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Teatro

- Publicada em 05 de Novembro de 2021 às 03:00

Os espetáculos dirigidos às crianças

Antonio Hohlfeldt
Em que pese estar em pleno desenvolvimento festival Porto Alegre em Cena, existem ainda espetáculos do festival Palco Giratório, que pretendo destacar. Assim, hoje, escolhi os trabalhos dirigidos às crianças, num total de quatro espetáculos.
Em que pese estar em pleno desenvolvimento festival Porto Alegre em Cena, existem ainda espetáculos do festival Palco Giratório, que pretendo destacar. Assim, hoje, escolhi os trabalhos dirigidos às crianças, num total de quatro espetáculos.
Começo com Dois mundos, um teatro de sombras criado pelos argentinos Thiago Bresani e Soledad Garcia. Usando um retroprojetor, utilizando imagens coloridas pintadas em papel celofane com passepartouts de cartolina, os dois artistas contam ainda com a colaboração de Alexandre Fávero e Fabiana Bigarella. Instalados hoje em dia em Brasília, a encenação, de cerca de 50 minutos de duração, recupera a história do continente latino-americano e sua invasão pelos europeus, centralizado na figura de um casal de indígenas que sofrem toda a violência das conquistas coloniais. Alexandre Fávero assina a direção, a cenografia e a iluminação, elementos centrais do espetáculo; a partir de uma ideia original de Soledad Garcia, ela e Thiago são os animadores sombristas, precisando ficar, por vezes, em posições corporais muito cansativas para poderem fazer a manipulação das imagens. Ambos também respondem pelo material de desenhos e bonecos a serem utilizados. O trabalho é altamente poético, com uma belíssima trilha sonora de Mateus Ferrari. É um trabalho muito bonito, que merece ser visto e correspondeu à seleção: os "dois mundos" do título podem ser interpretados enquanto o nativo indígena e o europeu, mas eu preferi pensar entre o espetáculo de projeção de sombras e o trabalho a que assistimos, graças à linguagem do vídeo, que faz com que tenhamos um trabalho dentro de outro trabalho.
Com um mesmo fundo participante e revisionista, Boquinha... e assim surgiu o mundo, também com 50 minutos de duração, a partir de um texto de Lázaro Ramos, pretende revisar as várias versões sobre a origem do mundo, tomando como ponto de partida a narrativa judaico-cristã que, aliás, toma um bom pedaço do tempo do trabalho. O condutor da narrativa é um menino negro, Orlando Caldeira que, sob a direção de Suzana Nascimento e do próprio Lázaro Ramos, descobre uma caixa contendo velhos escritos do avô, os quais vai revelando ao público. A linha do espetáculo é eminentemente lúdica, como o trabalho anterior, e tem destaque, neste sentido, as criações de trilha sonora (Ricco Viana e Antonio Van Ahn), a iluminação de Valmyr Ferreira e a cenografia/figurino de Alberta Barro e Gabrielle Windmüller. O texto, apesar de sua linha poética, poderia ter explorado mais a tradição afro-brasileira, como parecia ser sua intenção. Ou ter diversificado mais os diferentes mitos sobre a origem do globo terrestre e da humanidade. Assim como apareceu, acabou ficando incompleto, indefinido, o que é uma pena. O espetáculo vem do Rio de Janeiro.
Outro espetáculo de boas ideias é Enquanto a chuva cai, com roteiro de cena de Nautilio Portela, criação de Claudete Pereira Jorge e Nautílio Portela, para as interpretações de Gabriela Grigolom e Igor Augusto. O trabalho pretende sugerir a possibilidade do diálogo entre uma menina surda muda e um menino que não enfrenta tais situações. O texto é bonito e se inicia com uma madrugada de temporal. A menina está escondida quando o menino entra em sua casa, ambos fugidos da guerra. Aliás, a situação dramática acaba mal resolvida ao final do espetáculo, porque, se a chuva pára, a guerra acaba esquecida pelo roteirista. A proposta cênica é muito bonita e poética, mas acaba demasiadamente lenta, principalmente no início do espetáculo, que poderia ser simplificado. A iluminação de Judy Florese e a cenarização do grupo valorizam sobremaneira o trabalho, que vem de Curitiba.
Por fim, há muito eu pretendia assistir a esta versão de Macbeth - O Reino sombrio, com texto de João Pedro Decarli, que também assina a direção, nas interpretações de Camila Pasa, Rodrigo Washburger e do próprio autor. Num palco vazio, e utilizando apenas duas escadas retráteis, o elenco recria a tragédia shakespeareana, com uma boa marca cômica e lúdica, o que certamente aproxima a gurizada do espetáculo. Não sei se Shakespeare sobrevive, mas certamente o elenco tem qualidade e diverte a plateia. O espetáculo tem ritmo e certamente revela criatividade, em cerca de 50 minutos de duração.
Em síntese, quatro espetáculos dirigidos às crianças, que se dividem entre propostas de reflexão social, mas que não temem a perspectiva lúdica e cômica das linguagens adotadas, o que lhes garante a comunicabilidade.
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