Chacrinha é um personagem atemporal, acredita o diretor Andrucha Waddington. Pela segunda vez em cerca de cinco anos, o artista apresenta um projeto dedicado ao comunicador, que marcou história no rádio e na televisão brasileira: após dirigir um musical para o teatro, o cineasta estreia nesta quinta-feira a cinebiografia Chacrinha - o velho guerreiro. "Dessa vez pude falar sobre ele de uma maneira mais formal. Falar de uma maneira formal sobre um personagem completamente irreverente, louco", destaca.
O longa-metragem acompanha José Abelardo Barbosa (mais conhecido por seu nome artístico), entre 1939 e 1982. Ao longo deste período, o protagonista se estabeleceu no Rio de Janeiro e criou uma maneira própria de fazer rádio, vencendo preconceitos, emplacando bordões e migrando para a televisão.
Eduardo Sterblitch (de Os penetras) interpreta o personagem na juventude, enquanto Stepan Nercessian é responsável pelo papel quando o alter ego Chacrinha já é extremamente popular. Entre frases que marcaram sua trajetória, como "Eu vim para confundir, não para explicar" e "Quem quer bacalhau?", aparecem em cena outros nomes bem conhecidos. Laila Garin vive a cantora Clara Nunes - com quem, há rumores, que Chacrinha teve um caso; Thelmo Fernandes é o diretor televisivo Boni, e as brigas entre os dois não são esquecidas no roteiro. Há também espaço para Elke Maravilha (interpretada por Gianne Albertoni) e Rita Cadillac (Karen Junqueira), além de familiares de José Abelardo Barbosa.
Apesar de representar uma nova incursão de Andrucha Waddington no mesmo tema, o filme não é um projeto seu. O longa-metragem estava correndo em paralelo à montagem teatral, e o realizador foi convidado para assumir o cargo de diretor. "Eu tinha acabado de sair de uma pesquisa enorme para fazer o musical, mas nesse caso era muita música, uma viagem sensorial. São roteiros totalmente distintos", compara ele, ressaltando que sabia pouco a respeito de Chacrinha antes de envolver com as iniciativas. "Eu nasci em 1970, o conhecia das tardes de domingo."
O estudo sobre o personagem contou tanto com observação de imagens e leitura de biografias quanto com relatos de pessoas contemporâneas ao comunicador - que ou conviveram com o ícone ou frequentaram meios por onde ele circulou. Escrito por Cláudio Paiva (de A grande família), o roteiro apresenta, como pano de fundo, bastidores da era do rádio e a popularização da televisão. Chacrinha foi protagonista nos dois contextos e frequentemente se envolveu com polêmicas: em reestreia na Globo, por exemplo, promoveu um concurso de cachorros pulguentos, dando origem a uma infestação na emissora carioca.
"Talvez ele seja o maior ícone pop brasileiro do século XX", define Andrucha Waddington, citando que, aos poucos, sociólogos passaram a vê-lo como fenômeno da comunicação. Já artistas como Caetano Veloso o consideram um ícone do tropicalismo. Mesmo assim, acredita o realizador, José Abelardo Barbosa (1917-1988) não teria facilidade para implantar um programa na atualidade. "Ele também não teve quando começou. Foi muito rejeitado, era visto como uma aberração, um cara meio que anárquico, que não respeitava as pessoas. Mas foi conquistando a audiência", destaca.
Só em termos de panorama musical, o apresentador foi "o maior disc jóquei que o Brasil já teve", complementa o cineasta. Eclético e antenado, recebeu em seus programas os maiores expoentes da música brasileira - algo que também aparece no filme.
Para o futuro, após o lançamento da cinebiografia, o diretor conta com outros dois trabalhos encaminhados. Está finalizando o suspense sobrenatural O juízo, roteirizado por Fernanda Torres e com Fernanda Montenegro no elenco, e gravando a terceira temporada da série Sob pressão. A exibição dos dois projetos está prevista para o ano que vem - nos cinemas e na televisão, respectivamente.