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Teatro

- Publicada em 21 de Maio de 2021 às 03:00

Eva Wilma: Presente!!!

Antonio Hohlfeldt
Eva Wilma é natural de São Paulo, onde nasceu em 1933, logo depois da revolução de 1930 e durante o levante paulistano contra Getúlio Vargas, alegadamente em prol de uma constituição, em 1932. Mas tem outro detalhe: sua família era de judeus emigrados para o Brasil, fugindo dos pogroms, mas sua mãe resolveu casar com um católico, e ainda por cima, alemão!!! Eva teve uma relação bastante equilibrada, e que se tornou icônica, na televisão, com o ator John Herbert, com quem contracenava uma série intitulada Alô, Doçura!, parte autobiográfica, parte ficcional, mas que, para o público, era absolutamente mimética da vida do casal. Depois, surgiu Carlos Zara, e esta relação só se interrompeu com a morte do ator.
Eva Wilma é natural de São Paulo, onde nasceu em 1933, logo depois da revolução de 1930 e durante o levante paulistano contra Getúlio Vargas, alegadamente em prol de uma constituição, em 1932. Mas tem outro detalhe: sua família era de judeus emigrados para o Brasil, fugindo dos pogroms, mas sua mãe resolveu casar com um católico, e ainda por cima, alemão!!! Eva teve uma relação bastante equilibrada, e que se tornou icônica, na televisão, com o ator John Herbert, com quem contracenava uma série intitulada Alô, Doçura!, parte autobiográfica, parte ficcional, mas que, para o público, era absolutamente mimética da vida do casal. Depois, surgiu Carlos Zara, e esta relação só se interrompeu com a morte do ator.
Eva ganhou muitos prêmios, mas talvez merecesse muitos mais. Ela nunca se preocupou com isso, valorizava a reação do público, mais que a avaliação da crítica.
Eva começou a carreira artística como bailarina, com Maria Olenewa. Numa fotografia autografada de 1942, aos 11 anos de idade, vaticina: "Esperando ser brilhante minha carreira, deixo aqui uma recordação do início desta". Assinava-se, então, Eva Wilma Riefle. Sabia o que queria e definia sua vida.
A minha Eva Wilma é a jovem atriz do filme São Paulo S.A., de Luiz Sérgio Person, ainda dos tempos do preto & branco, em que ela contracena com Walmor Chagas. Ele vive um entusiasmado jovem arrivista, bem na época do surgimento da indústria de automóveis. Ela interpreta uma menina que estuda o idioma inglês para ser secretária. O romance desanda em tragédia. Eva vai da figura desta ingênua mocinha à dramática experiência da mulher traída e abandonada pelo marido, sequência da separação que abre o filme: inesquecível. Vi-a em muitas peças de teatro, aqui em Porto Alegre ou no Centro do País. Reencontrei-a nas múltiplas fotografias que Eva Sopher espalhou por todo o memorial do Theatro São Pedro.
Dos volumes que compuseram a Série Teatro Brasileiro, com entrevistas realizadas pelo ator Simon Khoury com diferentes figuras das artes cênicas (Editora Letras & Expressões), encontro o longo encontro com Eva Wilma, já às vésperas da morte de Carlos Zara (2002). São 120 páginas de diálogo das quais escolhi:
  • Sobre época de ensaios de novo papel: "nessa fase, eu entro em crise, porque passo a fazer uma busca profunda da personagem. Essa busca acontece dentro e fora de mim, ou seja: procuro nos outros e em mim... e entro em crise porque cada personagem me transforma, me faz passar por uma mudança qualitativa" (p. 17)
  • Sobre a crítica: "Depois de 48 anos de trabalhos ininterruptos, devo ter alguns machucadinhos, arranhões, não vou negar... todas as ocasiões que acumulei teatro com televisão, isso me desgastou, no entanto, estou inteirinha, graças a Deus, cheia de cicatrizes, mas plena. E pronta para recomeçar, sempre" (p. 25).
  • Sobre sua experiência artística: "o piano foi muito marcante na minha infância, sinto muita falta dele e estou pensando seriamente em adquirir um agora, daqueles imensos de causa, mas a dança, para mim, foi um estudo fascinante. O uso do espaço está, até hoje, como minha base e forma de realização mais completa. Se eu não tivesse dançado, provavelmente não seria atriz" (p. 29).
  • Sobre sua participação política, em especial durante a ditadura pós-1964: "Não vejo nenhum mérito nisso. Qualquer artista consciente faria a mesma coisa. O artista necessita primordialmente de liberdade, meu Deus, e, necessariamente, não tem que ser um ativista político (...) 1969, um ano terrível para todos e nós artistas padecemos muito, fomos castrados em nossa criatividade, fomos amordaçados e fomos perseguidos" (p. 35).
E termino com esta:
  • "Vamos chorar juntos e depois sorrir a valer. Desse modo, mostraremos as faces da comédia e um pouco menos da tragédia, porque esta é finita. Vou encerrar nossa entrevista, nossa aventura deliciosa, emocionada e divertida, com uma frase do John Gassner [crítico de teatro norte-americano]: O teatro é a mais viva manifestação do espírito criador do homem" (p. 138).
 
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