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Cultura

- Publicada em 17 de Janeiro de 2019 às 01:00

Apresentador da cerimônia do Oscar está indefinido após posts homofóbicos

Posts polêmicos em redes sociais deixam o Oscar sem apresentador neste ano

Posts polêmicos em redes sociais deixam o Oscar sem apresentador neste ano


Mark RALSTON/AFP/JC
A 40 dias do mais importante evento do cinema mundial, a cerimônia do Oscar, ainda não se tem a mínima ideia se a noite mais festiva de Hollywood terá um apresentador ou não. Tudo porque o comediante Kevin Hart, escalado para o papel, caiu em desgraça quando vieram à tona textos de teor homofóbico que ele tuitou no passado.
A 40 dias do mais importante evento do cinema mundial, a cerimônia do Oscar, ainda não se tem a mínima ideia se a noite mais festiva de Hollywood terá um apresentador ou não. Tudo porque o comediante Kevin Hart, escalado para o papel, caiu em desgraça quando vieram à tona textos de teor homofóbico que ele tuitou no passado.
Hart não é o primeiro (nem será o último) a pagar por postagens antigas. Cotado ao Oscar de melhor roteiro pelo filme Green Book (estreia dia 24 de janeiro no Brasil), Nick Vallelonga também corre risco de ficar fora da premiação, que anuncia sua lista final de indicados no próximo dia 22. Tudo porque, em 2015, via Twitter, ele apoiou uma bravata islamofóbica do então presidenciável Donald Trump.
Com o gigantesco volume de dados produzido nas redes sociais ao longo dos anos, ficou impossível controlar tudo o que se deixa para trás. E sempre haverá um post esquecido por aí.
Em breve, porém, esse mundaréu de rastros terá novas regras no Brasil, graças à Lei Geral de Proteção de Dados. Sancionada em agosto de 2018, ela entra em vigor em 2020 e garante ao usuário a propriedade de seus dados na internet. Ou seja, eles não vão mais pertencer aos sites, e sim ao próprio usuário.
"Acredito que, em pouco tempo, isso levará ao surgimento de uma base de dados, que vai centralizar todos os registros deixados na internet, em todos os sites", prevê André Miceli, coordenador do MBA de Marketing Digital da Fundação Getulio Vargas.
Atualmente, até mesmo as empresas são alvo da ira digital. Em setembro de 2018, quando contratou a jornalista Sarah Jeong, o New York Times foi criticado por causa de tuítes que sua nova funcionária havia publicado. Para muitos, eles eram preconceituosos. O jornal respondeu que já havia "vasculhado" as redes dela antes da contratação e que os comentários estavam "ok" pelo jornal.
E tudo mudou muito rápido. Em tempos analógicos, quando figuras públicas escreviam cartas ou bilhetes, elas sabiam que estavam provavelmente produzindo documentos para a posteridade. Mas e agora, era digital, em que as pegadas se multiplicam em nuvens? Será que artistas, intelectuais e políticos têm consciência de que mensagens de voz no WhatsApp ou fotos enviadas em chats do Facebook podem adquirir interesse histórico para pesquisadores do futuro?
Independentemente da resposta, a pergunta mobiliza arquivistas. A preservação de registros "nato digitais" - como são conhecidos os documentos que já nasceram digitais e não precisam ser, portanto, digitalizados - é vista como um novo desafio. A capacidade de armazenamento de um smartphone, por exemplo, é gigante, assim como os rastros que deixamos na rede.
O efeito dessa montanha de registros deve ser sentido mais nas biografias. Imagine refazer todos os passos de alguém rastreando aplicativos de geolocalização. Ou saber as exatas palavras que ele usou em conversas com amigos pela memória do WhatsApp. O próprio acesso a e-mails já é problemático.
O americano Benjamin Moser sentiu isso na pele ao analisar mais de 17 mil itens do correio eletrônico da escritora Susan Sontag (1933-2004), de quem prepara uma biografia. No fim, o biógrafo desistiu de ler tudo, já que entre as mensagens havia até propaganda de loja de cosméticos.
"A informação, quando é demais, acaba sendo inimiga da biografia", relata Moser, famoso por contar a vida de Clarice Lispector, que morreu muito antes da internet (1977) e só deixou rastros analógicos. "É bom algumas coisas ficarem esquecidas. Mas é verdade que tudo vai ficar mais difícil com o digital, porque somos nós falando da nossa vida amorosa, profissional, sexual... Como separar tudo isso depois?", indaga ele.
Para especialistas, separar o que é relevante e o que deve ser descartado ainda não é prática habitual no digital. Outro problema é definir como as referências analógicas se transfiguram no universo dos bits. Uma carta tem o mesmo valor histórico de um áudio no WhatsApp? Um post no Facebook pertence à mesma categoria de um texto enviado para o jornal? Enquanto ainda não se tem essas respostas, voltemos ao tema do Oscar: a Academia deve anunciar, nos próximos dias, se haverá, de fato, um novo apresentador para a cerimônia, ou se irá inovar, com os convidados apresentando diretamente os prêmios, sem um mestre de cerimônias. 
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