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Cultura

- Publicada em 12 de Novembro de 2018 às 00:00

Aos 77 anos, Ney Matogrosso lança livro de memórias

Além dos textos, a obra reúne 70 fotos e discografia completa do músico

Além dos textos, a obra reúne 70 fotos e discografia completa do músico


MARCELO FAUSTINI/DIVULGAÇÃO/JC
Ney Matogrosso tem uma memória privilegiada. Pode descrever as mais longínquas lembranças de sua vida - com direito a imagens, cores e aromas. A primeira delas o conduz à infância, quando tinha apenas três anos, montado em cima de jabutis e morava com a família em Salvador. "É minha primeira memória", conta, aos 77 anos.
Ney Matogrosso tem uma memória privilegiada. Pode descrever as mais longínquas lembranças de sua vida - com direito a imagens, cores e aromas. A primeira delas o conduz à infância, quando tinha apenas três anos, montado em cima de jabutis e morava com a família em Salvador. "É minha primeira memória", conta, aos 77 anos.
Nos últimos tempos, suas lembranças têm sido revisitadas com mais frequência do que ele planejava. Descrito pelo próprio Ney como um "livro de memórias", Vira-lata de raça (Tordesilhas, 288 págs., R$ 44,90), de sua autoria, com pesquisa e organização de Ramon Nunes Mello, foi lançado pela editora Tordesilhas. E está prevista, para breve, a biografia do cantor escrita pelo jornalista Julio Maria.
"Em princípio, não me agradava (a ideia das biografias), mas, hoje em dia, você não pode impedir", diz Ney. Muito disso se deve, segundo ele, à experiência que teve durante a realização de sua biografia anterior, Um cara meio estranho, de Denise Pires Vaz, lançada em 1992. "Fiz quando eu tinha 50 anos. Aquilo foi uma perturbação na minha vida, porque foram quatro anos, eu não tinha mais paciência. A gente brigou. Eu achava que tudo exigiria essa mesma coisa e não tinha vontade de fazer, mas tudo bem, um já está saindo e o outro, bem adiantado."
Na realidade, o livro Vira-lata de raça não segue o formato tradicional de uma autobiografia, tampouco de uma biografia não autorizada. O poeta, escritor e jornalista Ramon Nunes Mello pesquisou entrevistas concedidas por Ney ao longo dos anos à imprensa e, a partir dessas informações, conduziu três grandes entrevistas com o cantor, para preencher lacunas e atualizar pensamentos. Além dos texto, a obra reúne 70 fotos e discografia completa.
E é doloroso acessar essas lembranças? "Na verdade, todas as dores passaram. Não sou uma pessoa sofredora. Estou em outra fase da minha vida, portanto, mesmo sobre o relacionamento conturbado com meu pai, falo com clareza, porque ultrapassamos isso. Teve um momento em que ficamos amigos íntimos, conversamos sobre a maneira que ele educou os filhos homens e a diferença com que ele educou as filhas mulheres", responde Ney.
Seu pai, o militar Antonio Matogrosso Pereira, é um personagem importante na história de Ney. O cantor o descreve, no livro, como "conservador, cabeça-dura, e que tinha pavor a qualquer possibilidade de manifestação artística que eu pudesse desenvolver". O oposto da postura de Ney, sempre transgressora, libertária. A difícil relação entre os dois perdurou durante a infância e a adolescência do artista.
Anos mais tarde, com Ney já dono do próprio nariz, veio a conexão entre pai e filho. "Eu tinha saído de casa com 17 anos, virei artista com 31. Isso nem era uma questão na minha cabeça, o que meu pai vai achar, porque eu já era responsável por mim mesmo. Então ser artista já tinha sido digerido por ele. A primeira fase da minha vida com ele foi conturbada, mas depois se resolveu quando ele passou a me respeitar, quando viu que eu vivia mal, mas que eu não aceitava nada dele."
Há um momento simbólico contado no livro, quando o pai estava prestes a voltar ao estado de Mato Grosso e marcou encontro com Ney na frente do prédio do jornal O Estado de S. Paulo, então no Centro de São Paulo. Ali, Ney beijou o rosto do pai, algo que nunca um filho homem dele tinha feito. "Depois desse dia, nós nos beijamos até o fim da vida dele. Então, aquele ódio que existia entre nós, no fundo, era um amor incubado, foi o que concluí depois."
O livro segue uma espécie de linha do tempo de vida e carreira de Ney, dando conta também de algumas curiosidades. Como a história de uma moça com quem ele tinha se relacionado na adolescência que apareceu na casa de sua mãe com sua suposta filha, um ano depois de ele sair de casa. "Minha mãe me disse que, quando ela quis pegar a criança, a moça sumiu."
Apesar de adotar uma linha cronológica, o livro traz capítulos que tratam de temas específicos, que sempre geram interesse quando o assunto é Ney Matogrosso, como sexualidade, drogas, o icônico Secos & Molhados e Cazuza, uma de suas grandes paixões. Tem um pouco de tudo da vida desse camaleão da música.
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