Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 20 de Maio de 2019 às 03:00

Longa 'Bacurau' tem exibição em mostra competitiva no Festival de Cannes

Sonia Braga (centro) em cena de 'Bacurau', filme de Kleber Mendonça Filho aplaudido em Cannes

Sonia Braga (centro) em cena de 'Bacurau', filme de Kleber Mendonça Filho aplaudido em Cannes


VICTOR JUCÁ/DIVULGAÇÃO/JC
Três anos depois de Aquarius, o pernambucano Kleber Mendonça Filho e a francesa Emilie Lesclaux, diretor e produtora, voltaram a passar pelo tapete vermelho de Cannes, desta vez, sem cartazes de protesto, concorrendo uma vez mais à Palma de Ouro, agora com um filme assinado em codireção por Juliano Dornelles: um longa que desafia todas as convenções de tensão dos thrillers já feitos na América Latina.
Três anos depois de Aquarius, o pernambucano Kleber Mendonça Filho e a francesa Emilie Lesclaux, diretor e produtora, voltaram a passar pelo tapete vermelho de Cannes, desta vez, sem cartazes de protesto, concorrendo uma vez mais à Palma de Ouro, agora com um filme assinado em codireção por Juliano Dornelles: um longa que desafia todas as convenções de tensão dos thrillers já feitos na América Latina.
Bacurau troca as reflexões sobre gentrificação de O som ao redor (2012) e do longa com Sônia Braga sobre um edifício do Recife por uma linha de suspense arrebatadora, que deixou a imprensa atônita em sua exibição na semana passada. Em tempo: Bacurau é o apelido do último ônibus da madrugada em Recife. Vem do pássaro de perna curta e asa longa que voa de noite.
"O filme tem uma atmosfera fascinante e joga com a dinâmica dos filmes de gênero sem ser óbvio", elogiou o crítico espanhol Nando Salva Grimat, ao fim da sessão para os jornalistas. Risos nervosos, suspiros de assombro, torcidas apaixonadas e um aplauso num momento de virada marcaram a projeção para a imprensa da saga de uma cidade do Nordeste que, num futuro próximo, com drones em forma de disco voador, some do mapa depois da morte de uma ilustre moradora. O desempenho de Silvero Pereira, como um dos habitantes de maior fúria no local, infla a tela com urros, fúria e sangue, numa narrativa com ecos de Mad Max e de Walter Hill (Warriors - Os selvagens da noite).
"O filme se passa em Pernambuco, mas acabamos achando a locação, sem a gente perceber, no Rio Grande do Norte, na fronteira com a Paraíba, no sertão do Seridó. O sertão existe forte em quem é nordestino. Temos uma estrutura clássica de uma única rua", relatou o diretor do longa, que apostou em Sônia Braga para o papel da médica Domingas e uma trupe ainda pouco conhecida para papéis essenciais à trama.
Wilson Rabelo é quem mais se destaca, no papel do professor das crianças de Bacurau: é ele quem se dá conta de que o lugarejo desapareceu da cartografia brasileira. Esse sumiço condiz com a chegada de um par de forasteiros de moto (Antonio Saboia e Karine Teles) e o início de uma onda de mortes ligada a um grupo de estrangeiros chefiados por Michael, papel do ator e modelo alemão Udo Kier.
A relação do filme com o filão "nordestern", o cinema de cangaço, vem por uma frase que servia de lema aos clássicos de Glauber Rocha: "Mais fortes são os poderes do povo". Em Bacurau, a frase não é dita, mas vivida, num levante em prol da resistência contra a opressão, que traduz uma série de metáforas políticas. Não por acaso, a trilha sonora de Sérgio Ricardo para o cult A hora e a vez de Augusto Matraga (1965), de Roberto Santos, considerada um hino de protesto, embala a feérica luta de um povoado contra predadores do exterior, que matam por prazer.
"Cannes é um festival único, que nos permite passar dois dias seguidos ininterruptamente falando com a imprensa internacional sobre o filme que fizemos, com visibilidade para o mundo inteiro", relatou o codiretor Juliano Dornelles, que, em duo com Kleber, levou para os créditos do longa uma frase referindo-se ao número de empregos que a produção gerou, em prol da economia da cultura.
O filme levou nove anos para ficar pronto. Nesse tempo, o Brasil entrou em crise política e moral. "Tudo começou com a vontade de exercitar o cinema de gênero a partir da realidade brasileira, mas aí essa realidade foi ficando mais distópica, e precisamos correr atrás dela. Às vezes, o filme passava à frente; depois, a realidade passava à frente do filme. A partir de determinado momento, o que a gente escrevia começou a acontecer. Foi uma espécie de escritura de roteiro ao vivo, uma experiência pela qual eu nunca tinha passado", conta Dornelles.
Bacurau foi exibido na mostra competitiva e foi bem recebido pela crítica. Os vencedores serão conhecidos dia 25 de maio, na cidade francesa. Para Mendonça Filho, além de ser uma demonstração muito forte de uma identidade, a cultura é uma indústria, emprega pessoas. "Todo mundo deveria estar unido e trabalhar junto para fazer um País melhor e maior. Da minha parte, pretendo continuar trabalhando no Brasil. Este país louco é matéria-prima para comédia e horror, documentários, Carnaval e romances literários", finaliza o diretor.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO