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Cultura

- Publicada em 26 de Junho de 2018 às 01:00

O prazer dos desafios: mostra no Margs relembra trajetória de Fernando Baril

Artista expõe parte de seu trabalho com a exposição Baril'70 anos, que tem entrada franca

Artista expõe parte de seu trabalho com a exposição Baril'70 anos, que tem entrada franca


CLAITON DORNELLES /JC
Frederico Engel
"Não tenho pretensões de ficar na história da arte. Trabalho com isso porque é a única coisa que sei fazer e é o que me dá tesão." Com ambições simples e obras inteligentes, Fernando Baril começa nesta terça-feira (26) a expor parte de seu trabalho com a exposição Baril'70 anos nas pinacotecas do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), a partir das 19h, com entrada franca.
"Não tenho pretensões de ficar na história da arte. Trabalho com isso porque é a única coisa que sei fazer e é o que me dá tesão." Com ambições simples e obras inteligentes, Fernando Baril começa nesta terça-feira (26) a expor parte de seu trabalho com a exposição Baril'70 anos nas pinacotecas do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), a partir das 19h, com entrada franca.
Em uma conversa informal, sentado no chão das grandes salas de exposição do Margs, Baril explica como a mostra nasceu. "Dois amigos insistiram que expusesse estas obras. Eu não queria, não tinha nenhuma intenção de expor", conta ele, que não mostrava seu trabalho no museu do Estado desde 1980. Os quadros selecionados são parte da história do artista, que desde o início da década de 1970 é atuante na cena gaúcha. As telas são reflexos do cotidiano dele, que apenas pinta aquilo que desperta algum tipo de curiosidade e inspiração.
"São oito horas do meu dia que passo pintando. Tento sempre me desafiar, com alterações que ocorrem durante a concepção de uma obra. Não acontece como mágica", reforça. Baril ainda esclarece que a sua inspiração para os quadros nasce do que há de mais banal na rotina: ao concluir curso de culinária, passou a pintar comidas - usou um peru como suporte de pincéis e ovelhas em um espeto de churrasco. Um amigo seu, certa vez, recebeu em uma caixa de sapatos ao invés de um par, três calçados - virou um quadro que também está exposto. Mas é na tecnologia que o artista encontra um de seus principais elementos de trabalho.
Baril não é um dos mais aficcionados por tecnologia, não tendo um celular. "Fui fazer exames na Santa Casa e a atendente pediu meu número de telefone. Respondi que não tinha e ela gritou: 'Duvido'. Que que eu posso fazer: Não tenho interesse em ter", narra. O artista faz uso frequente da sátira para ilustrar como a sociedade atual se tornou consumista, em especial com objetos que envolvam a tecnologia. Obras como a de um bebê que já nasce com um fone na cabeça e substitui a chupeta na boca pelo conector do aparelho. "Um amigo era dono de uma casa de relógios e me contou que o estabelecimento estava para fechar. Fiquei surpreso, mas ele contou que ninguém mais comprava lá. Resolvi fazer um quadro que mostra os relógios ao redor de um celular, para ilustrar esta mudança", relata Baril.
Além de buscar inspiração em diferentes elementos, outro diferencial do pintor é que ele é, realmente, um artista. Com as oito horas em que passa à frente de uma tela, Baril tem a arte como seu trabalho integral, algo não muito comum no Brasil. Ele argumenta que o cenário está cada vez pior, elencando motivos que auxiliam na piora: galerias fechando, pessoas sem interesse pela arte, artistas desunidos. "Essa ausência de união se reflete em outros âmbitos. Na política, as pessoas protestam no Facebook, xingam os políticos de tudo o que é nome, mas na hora de estarem unidas e irem à rua, não vão", destaca o artista. Ele enxerga os artistas desta mesma forma, com falta de indignação pelos problemas fora do mundo virtual, apenas se manifestando em redes sociais.
Esta ausência de posicionamento Baril também observou quando ocorreu o cancelamento da Queermuseu em setembro último. A exposição, que ficava no Santander Cultural, foi fechada após acusações de zoofilia, pedofilia e blasfêmia. O artista é responsável por uma das obras que gerou mais controvérsias na época. Cruzando Jesus Cristo com Shiva é uma tela que, segundo Baril, critica o consumismo da cultura ocidental, em sua grande parte cristã. A referência ao deus hindu Shiva se faz por conta dos vários braços de Jesus no quadro, nem assim sendo capaz de lidar com tantos excessos e se tornando vítima desta sociedade. "(O Santander Cultural) não consultou os artistas sobre fechar a exposição. A medida foi tomada sem nenhum tipo de conversa, apenas fomos avisados e retiramos nossas obras", relata. Queermuseu e a obra de Baril estarão a partir de 27 de julho no Parque Lage, no Rio de Janeiro.
Com curadoria do doutor em História da Arte José Francisco Alves, a mostra que celebra os 70 anos de vida do artista (completados em 23 de maio) fica em cartaz no Margs (Praça da Alfândega, s/nº) até  4 de setembro, com visitação gratuita de terça-feira a domingo, das 10h às 19h.
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