mediado por Paulo Ricardo Kralik, pós-doutor pela Universidade de Lisboa e professor da Pucrs, o evento incluiu momentos emocionantes e descontraídos. Em um deles, Kralik leu um compilado tocante de dedicatórias feitas por Saramago para Pilar em seus livros, arrancando suspiros dos presentes: "A Pilar, minha casa. A Pilar, que ainda não havia nascido, e tanto tardou a chegar. A Pilar, que não deixou que eu morresse. A Pilar, como se dissesse água".
Perguntado sobre a experiência do primeiro contato com a obra saramaguiana, Peixoto explicou que a primeira obra do autor português que leu foi O Evangelho Segundo Jesus Cristo (1991), no auge da polêmica com o governo português que seria marco do texto. A obra foi censurada pelo secretário de Cultura da época em razão das críticas que fazia à religião católica.
Para Pilar, a pergunta gerou uma resposta bastante diferente. Bem humorada, contou à plateia que comprou seu primeiro romance de Saramago por imaginar que Memorial do Convento (1982) se tratava de uma literatura erótica redigida por freiras. "Depois que li o primeiro, voltei à loja e comprei tudo o que havia do autor", riu-se. "Quando terminei, pensei comigo mesma: eu quero o país deste senhor, a cultura deste senhor e este senhor", declarou, arrancando risos e aplausos da plateia.
Mais tarde, ao ouvir a pergunta sobre como Saramago fez para conhecer uma mulher como ela, foi categórica: "Ele teve que escrever muitos livros".
A personalidade forte e cativante de Pilar foi um dos pontos altos da noite. Falando em um espanhol pausado para ser mais bem compreendida, a jornalista e tradutora - que trabalhou muitas vezes inclusive nas traduções de livros de Saramago - falou do profundo respeito que o marido nutria por tradutores. "Menos por mim", tascou, novamente fazendo a plateia rir. Ela explicou que, por diversas vezes, o marido questionava suas decisões de tradução. "Nunca traduzam obras de pessoas que vocês conhecem, muito menos pessoas que moram com vocês", defendeu, sorrindo.
Em um momento de polarização política como o do Brasil, nem Peixoto nem Pilar deixaram de responder a questões sobre a importância da leitura e da educação e sobre o papel da mulher na sociedade e na literatura. Ativista do feminismo, Pilar foi enfática ao abordar a questão de gênero na literatura e frisou a necessidade de as mulheres tomarem cada vez mais espaço em todos os âmbitos.
Já Peixoto destacou a necessidade da leitura como caminho para a mudança e a evolução humanas: "Saramago mudou a vida de leitores porque esses leitores o encontraram, e ele se tornou especial. Ler é uma construção que pode não ser física, mas, para quem lê, é objetiva e muito concreta", afirmou.
A noite foi encerrada com uma sessão de autógrafos da obra escrita por Peixoto. Autobiografia será enviado para os cerca de 30 mil assinantes da TAG Curadoria em julho. A obra, que se passa na Lisboa da década de 90, acompanha a trajetória de um jovem escritor que vê seus caminhos se cruzarem com os de Saramago.
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