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Teatro

- Publicada em 16 de Abril de 2021 às 03:00

Cacilda Becker faz falta no momento em que vivemos

Antonio Hohlfeldt
As comemorações, mesmo que relativamente diminutas, do centenário de nascimento da atriz Cacilda Becker, cujo nascimento ocorreu num 6 de abril de 1921, vinco ela a falecer num 14 de junho de 1969, depois de 38 dias de um derrame cerebral, é um oportuno momento para se refletir a respeito do papel do artista, de modo geral, na sociedade, em especial na sociedade brasileira, e nos desafios que a mulher atriz sofreu em sua vida e em sua carreira, ao longo das décadas, no Brasil, graças aos preconceitos contra ela. Cacilda enfrentou e venceu a todos eles e, mais: também assumiu papel de relevância na militância pela liberdade de expressão, colocando-se contra a censura, nos difíceis anos posteriores ao AI-5, mesmo que tendo vivido poucos meses depois de sua decretação.
As comemorações, mesmo que relativamente diminutas, do centenário de nascimento da atriz Cacilda Becker, cujo nascimento ocorreu num 6 de abril de 1921, vinco ela a falecer num 14 de junho de 1969, depois de 38 dias de um derrame cerebral, é um oportuno momento para se refletir a respeito do papel do artista, de modo geral, na sociedade, em especial na sociedade brasileira, e nos desafios que a mulher atriz sofreu em sua vida e em sua carreira, ao longo das décadas, no Brasil, graças aos preconceitos contra ela. Cacilda enfrentou e venceu a todos eles e, mais: também assumiu papel de relevância na militância pela liberdade de expressão, colocando-se contra a censura, nos difíceis anos posteriores ao AI-5, mesmo que tendo vivido poucos meses depois de sua decretação.
Cacilda Becker estreia como intérprete amadora, em 1941, no Teatro do Estudante do Brasil, de Paschoal Carlos Magno. Logo chama a atenção. Em decorrência de suas interpretações, logo vai se profissionalizar: as críticas de seus trabalhos sempre destacam a naturalidade com que a atriz assume as personalidades e características de suas personagens, ainda que as mais diversas. Irmã de Cleyde Yaconis, chegaria a repartir o palco com ela, em Esperando Godot, de Samuel Beckett, num espetáculo em que ambas as atrizes viviam travestidas os dois controversos personagens.
Do teatro para o rádio, e depois para a televisão, chegando até o cinema: este era o caminho mais ou menos natural de uma boa atriz. O que era mais difícil é verificar que em todo e qualquer meio de comunicação a atriz encontrou modos específicos de realizar suas tarefas, fazendo com que a crítica sempre a destacasse, inclusive a crítica estrangeira, quando chegou a viajar ao exterior com alguns de seus espetáculos.
Sucessivamente, Cacilda Becker integrou o Grupo Universitário de Teatro e Os Comediantes (onde trabalhou com Ziembinski), formando depois sua própria companhia. Nos difíceis anos da ditadura posterior a 1964, assume a presidência da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, onde enfrenta decididamente a censura, tornando-se, por isso, persona non grata ao regime. Em 1968, ao lado de Augusto Boal, defende, junto aos censores, a apresentação completa de todos os espetáculos da feira Paulista de Opinião, e participou de passeatas e manifestações públicas, ao lado de Paulo Autran e de Walmor Chagas, assinando manifestos e pleiteando a liberdade absoluta dos espetáculos teatrais, coisa que evidentemente, não atingiu.
A atividade de Cacilda Becker ajudou a que a crítica e o público em geral se desse conta que a responsabilidade de uma atriz ia bem além de uma bonita estampa, simpatia e relações sociais. Ela é, neste sentido, uma das pioneiras da valorização profissional do ator de teatro e, muito especialmente, da atriz de teatro, cuja condição social, ainda nos anos 1940, não ia muito adiante da condição de prostituta de luxo.
Respeitada pelos colegas, valorizada pelos diretores de cena, reconhecida pela crítica, ela compôs um conjunto de interpretações que poucos profissionais podem ostentar em uma carreira. Mas não se satisfazendo com esta vitória, que seria a principal de uma carreira, dedicou-se a defender e fazer reconhecer a própria profissão, sobretudo alinhando-se com aqueles que entendiam ser a liberdade de expressão condição sem o quê nada mais poderia ser almejado. Enfrentou com coragem e serenidade (características de suas interpretações, diga-se de passagem), as ameaças e as dificuldades que se colocaram a sua frente. Não baixou a cabeça, não tergiversou, não admitiu lisonjas, e como boa parte de suas personagens, sempre se mostrou uma figura forte, coerente e capaz de se colocar ombro a combro com seus colegas de profissão, inclusive os homens.
Por tudo isso, celebrar o centenário de nascimento de Cacilda Becker é mais do que apenas homenagear a atriz, é reconhecer sua contribuição específica para o desenvolvimento da arte dramática em nosso País. Neste momento em que, sobretudo o governo federal e seus asseclas tentam desqualificar o segmento artístico e invisibilizar a arte e sua significação social, é importante que se faça justiça à figura de Cacilda Becker. Ela faz falta, mais que nunca, em momentos como o que atravessamos.
 
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