Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cultura

- Publicada em 10 de Junho de 2018 às 23:00

Angela Merkel é pressionada para que Alemanha devolva relíquias arqueológicas

Debate reacende discussão sobre devolução de peças como o busto da egípcia Nefertiti, hoje em Berlim

Debate reacende discussão sobre devolução de peças como o busto da egípcia Nefertiti, hoje em Berlim


NEUES MUSEU/DIVULGAÇÃO/JC
A decisão recente do presidente francês, Emmanuel Macron, de devolver aos países de origem os objetos de arte adquiridos ilegalmente durante a era colonial, anunciada no ano passado, pôs em alvoroço também os museus de Berlim. Ao todo, mais de 50 ONGs já enviaram carta aberta à chanceler Angela Merkel pedindo que adote o exemplo, pondo as relíquias arqueológicas dos museus alemães no centro da discussão.
A decisão recente do presidente francês, Emmanuel Macron, de devolver aos países de origem os objetos de arte adquiridos ilegalmente durante a era colonial, anunciada no ano passado, pôs em alvoroço também os museus de Berlim. Ao todo, mais de 50 ONGs já enviaram carta aberta à chanceler Angela Merkel pedindo que adote o exemplo, pondo as relíquias arqueológicas dos museus alemães no centro da discussão.
"Os museus fazem de tudo para preservar seus tesouros, mas não vão poder evitar os efeitos do novo debate sobre a arte roubada", conta Christine Howald, historiadora da Universidade Técnica de Berlim, que mapeou os países que se beneficiaram e os que foram vítimas do comércio ilegal de bens culturais.
Christian Kopp, da ONG Berlim Pós-Colonial, afirma que a Alemanha tem uma responsabilidade especial. "Berlim, como a cidade que sediou a conferência Congo-África de 1884-1885, sobre a divisão da África entre os países europeus, deve adotar uma posição pioneira no debate sobre a devolução", comenta.
Para a historiadora de arte francesa Bénédicte Savoy, que foi conselheira de Macron nesse assunto, os museus berlinenses pouco fizeram para esclarecer a origem de objetos em que ainda há o "sangue das vítimas".
Vivendo entre Berlim e Paris, Bénédicte está à frente do projeto A História mundial da arte roubada, o mesmo em que Christine trabalha. Para financiar a pesquisa, que tem duração prevista de três anos, a própria francesa doou 2,5 milhões de euros que recebeu de um prêmio científico.
Do lado dos museus, a polêmica fez despertar o medo. Verdadeiros ímãs de turistas, objetos famosos, como o busto de Nefertiti ou o altar de Pergamon, passaram a ser alvo de medidas rigorosas de segurança. Há receio de agressão por parte de nacionalistas.
O Altar de Zeus, atualmente em restauro, foi descoberto, por acaso, no século XIX na cidade de Bergama (Turquia). Um engenheiro alemão viajou ao país para realizar o projeto de uma ferrovia e terminou descobrindo o gigantesco altar, que foi desmontado, empacotado em 150 caixas e remontando no Museu Pergamon.
A escultura de Nefertiti, conhecida como a Mona Lisa de Berlim, tem quase 3,5 mil anos, e foi descoberta em 1912, durante uma expedição alemã no Vale dos Faraós, no Egito, e pode ser vista no Neues Museum, na capital alemã.
Zahi Hawass, até o final do regime de Hosni Mubarak encarregado da cultura antiga no governo egípcio, diz que ainda hoje seu grande sonho é levar a escultura da rainha de volta ao país. Com a revolução que derrubou o governo Mubarak e toda a turbulência política que se seguiu, porém, o destino dos objetos passou para segundo plano.
As duas relíquias são há anos tema de controvérsia entre a Alemanha e seus países de origem, que batem em portas hermeticamente fechadas sempre que voltam a reivindicar uma devolução. "Quando havia desequilíbrio de poder entre os países envolvidos, a compra pode ser vista como ilegal, sim, e o objeto deve ser devolvido", defende Christine.
A equipe da Universidade Técnica de Berlim lembra que a arqueologia em busca de bens de culturas antigas era mania coletiva na Europa do século XIX. Movimentava grandes potências coloniais, como França, Inglaterra e Espanha, mas também a Alemanha, onde pessoas com dinheiro financiavam expedições.
Presidente da Fundação Cultural da Prússia, à qual pertencem os principais museus estatais de Berlim, Hermann Parzinger argumenta que nem todas as aquisições da era colonial foram roubo. "Trata-se de uma crítica generalizada. A História é mais complexa", afirma. Por meio de sua assessoria de comunicação, a fundação diz que não há pedidos formais de restituição do busto de Nefertiti nem do altar de Pergamon, apenas solicitações informais.
Desde 1970, a Unesco tenta controlar o comércio ilegal de arte antiga, até agora sem sucesso. Nessa época já era tarde demais para evitar o saque da era colonial.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO