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Teatro

- Publicada em 08 de Julho de 2021 às 22:27

Esquisito como cada um de nós

Antonio Hohlfeldt
Fechando a série de quatro espetáculos escolhidos por júri indicado pelo Instituto Ling, o Ponto de Teatro trouxe um trabalho absolutamente diferente e inovador, Sr. Esquisito, a partir de texto original do dramaturgo Hermes Bernardi Jr., falecido ainda muito jovem, em 2015. Literalmente, Sr. Esquisito tornou-se um espetáculo radicalmente criativo, graças ao roteiro e direção de Arlete Cunha, Evandro Soldatelli e Rodrigo Vrech, que são também os seus intérpretes. É um trabalho relativamente curto (outro ponto de inteligência da criação, tendo em vista sobretudo o suporte em que foi concretizado), com pouco mais de meia hora de duração, mas cuja inventividade o torna uma espécie de caleidoscópio, uma aventura cujas mudanças de foco narrativo e de meios de narração estão sempre ocorrendo, de maneira que a gente nunca sabe ao certo o que pode esperar.
Fechando a série de quatro espetáculos escolhidos por júri indicado pelo Instituto Ling, o Ponto de Teatro trouxe um trabalho absolutamente diferente e inovador, Sr. Esquisito, a partir de texto original do dramaturgo Hermes Bernardi Jr., falecido ainda muito jovem, em 2015. Literalmente, Sr. Esquisito tornou-se um espetáculo radicalmente criativo, graças ao roteiro e direção de Arlete Cunha, Evandro Soldatelli e Rodrigo Vrech, que são também os seus intérpretes. É um trabalho relativamente curto (outro ponto de inteligência da criação, tendo em vista sobretudo o suporte em que foi concretizado), com pouco mais de meia hora de duração, mas cuja inventividade o torna uma espécie de caleidoscópio, uma aventura cujas mudanças de foco narrativo e de meios de narração estão sempre ocorrendo, de maneira que a gente nunca sabe ao certo o que pode esperar.
De um lado, temos os atores num espaço cênico que é o próprio palco do Instituto Ling. Algumas cenas se passam ali, mas logo se espalham inclusive pela platéia do teatro. Mas outras acontecem num espaço qualquer onde se reconstitui o espaço dramático específico, como por exemplo, um quarto de dormir, mediante simples mas eficientes adereços; contudo, em outros momentos podemos ter animações com pedaços de papel colorido que vão sendo utilizados por um personagem humano na montagem da figura do personagem do Sr. Esquisito, o herói da narrativa, que nem é tão esquisito assim, diga-se de passagem, assemelhando-se em muito a qualquer um de nós, o que distancia imediatamente a narrativa de uma metanarrativa, aspecto que é ainda mais evidenciado justamente pelas constantes trocas de modos de narração e concretização da narrativa. Em algum momento, uma menina - Helena Ruas Vrech, com participação especial - surge do nada no espetáculo e transforma-se em metáfora de toda a plateia ideal que todo e qualquer trupe gostaria de receber. Ela torce e ri com os acontecimentos e, no final, num novo deslocamento metanarrativo, ela anuncia o "fim" da encenação.
Para que tudo isso funcione a contento, foi absolutamente fundamental a afinação da equipe: Cleo Magueta assina a cenografia, mas ela vai além dos espaços, pura e simplesmente, porque ela os ultrapassa, complementando-se nos figurinos criados por Lígia Rigo e o grupo, a iluminação de Nara Maia e, sobretudo, a animação de Manoel C. Magueta e a direção de vídeo, fotografia e montagem de todo o trabalho a cargo de Marcelo Bacana (nome mais do que apropriado, diga-se de passagem).
O espectador fica absolutamente embevecido, seduzido, envolvido, encantado e tudo o mais que se quiser dizer a respeito deste espetáculo que é profundamente criativo e renovador da linguagem cênica, cujas combinações nos permitem literalmente "viajar" pela fantasia. É um jogo - o trabalho é extremamente lúdico -, mas é também uma provocação a todas as potencialidades que cada ser humano tem a seu alcance para se expressar e a seus sentimentos e experiências. Ao colocar em discussão o que seja ser "esquisito", longe de fazê-lo apenas conceitualmente, o grupo conseguiu mostrar algumas "esquisitices" cuja inventividade as artes nos permitem produzir, "como todo o mundo", conforme reza o texto de Bernardi Jr. Aliás, não conhecia o texto de Bernardi Jr. Até tê-lo lido quando da seleção dos trabalhos, e tenho convicção de que este é daqueles raros momentos em que o texto original saiu profundamente enriquecido por uma leitura multissensorial e plurissignificativa que potencializa decididamente as intenções latentes da obra original.
Alternando funções de narradores com personificações, Arlete Cunha, Evandro Soldatelli e Rodrigo Vrech - ah, sim, reitero, não esquecer a simpática Helena Ruas Vrech -, evidenciam que a empatia é fundamental num espetáculo deste tipo. Por fim, a trilha sonora de Marcio Petracco, Pedro Rocha Petracco e Chico Petracco, que animam todo o trabalho, surge ao final, para coroar a encenação. O conjunto se fecha em alto, e só podemos agradecer, profundamente emocionados, o momento de poesia, de alegria, de enlevo que tal coletivo nos propiciou.
Não cabe, evidentemente, comprar qualquer um dos quatro espetáculos apresentados entre si, porque cada um trouxe uma proposta específica. Mas se eu tivesse de ficar com apenas um, para levar comigo para aquela ilha, lembram? Ficaria com este. Ele é verdadeiramente esquisito e, por isso mesmo, se torna parte de cada um de nós.
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