Uma aventura submarina, de um herói por vezes caçoado e até ridicularizado. Aquaman é uma mudança de rumo do Universo Estendido DC (DCEU), se assemelhando mais ao clima estabelecido por Mulher Maravilha (2017), sendo mais grandioso e com conflitos mais ameaçadores do que Liga da Justiça (2017).
Jason Momoa é Arthur Curry, um "meio humano, meio atlante que vive na superfície. Filho de Atlanna (Nicole Kidman), rainha de Atlântida, Aquaman cresceu sem a presença da mãe, que teve de abandonar ele e o seu pai para retornar ao marido a quem foi prometida no reino submerso.
O filme começa já acompanhando a vida de Curry como alguém estabelecido, tendo feito parte da Liga da Justiça. Mera (Amber Heard) é quem vai a seu encontro enviada por Vulko (Willem Dafoe), pedindo para que ele impeça uma guerra de Atlântida com os humanos, sendo a recuperação do tridente perdido do rei Atlan fundamental para isso.
É interessante observar que o filme também trata de temas do mundo de hoje. O lixo nos oceanos, preocupação cada vez maior de poluição do meio ambiente, é um elemento importante para a criação de conflito na trama. Outra temática presente no longa é a imigração. Ao menos, parte dela. Arthur Curry é um mestiço, o que o torna alguém que não é bem visto em Atlântida, encontrado seu espaço. Pelo fato de não ter sangue 100% dos habitantes das profundezas, ele deve encarar uma jornada para provar do seu valor, até para si próprio.
Esta trajetória de aceitação de Curry é bem construída, com flashes de sua infância desde o seu nascimento, mostrado mais ao início do filme, até momentos de sua jovem vida, nos treinamentos que recebeu de Vulko. A primeira vez que seus poderes são expressados, com Arthur ainda sem entender bem sua habilidade, é muito bem realizada e causa um impacto positivo no espectador.
O fator cômico do filme é mais presente se comparado a outras produções da DC, como Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Ele funciona bem, tanto por parte de Momoa como por Amber. O problema é o fato de haver uma mudança de tom para que o humor seja inserido. A transição não pareceu tão natural, até um pouco forçada, mas nada que incomode muito.
Boa parte foi filmada na Oceania, entre Austrália e Nova Zelândia, mas a partir da computação, um outro filme surgiu. O período de pós-produção, que inclui acrescentar todas as cenas em que os personagens estão debaixo da água, foi finalizado somente no início de novembro, pouco mais de um mês antes da estreia. E é possível perceber o trabalho realizado para que isso fosse possível.
Tirando momentos específicos, como close-ups nos rostos, a sensação de se estar debaixo da água é bem-sucedida. Os cenários são belos e coloridos, com um design que mistura moderno com retrô: Atlântida é uma civilização antiga e que teve de se adaptar para a vida submersa, desenvolvendo muitas tecnologias, mas se mantendo preso ao Mundo Antigo em aspectos de civilização, como um regime monárquico e de costumes clássicos. A criação de mundo é ótima. Cenários, figurinos, iluminação, objetos decorativos, etc. tudo faz com que o espectador se sinta imerso, ou submerso, em Atlântida.
Por se tratar de um filme de super-herói, é natural que as cenas de ação sejam uma parte constante. Aquaman não foge a isso, fazendo uso efetivo, com a câmera passeando e acompanhando movimentos de luta de um modo natural e fluido. Destaque para a batalha final, que consegue ser mais grandiosa que a de Liga da Justiça, além de ser mais impactante.
O longa talvez só fique devendo em história. São muitos personagens presentes no longa e eles contam com motivações claras e compreensíveis, mas faltou um pouco de desenvolvimento de alguns. Até por isso, a cena exibida no meio dos créditos já sugere uma continuação, que será capaz de aprofundar o interessante universo do homem-peixe.
Aquaman é uma mudança de rumo para o DCEU, após a saída de Zack Snyder, que ainda é creditado como produtor executivo. James Wan conseguiu criar uma aventura que é capaz de divertir e que apresenta uma narrativa mais leve, ainda que os impactos no mundo sejam sentidos e existam.