Quando as luzes finalmente se apagaram, na plateia do Theatro São Pedro, no último domingo, foi uma enorme emoção. O velho casarão da Praça da Matriz foi a primeira casa de espetáculos a fechar na cidade, em março do ano passado, e foi, agora, a primeira sala a reabrir suas portas, com todos os cuidados possíveis para se evitar a propagação da pandemia. O espetáculo da agora assim denominada Orquestra Theatro São Pedro, com obras de Gnatalli e Mozart, emocionou as pessoas que acorreram ao teatro.
O melhor, no entanto, é que, tendo tudo decorrido a contento, o Theatro São Pedro projeta uma programação razoavelmente intensa e variada, inclusive na maneira de difusão e acessibilidade dos espetáculos propostos. Ao longo de junho, que é o mês de aniversário da instituição, que estará completando 163 anos de existência, estão previstos três novos concertos, um dos quais marcará, também a retomada das relações entre a Associação de Amigos - agora sob a presidência de Gilberto Schwartzmann - e a Fundação, e cuja formalização deve, inclusive, ocorrer na próxima semana. Outro espetáculo terá a parceria com a Assembleia Legislativa, como já ocorreu no ano passado. O terceiro concerto integra-se à temporada da orquestra, e celebrará o centenário de Astor Piazzolla.
Ao mesmo tempo, durante esta semana começaram as gravações dos espetáculos que constituem a grade de programação do festival Porto Verão Alegre que, deslocado dos meses de janeiro e fevereiro, concretiza-se agora, ocupando os espaços do Centro Histórico da Santa Casa e do Theatro São Pedro, sendo depois apresentados através de redes sociais. Por fim, o próprio teatro terá uma programação de espetáculos variados (para adultos, para crianças, dança e circo), inteiramente gravados, que serão apresentados entre os dias 25 e 27, semana de aniversário da casa, propriamente dita.
Mas não é apenas o Theatro São Pedro que retoma atividades. O Instituto Ling, desde a quarta-feira, reabriu suas atividades, concentrando em uns poucos dias os espetáculos que foram selecionados, ainda no ano passado, através de edital de cuja equipe de seleção, inclusive, eu participei.
O Ponto de Teatro retomou atividades com a peça
Paraíso afogado (texto de Thomas Köck e direção de João de Ricardo) que, de certo modo, dá continuidade a um espetáculo apresentado há dois anos atrás, seguido por
Quase corpos (Ói Nóis aqui Traveiz em versão livre de
Krapps' last tape, de Samuel Beckett), que estreou na quinta-feira, seguindo-se a peça infantil
A Vó da menina, nesta sexta- feira, e
Senhor Esquisito, no sábado.
Outra atividade que começa a ocorrer é a
estreia de Edifício Cristal, na Casa de Cultura Mario Quintana. O espetáculo é diferenciado: trata-se de uma instalação idealizada por Liane Venturella, com concepção de interiores de Liane Venturella e Nelson Diniz, textos de Carlos Ramiro Fernsterseifer, Liane Venturella e Nelson Diniz. É um cenário de uma cristaleira, com bonecos a serem animados, contendo um total de 11 curtas histórias de moradores hipotéticos deste espaço, num espetáculo de pouco mais de meia hora. As visitações devem ser agendadas pelo e-mail
[email protected], com apresentações até 11 de junho. A produção é da Cia Incomode-Te, que vem realizando excelentes trabalhos na cidade.
Em suma, em que pesem as restrições necessárias, os cuidados obrigatórios e as ameaças permanentes quanto ao eventual recrudescimento da pandemia, há um esforço evidente dos responsáveis pelas nossas casas de espetáculo para retomar atividades, oferecendo produções de qualidade para o público que, a se observar a partir do concerto de reabertura do Theatro São Pedro, está sedento por esta oportunidade. Registre-se que o mesmo Theatro São Pedro, desde fevereiro, apresenta, todas as quintas-feiras, espetáculos da série Mistura Fina, todos gravados e reproduzidos pelas redes sociais do teatro, com variada oferta de gêneros musicais.
É de esperar, agora, que estes esforços encontrem apoio do público e compreensão de potenciais patrocinadores. Do público, porque há que seguir as determinações dos eventuais espaços em que haja espetáculos ao vivo. E dos patrocinadores porque, sem contar com bilheterias, os trabalhadores culturais precisam ter apoio de empresários sensíveis que entendam a importância da arte e da sensibilidade como alternativa de sobrevivência.
Nas próximas colunas, vamos procurar registrar alguns destes espetáculos mais diretamente vinculados ao campo das artes cênicas, como tem sido tradicional neste espaço.