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Teatro

- Publicada em 23 de Julho de 2021 às 03:00

Alegre e entusiasmada triste história da paixão de um cello

Antonio Hohlfeldt
O termo opereta é italiano e significa uma ópera pequena. A ópera geralmente é trágica, de longa duração. A opereta, em geral, é de menor duração e seu tema é mais leve, terminando quase sempre num happy end. Arthur Barbosa resolveu chamar sua obra de operita, talvez para abrasileirar o gênero. Mas seguiu à risca os figurinos históricos: sua Operita Violoncello tem uma hora de duração e se não termina exatamente em um happy end também não se encerra com nenhum lance trágico. O que chama a atenção na composição, que tem libreto de Álvaro Santi, é o fato de ser uma peça de câmara, escrita para orquestra de dez violoncelos. O cello é um instrumento que tem escassez de obras deste tipo. Barbosa colabora, na verdade, com o repertório mundial. Musicalmente falando - e esta não é minha especialidade - a composição faz a releitura de algumas obras do cancioneiro popular, o que a torna anda mais interessante. Quanto ao tema, propõe um enredo no mínimo surpreendente: Maria é uma violoncelista de renome internacional que faz de seu instrumento de expressão sua paixão. Em certo momento, o cello adquire personificação, também apaixonado por ela. Ocorre, contudo, que ela vem a conhecer Juan (alusão ao mito do conquistador que está presente na obra de Tirso de Molina, Molière e Mozart, dentre outros) e troca a antiga paixão pelo jovem sedutor.
O termo opereta é italiano e significa uma ópera pequena. A ópera geralmente é trágica, de longa duração. A opereta, em geral, é de menor duração e seu tema é mais leve, terminando quase sempre num happy end. Arthur Barbosa resolveu chamar sua obra de operita, talvez para abrasileirar o gênero. Mas seguiu à risca os figurinos históricos: sua Operita Violoncello tem uma hora de duração e se não termina exatamente em um happy end também não se encerra com nenhum lance trágico. O que chama a atenção na composição, que tem libreto de Álvaro Santi, é o fato de ser uma peça de câmara, escrita para orquestra de dez violoncelos. O cello é um instrumento que tem escassez de obras deste tipo. Barbosa colabora, na verdade, com o repertório mundial. Musicalmente falando - e esta não é minha especialidade - a composição faz a releitura de algumas obras do cancioneiro popular, o que a torna anda mais interessante. Quanto ao tema, propõe um enredo no mínimo surpreendente: Maria é uma violoncelista de renome internacional que faz de seu instrumento de expressão sua paixão. Em certo momento, o cello adquire personificação, também apaixonado por ela. Ocorre, contudo, que ela vem a conhecer Juan (alusão ao mito do conquistador que está presente na obra de Tirso de Molina, Molière e Mozart, dentre outros) e troca a antiga paixão pelo jovem sedutor.
O enredo é simples, mas está bem desenhado. Evidentemente a peça não pretende nenhum arroubo de profundidade poética: é um divertimento leve, que explora as potencialidades do instrumento, sugere certo erotismo nas relações entre a musicista e o instrumento e, por fim, apresenta o tema que tem inspirado milhares de obras ao longo da história da arte: a formação de um triângulo amoroso.
A direção de Jacqueline Pinzon também é surpreendente pela exploração de potencialidades. Ela faz uma leitura que, se parte do surrealismo de Dalí, chega ao minimalismo originado do abstracionismo do começo do século XX. O espaço cênico está desnudo, a iluminação de Maurício Moura, o visagismo de Cassiano Pellenz e os figurinos de Antonio Rabana preenchem os vazios. Duas bailarinas - Pâmela Manica e Janaína Nocchi - contracenam com os personagens e funcionam como contra-regras, trazendo e levando os objetos de cena, em especial uma cama de casal e uma espécie de pódio em que a musicista se coloca quando se apresenta em público. Jacqueline ainda se valeu de projeções de vídeos, de Maurício Casiraghi, sobretudo nos momentos iniciais do espetáculo, que preenchem inclusive alguns vazios do libreto, mostrando hipotéticas manchetes de jornais internacionais que documentam o sucesso da artista em palcos que atravessam o mundo.
A encenação propõe-se a concretizar uma dinamização da narrativa, tornando-a concreta e atraente, visualmente, aos olhos do espectador. Há excelentes combinações de diferentes linguagens, como na passagem em que a musicista brinca com uma miniatura de boneca e um violoncelo, que seriam quase invisíveis ao público, mas cujos detalhes são captados eficientemente por uma câmera que os projeta na tela que funciona como pano de fundo.
A encenação também teve alguns lances de alguma coragem cênica nas relações entre os amantes. Neste sentido, Angela Diel, mezzo-soprano de registro muito forte e seguro, apresenta-se com muita naturalidade, repartindo o espaço com o baixo Daniel Germano, que evidencia versatilidade para diferentes personagens, além de um registro simpático, claro e de boa extensão. Por fim, a pobre e frustrada figura do violoncelo personificado é assumida por Raul Voges, que faz uma excelente personificação, um pouco bruxa de pano, e a quem cabe, também, os comentários sobre o drama, que são recitados e não cantados. Por fim, o cachorro Buzz rouba a cena e dá humanidade (incrível!) a todo o espetáculo porque, de certo modo, representa o espectador, mas vivendo na proximidade e intimidade da história ali performada.
Viabilizada pela Lei Aldir Blanc, a montagem evidencia o quanto esta legislação tem permitido não só a sobrevivência dos artistas quanto a criação de obras que, talvez, em outro contexto, jamais teriam a oportunidade de se concretizarem. Vale destaque à sensibilidade da produtora Maria Aparecida Herok que, apesar da pandemia, não desistiu do projeto. Agora, é torcer que a produção possa ser vista por outras plateias, pois pode inspirar outras experiências.
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