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Teatro

- Publicada em 30 de Julho de 2021 às 03:00

Atualizando um mestre

Antonio Hohlfeldt
Houve um momento, no Brasil, e isso não está muito longe no tempo, em que o ator de teatro aprendia no próprio palco. Nossa primeira escola de teatro nasceu no Rio de Janeiro, em 1908, atrelada ao Teatro Municipal, e seu primeiro diretor foi Coelho Neto. Em Porto Alegre, o Centro de Arte Dramática, vinculado à UFRGS, nasceu no dia 30 de dezembro de 1957, sendo seu primeiro diretor Ruggero Jacobbi, que se encontrava no centro do país, integrando grupo de artistas italianos que haviam se deslocado de seu país para o Brasil, depois da II Grande Guerra, e que tiveram significativa influência na formação de alguns de nossos principais grupos teatrais do Rio de Janeiro e de São Paulo, e, sobretudo, do movimento cinematográfico. Jacobbi foi coadjuvado por dois então jovens talentos locais, Fernando Peixoto e Lineu Dias. A Lineu Dias tive a oportunidade de entrevistar para o Correio do Povo, ele também ligado ao cinema. Fernando Peixoto foi amigo especial, tanto que, por sua sugestão, participei do júri de dramaturgia do prêmio do então Serviço Nacional de Teatro, que premiaria a Patética, de João Ribeiro Chaves, que denunciava o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, fato que já contei aqui neste espaço.
Houve um momento, no Brasil, e isso não está muito longe no tempo, em que o ator de teatro aprendia no próprio palco. Nossa primeira escola de teatro nasceu no Rio de Janeiro, em 1908, atrelada ao Teatro Municipal, e seu primeiro diretor foi Coelho Neto. Em Porto Alegre, o Centro de Arte Dramática, vinculado à UFRGS, nasceu no dia 30 de dezembro de 1957, sendo seu primeiro diretor Ruggero Jacobbi, que se encontrava no centro do país, integrando grupo de artistas italianos que haviam se deslocado de seu país para o Brasil, depois da II Grande Guerra, e que tiveram significativa influência na formação de alguns de nossos principais grupos teatrais do Rio de Janeiro e de São Paulo, e, sobretudo, do movimento cinematográfico. Jacobbi foi coadjuvado por dois então jovens talentos locais, Fernando Peixoto e Lineu Dias. A Lineu Dias tive a oportunidade de entrevistar para o Correio do Povo, ele também ligado ao cinema. Fernando Peixoto foi amigo especial, tanto que, por sua sugestão, participei do júri de dramaturgia do prêmio do então Serviço Nacional de Teatro, que premiaria a Patética, de João Ribeiro Chaves, que denunciava o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, fato que já contei aqui neste espaço.
Do DAD surgiram gerações de críticos, como Cláudio Heemann, atores e diretores, como Jairo Andrade, e pesquisadores, como José Ronaldo Faleiro, a quem conheci em Esperando Godot. Quando aluno do curso de Letras, na UFRGS, fiz inúmeras disciplinas optativas no DAD, convivendo de perto com um dos nomes mais referenciais da época, ainda hoje em destaque, que é Luiz Arthur Nunes. Muitos anos depois, por sugestões de Sérgio Silva e de Ivo Bender, então professores no DAD, fui professor adjunto daquela instituição, perfazendo, em duas ocasiões diversas, quatro anos de trabalho no mal cuidado mas sempre simpático prédio da rua General Vitorino.
Desta escola continuam saindo gerações de atores, diretores e pesquisadores, de enorme qualificação, como é o caso de Marcelo Adams. Marcelo é um ator de exceção, mas agora soma a esta trajetória uma colaboração ímpar, ao publicar sua pesquisa de pós-doutoramento realizada na Espanha, a respeito das ideias e da atuação de Adolphe Appia, teórico e cenógrafo suíço de fundamental importância para os caminhos das artes cênicas ao longo do século XX e ainda hoje.
Adolphe Appia - Atuação teatral, música e espaço (Giostri, 2021) é uma obra ambiciosa e desde logo se coloca como bibliografia obrigatória, e não apenas em língua portuguesa. O final do século XIX e o início do século XX revelaram um conjunto de pesquisadores e teóricos vinculados às artes cênicas que acabariam por influenciar o teatro e o cinema que se seguiria. Tudo começou, de certo modo, com Richard Wagner, que, ao desenvolver o conceito de uma arte para o futuro, idealizou a arte total. A criação de suas óperas obedeceu a estes princípios, e um de seus principais encenadores foi, justamente, Adolphe Appia que, com Edward Gordon Craig, de fato repensaram o que fosse o conceito de um espetáculo.
Appia e Craig, dentre outros, formam um conjunto, no entanto, de que muito ouvimos falar, mas a quem pouco lemos, hoje em dia. Talvez porque eles não escreveram tanto, preferindo realizar suas ideias, concretizando-as nos espetáculos que assinaram e das quais, felizmente, ainda temos alguma documentação, como desenhos, fotografias, alguns pequenos registros cinematográficos. No caso de Adolphe Appia, ficou-nos o conceito do ator (melhor dizendo, do corpo do ator) enquanto arte viva. A estes teóricos e realizadores o teatro ficou devendo a ultrapassagem da ditadura do texto dramático.
Pois todo este conjunto de reflexões, uma excelente contextualização e uma recriação e reanimação de suas idéias e princípios, encontramos no livro de Adams. Mais do que fiel súdito, contudo, o que já seria positivo, Marcelo Adams se coloca como seguidor crítico, que é capaz de interpretar e aprofundar as perspectivas do próprio autor a quem estuda. O resultado é um mergulho envolvente e admirável no tempo e na obra de Adolphe Appia, que junta, à estética, a filosofia, a cinestesia, o autoconhecimento etc.
 
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