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Teatro

- Publicada em 26 de Março de 2021 às 03:00

Faces femininas em streaming

Antonio Hohlfeldt
O Grupo Teatral Corrente teve uma bonita iniciativa: a produção do espetáculo Faces femininas, exclusivamente em streaming, através do Facebook. A curta temporada ocorreu entre 18 e 21 de março, mas desde a quarta-feira passada (dia 24), o grupo liberou, também gratuitamente, o acesso ao espetáculo, através do link https://www.youtube.com/channel/UCEhFeboWF5KD5yuLRg_4heA.
O Grupo Teatral Corrente teve uma bonita iniciativa: a produção do espetáculo Faces femininas, exclusivamente em streaming, através do Facebook. A curta temporada ocorreu entre 18 e 21 de março, mas desde a quarta-feira passada (dia 24), o grupo liberou, também gratuitamente, o acesso ao espetáculo, através do link https://www.youtube.com/channel/UCEhFeboWF5KD5yuLRg_4heA.
Faces femininas tem a direção de Edgar Benitez e se constitui de cinco monólogos, tirados de cinco diferentes obras de dramaturgos brasileiros e estrangeiros. A seleção, pela ordem como ocorrem no espetáculo, começa com a personagem Selene, de Os sete gatinhos, de Nelson Rodrigues, continuando com Salomé, de Oscar Wilde, e Santa Joana dos matadouros, de Bertolt Brecht; concluindo com Gota d'água, de Chico Buarque (e não Medéia, de Eurípides, como equivocadamente o material promocional antecipa) e a figura de Blanche Dubois, de Um bonde chamado desejo, de Tenesse Williams. Ou seja, uma variedade para ninguém botar defeito.
O Grupo Teatral Corrente estreou suas atividades com uma montagem de Macbeth, de Shakespeare, em 2015, a que se seguiram espetáculos variados como Cinderela pervertida, em 2016; O que terá acontecido com Nayara Glória e A vida secreta de uma estrela pornô, em 2017. Entre 2018 e 2019 montaram Estação primavera: Contando poemas de Casimiro de Abreu, chegando agora a seu primeiro espetáculo em streaming, com cerca de uma hora de duração.
O monólogo que abre a encenação é o de Selene quando faz sua confissão à irmã mais velha, a respeito da violência contra os gatinhos, ainda na escola (daí o título da peça), e o fato de já ter sido iniciada sexualmente, estando naquele momento grávida. A interpretação é de Livia Cardoso, a quem me parece ter faltado maior convicção à personificação.
O pedido que Salomé faz ao padrasto Herodes é a passagem de Oscar Wilde que vem em seguida, interpretada por Lauana Andrada. Ela odeia o profeta João Batista porque este difama sua mãe, Herodias, mas ao mesmo tempo se sente por ele atraída, devido á sua grande força de caráter. Antes de acatar na ordem de Herodes de que dançara para os convivas, ela faz o homem prometer que lhe atenderia qualquer pedido, e então exige a cabeça do profeta. Wilde explora as profundas contradições do desejo e do ódio, mas eu diria que, ainda aqui, a atriz não chegou a alcançar um necessário aprofundamento da personagem.
A terceira sequência é um duplo discurso de Joana dos Matadouros, na peça de Brecht. A seleção acopla duas diferentes falas de Joana que se contradizem entre si. Joana vem aqui personificada um pouco como uma personagem dark, interpretada por Ariane Hipólito, que me pareceu pouco convicta do que diz, sobretudo levando-se em conta que, na obra, sua tarefa é arregimentar os trabalhadores a quem discursa.
A quarta cena nos traz a figura de Joana, na peça de Chico Buarque, que recria a Medéia original de Eurípides. Aqui, Joana é vivida por Joice Tavares, com muita emoção e muita força, com uma tonalidade vocal arrebatada, que por vezes lembra inclusive a interpretação histórica de Bibi Ferreira, na montagem original (e que pode ser consultada a qualquer momento, pelas redes sociais).
Por fim, a Blanche Dubois, na peça de Tenesse Williams, também vive duas falas diferentes também aqui reunidas, a de sua chegada à casa da irmã e de sua retirada, quando os enfermeiros a levam para o manicômio. Na interpretação de Regina Hennies, o primeiro momento é razoavelmente convincente, mas demonstra pouca força na passagem final.
Não conheço os trabalhos anteriores do grupo. A troca de linguagem certamente pode prejudicar uma produção, já que um trabalho deste tipo exige comportamentos diversos àqueles de uma cena aberta. A proximidade da câmera exige muito maior dramaticidade do intérprete. Por exemplo, de modo geral, o cenário está muito escuro, o diretor Benitez precisará dar maior atenção a este detalhe: a câmera não é tão sensível à luz artificial quanto nossos olhos.
De qualquer modo, trata-se de uma produção ousada, politicamente oportuna, neste momento em que todos discutimos a importância de se enfrentarem e vencerem preconceitos étnicos e de gênero. Daí o porquê de destacar este trabalho.
 
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