Argentina radicada no México, a cineasta Paula Markovitch chegou a Santana do Livramento, na Fronteira Oeste, gabaritada, com o sucesso de crítica do seu título anterior, El premio, para competir na mostra de longas do 10º Festival Internacional de Cinema da Fronteira, com Cuadros en la oscuridad.
Exibido e destacado com troféus em diversos festivais pelo mundo, o seu título de estreia foi convidado a ser apresentado na noite desta quarta-feira (28) na Casa de Cultura de Rivera, no Uruguai. Já o inédito no Brasil Cuadros en la oscuridad é inspirado na vida de seu pai, um pintor veterano.
“Desta vez, não falo da ditadura em si. O meu novo filme está ambientado nas sequelas da ditadura. Para mim, ela ocasiona autoenclausuramento, medo, solidão, ocultamento. Ele é um artista que não expõe a sua obra, pois ele vivia escondido na ditadura, e agora segue escondendo seus quadros”, comenta Paula.
A argentina escolheu não abordar o regime diretamente, mas pela alma de um artista: “A minha tese é que a ditadura não mata somente pessoas, mata sonhos, criatividade, obras”. A ficção conta as telas originais do seu pai nos enquadramentos do filme que será apresentado hoje à noite no Cine 7 de Bagé.
Paula diz não saber como será a recepção no festival e pelo público brasileiro. “Este meu segundo filme é muito triste, porque a história real é triste, as consequências da ditadura são tristes. É um pouco amargo, mas depende de quem vê. Creio que é um momento especial do contexto social do Brasil, principalmente para o Sul, que votou majoritariamente em Bolsonaro. Me parece perigosíssimo, e é importantíssimo recordar as ações e decorrências de um governo autoritário”, opina. ]
O tema é muito caro para a realizadora: “A crueldade também está quando cada um suspeita do outro vizinho. A violência não é só do governo para um povo, mas também quando um indivíduo é violento com o outro ou consigo mesmo”.