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Teatro

- Publicada em 20 de Agosto de 2021 às 03:00

As traças falharam

Antonio Hohlfeldt
O Grupo NEELIC tem-se notabilizado por importantes pesquisas na linguagem dramática e, agora, está estreando seu primeiro trabalho dirigido ao público infantil. Trata-se de Traça-Letra e Traça-Tudo, texto original de Luciana Savaget e de Ricardo Gontijo, com direção de Desirée Pessoa, com assistência de direção de Samuel Oliveira e Luana Milidiu, para as interpretações de Lauren Braga e Marlon Cruz.
O Grupo NEELIC tem-se notabilizado por importantes pesquisas na linguagem dramática e, agora, está estreando seu primeiro trabalho dirigido ao público infantil. Trata-se de Traça-Letra e Traça-Tudo, texto original de Luciana Savaget e de Ricardo Gontijo, com direção de Desirée Pessoa, com assistência de direção de Samuel Oliveira e Luana Milidiu, para as interpretações de Lauren Braga e Marlon Cruz.
O enredo gira em torno de duas traças que vivem em uma biblioteca, sendo que a segunda, Traça-Tudo, é muito comilona e, por causa disso, acaba comendo a página de um livro com uma palavra que lhe provocará fortes dores de estômago, situação que Traça-Livro tentará resolver, descobrindo qual seria a palavra que provocou tal situação no companheiro. Dito assim, a ideia é interessante para ser desenvolvida em um espetáculo de cerca de quarente minutos. O espaço utilizado é duplamente organizado, a partir da própria sede do NEELIC. Um primeiro espaço é uma sala onde foi estabelecido um cenário cuja delimitação são montes de livros dispostos próximos a m adula parede. No espaço disponível entre estes blocos de livros os dois atores desenvolvem parte de suas ações. O outro espaço resulta sobretudo de uma combinação eficiente da tecnologia visual com a disponibilidade de espaços físicos que permitem a existência de outros dois ambientes em que cada um dos personagens atua. Eles cruzam de um para o outro espaço, no desenvolvimento da trama.
O enredo, em si, é interessante. Mas o texto deixa a desejar e frustra o espectador. Em mais do que metade do espetáculo nada acontece, de fato, a não ser diálogos gratuitos e perdidos, que não se vinculam àquilo que, de repente, então ocorre: a dor de barriga (ou de estômago) de Traça-Tudo. A partir daí, o enredo se anima um pouco, com uma proposta mais lúdica (embora ainda primária) em que Traça-Letras tenta adivinhar a palavra, buscando letras, com a ajuda do companheiro. A palavra formada numa espécie de lousa tem as letras invertidas, mas gradualmente os personagens chegam a descobri-la e, por consequência, o remédio também é descoberto. De repente, há a intervenção de um personagem ex máquina, que suspende toda a ação dramática, e assim o espetáculo se encerra, sem muita logicidade.
O primeiro problema, pois, que esta primeira experiência da dramaturgia infantil enfrenta, é de qualidade dramática. O texto é ruim, se perde em divagações que pouco rendem em ações dramáticas e pouco prendem a atenção do espectador, sobretudo o espectador mirim. Há umas boas sacadas permitidas pela tecnologia, que são as intervenções de José de Alencar e de Machado de Assis, mas mesmo isso se perde no espetáculo, porque não têm consequência, o mesmo ocorrendo com aquela intervenção final, que poderia ser uma saída muito criativa, mas que também, pela intempestividade da sequência, acaba sem muito sentido.
Outro problema sério enfrentado pelo trabalho é a encenação em si, mas que me parece deriva sobretudo da precariedade das interpretações. Infelizmente, o espetáculo musical pretende utilizar, em sua narratividade, canções variadas. E isso é um desastre, porque nenhum dos dois intérpretes consegue manter as tonalidades das melodias necessárias. E a intromissão das composições se tornam, assim, interrupções da ação dramática. Há que rever este aspecto com urgência, porque tais passagens põem todo o trabalho a perder.
No que toca à encenação, ainda, ou a direção não conseguiu adaptar-se ao formato visual, ou os intérpretes não se encaixaram correta mente nesta perspectiva, mas parece que os personagens estão apertados contra a parede, do mesmo modo que, ao final, o personagem de aparição inusitada parece estar agachado para caber dentro da imagem, o que é ridículo.
Há mais problemas. Os personagens falam em um Dicionário de palavras, mas a imagem mostra, claramente, tratar-se de um volume intitulado Dois amores... Por fim, as traças gostam de papel, mas lá está, no balcão de uma delas, um pedaço de bolo... o que faria este bolo ali? Traças comem bolo? Enfim, e em resumo: a iniciativa é válida, há ideias boas, mas, de modo geral, o espetáculo não condiz com a tradição de qualidade e de criatividade do grupo. Felizmente, é uma produção em vídeo, que pode ser revista, corrigida e relançada, em futuro imediato.
 
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