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Teatro

- Publicada em 27 de Agosto de 2021 às 03:00

Recordando o Simões Lopes Neto dramaturgo

Antonio Hohlfeldt
Encerra-se hoje, na Biblioteca Pública do estado, uma significativa exposição sobre o escritor pelotense João Simões Lopes Neto, focando especialmente seu lado de empreendedor industrial, no caso, com a criação de uma fábrica de cigarros, de marca Diavolus, que está completando 120 anos. Conhecido e valorizado especialmente pelos textos dos Contos gauchescos e as Lendas do Sul, é interessante como tudo aquilo sobre o que ele depositou esperanças e investiu, se frustrou. No entanto, aquilo que, de certo modo, ele menos valorizou, sua prosa e, sobretudo, seu teatro, são, de fato, os aspectos de sua obra que remanescem e se afirmam a cada girar do calendário. No caso da prosa, ela hoje já ultrapassou a característica a ele atribuída de regionalista e evidencia uma perspectiva universal. Quanto à dramaturgia, o primeiro texto de sua autoria que conheceu a impressão é justamente uma peça de teatro, O boato, de 1894. Só em 1910 é editado Cancioneiro guasca, compilação de textos e tradições da cultura popular e da literatura oral sul-rio-grandense, seguindo-se Contos gauchescos, em 1912, e Lendas do Sul, em 1913, constituídos de boa parte de textos que já haviam sido impressos em páginas de jornal, culminando com os Casos de Romualdo, que são também editados em jornal, em 1917, mas que só décadas depois, descobertos por Carlos Reverbel, conheceriam a forma do livro.
Encerra-se hoje, na Biblioteca Pública do estado, uma significativa exposição sobre o escritor pelotense João Simões Lopes Neto, focando especialmente seu lado de empreendedor industrial, no caso, com a criação de uma fábrica de cigarros, de marca Diavolus, que está completando 120 anos. Conhecido e valorizado especialmente pelos textos dos Contos gauchescos e as Lendas do Sul, é interessante como tudo aquilo sobre o que ele depositou esperanças e investiu, se frustrou. No entanto, aquilo que, de certo modo, ele menos valorizou, sua prosa e, sobretudo, seu teatro, são, de fato, os aspectos de sua obra que remanescem e se afirmam a cada girar do calendário. No caso da prosa, ela hoje já ultrapassou a característica a ele atribuída de regionalista e evidencia uma perspectiva universal. Quanto à dramaturgia, o primeiro texto de sua autoria que conheceu a impressão é justamente uma peça de teatro, O boato, de 1894. Só em 1910 é editado Cancioneiro guasca, compilação de textos e tradições da cultura popular e da literatura oral sul-rio-grandense, seguindo-se Contos gauchescos, em 1912, e Lendas do Sul, em 1913, constituídos de boa parte de textos que já haviam sido impressos em páginas de jornal, culminando com os Casos de Romualdo, que são também editados em jornal, em 1917, mas que só décadas depois, descobertos por Carlos Reverbel, conheceriam a forma do livro.
Simões Lopes Neto sempre vagou entre projetos mirabolantes, que o fizeram participar intensamente da vida social de sua cidade, projetos de pesquisador e historiador, a que almejava, e atividades de dramaturgo, que certamente o divertiam, amas que parece jamais ter levado muito a sério. No entanto, como se vê hoje em dia, assim como Machado de Assis foi cronista a vida toda, embora seja valorizado como romancista, Simões Lopes Neto foi dramaturgo durante toda a vida, embora só agora esta dramaturgia esteja sendo publicada e descoberta. O primeiro projeto concretizado de publicizar a dramaturgia de Simões Lopes Neto ocorreu através do Instituto Estadual do Livro (IEL), graças ao crítico, diretor teatral e professor Cláudio Heemann. Um primeiro volume, a partir do arquivo de Mozart Victor Russomano, editou A viúva Pitorra (1896 com segunda versão em 1898), ambos editados no volume; Amores e facadas ou Querubim Trovão, de 1901, O bicho (1896), Por causa das bichas (1903), Jojô e Jajá e não Ioiô e Iaiá, também de 1901. Aquele volume ainda trazia o segundo e terceiro atos de um drama atribuído ao escritor, Nossos filhos, de 1915. Ficou faltando um segundo volume, jamais publicado. Mais recentemente, o mesmo IEL, mas desta vez em parceria com a editora Zouk, editou um primeiro (de dois pretendidos, mas ainda também inédito) volume do Teatro de Simões Lopes Neto, organizando-o cronologicamente, de modo que o primeiro volume traz os textos do século XIX e o segundo traria (se chegar a ser publicado) os do século XX. Não sei se esta divisão tem algum peso na avaliação da dramaturgia do autor, mas assim como Heemann escolheu textos de que mais gostou, João Luís Pereira Ourique e Luis Rubira separam o conjunto da obra por séculos. Neste novo volume, vamos encontrar, então, O boato (1894), Os bacharéis (1894), Mixórdia (1894/1895), O bicho (1896), Coió Jr. (1896), A viúva Pitorra (1896 e 1898) e A Fifina (1899).
Ficaram para um segundo volume Jojô e Jajá e não Ioiô e Iaiá (1901), Amores e facadas! (1901), Por causa das bichas (1903), A valsa... (1914), O maior credor (1914), O sapato do bebê (1915) e Nossos filhos (1915), de que os autores dizem ser a tradução de um drama do escritor uruguaio Florencio Sanchez e não obra original de Simões Lopes Neto. Fala-se ainda numa inédita O palhaço, de 1900, cujo texto jamais foi encontrado, embora haja registros de ter sido encenada na cidade, no Teatro Sete de Abril.
A exposição que ora temos na Biblioteca Pública resulta de uma amorosa busca de Cláudia Antunes que, como curadora, catou e juntou fragmentos os mais variados, com um projeto de design bem inteligente, de Emerson Ferreira, recriando uma tabacaria do século XIX e nos apresentando uma série de vitrinas com outros documentos, inclusive recriados a partir de originais. Torçamos que Cláudia resolva também pesquisar e localizar desenhos, cenários, figurinos, notícias, partituras das peças de Simões. Isso vai ser o milagre do século XXI.
 
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