Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 18 de Junho de 2021 às 03:00

A urgência para os concursos de dramaturgia

Antonio Hohlfeldt
Houve um tempo em que Porto Alegre, através de sua Secretaria Municipal de Cultura, fazia um concurso anual de dramaturgia, homenageando o dramaturgo, diretor e ator Carlos Carvalho. Participei do júri deste concurso em algumas de suas edições. Houve um tempo em que se chegou a reivindicar que a secretaria Municipal de Cultura não só publicasse os textos premiados quanto instituísse também um prêmio de auxílio às montagens dos mesmos. Nas últimas administrações, porém, isso tudo desapareceu.

Houve um tempo em que Porto Alegre, através de sua Secretaria Municipal de Cultura, fazia um concurso anual de dramaturgia, homenageando o dramaturgo, diretor e ator Carlos Carvalho. Participei do júri deste concurso em algumas de suas edições. Houve um tempo em que se chegou a reivindicar que a secretaria Municipal de Cultura não só publicasse os textos premiados quanto instituísse também um prêmio de auxílio às montagens dos mesmos. Nas últimas administrações, porém, isso tudo desapareceu.

Houve um tempo em que o Instituto Estadual do Livro criou um prêmio anual de Literatura, denominado Açorianos, entregue periodicamente em torno do mês de novembro. Mas parece que, seguindo o preconceito infelizmente existente nos cursos de Letras de nossas universidades, esqueceu-se de incluir a dramaturgia como uma de suas categorias.

Houve um tempo, ao nível da administração federal, que existia um Serviço Nacional de Teatro que, mesmo durante o tempo da ditadura, manteve um respeitoso projeto de financiamento de espetáculos teatrais e chegava a promover um concurso nacional de dramaturgia. Participei de um destes júris, aquele que premiou o texto Patética, de João Ribeiro Chaves, um autor desconhecido que veio a se saber, depois, era cunhado do jornalista Vladimir Herzog, assassinado duma cela da operação Oban, em São Paulo, na ditadura. A peça fazia, metaforicamente, a denúncia do crime. Houve ameaça de prisão aos jurados, mas graças à coragem e ao equilíbrio do então diretor do SNT, o produtor Orlando Miranda, tudo foi resolvido a contento, o prêmio foi concedido, a peça publicada e, enfim, depois da ditadura, montada, inclusive aqui em Porto Alegre, pelo diretor Dilmar Messias. Depois, houve tanto mexe-mexe no SNT, que ele desapareceu nas dobras da Funarte e nunca mais se falou disso.

Em âmbito federal, sabemos que coisas pioraram. Quando um secretário Nacional de Cultura despacha em seu escritório com um revólver sobre a mesa, o que conceituar como Cultura? Felizmente para nós, contudo, a administração de Beatriz Araujo, à frente da Sedac, há dois anos e meio, trouxe alento e dinâmica que só havíamos conhecido na época de Carlos Jorge Appel. Ao nível municipal, depois das frustrações da última administração, a chegada de Gunter Axt devolve uma esperança a todos nós.

Por todos estes motivos, é bem-vindo, merece apoio decidido e deve ser atendido, o duplo pedido que um coletivo de artistas e instituições como o Conselho Estadual de Cultura e a Associação Gaúcha de Escritores está encaminhando às nossas autoridades para a reativação do Prêmio de Dramaturgia Carlos Carvalho - ao nível municipal -, além do Prêmio Ivo Bender de Dramaturgia, promovido pelo Ieacen, e uma nova categoria (a de dramaturgia) a ser incluída no Prêmio Açorianos de Literatura. O pleito quase dispensa explicações. Homenagear Carlos Carvalho e Ivo Bender é sempre oportuno e nunca reconhecerá suficientemente a importância destes dois criadores. Beatriz Araujo, que mostrou uma dinâmica invejável na administração do Prêmio Aldir Blanc; e Gunter Axt, que tem se preocupado especialmente com a valorização de nosso patrimônio histórico, no que segue ao lado da Sedac, certamente reconhecerão a oportunidade e a importância de tais iniciativas. Esta coluna, aliás, junta-se decididamente a este movimento e por isso sai aqui publicada, tornando pública minha posição, como jornalista que, ao longo de mais de 20 anos, vem cobrindo nosso movimento dramático e como um espectador sempre animado pelo movimento dramatúrgico da cidade, que acompanho de perto, quer enquanto professor universitário, quer enquanto editor. Somos ainda poucos. Vivemos uma enorme crise provocada não apenas pela pandemia, quanto pelos movimentos ideológicos de ódio e de marginalização dos considerados "outros" em relação ao "geral" da sociedade. É importante, por isso, que estes espaços sejam (re)abertos e valorizados. Temos muita gente boa/excelente escrevendo para teatro. Eles precisam de espaço e de reconhecimento. A hora é agora. É na crise que a gente avança.

Houve um tempo em que a gente contava nos dedos de uma única mão o número de dramaturgos existentes em nosso Estado. Hoje, a situação é bem diferente, com mais de uma vintena de dramaturgas e outro tanto de dramaturgos.

Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO