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Teatro

- Publicada em 04 de Dezembro de 2020 às 03:00

Clarice Lispector e o teatro

Antonio Hohlfeldt
Sou admirador confesso e leitor fiel de Clarice Lispector, de modo que não poderia deixar findar o ano de 2020, em que se comemora o centenário de seu nascimento (1920-2020), sem inscrevê-la nesta coluna. Imaginei, primeiramente, fazer um levantamento de eventuais adaptações de textos em prosa da grande escritora ucraniana - naturalizada brasileira - eu mesmo assisti pelo menos dois destes espetáculos, um ao vivo, Encontro de Beth Goulart com Clarice Lispector, em São Paulo, admirável trabalho que a própria Beth Goulart escreveu e dirigiu, com assistência de Amir Haddad, espetáculo em que a atriz imitava até mesmo a voz rasgada e com erres guturais da fala da escritora, por sua origem. Lembrei-me imediatamente da única vez em que entrevistei Clarice Lispector, para o Correio do Povo, entrevista mediada pelo escritor Erico Verissimo.
Sou admirador confesso e leitor fiel de Clarice Lispector, de modo que não poderia deixar findar o ano de 2020, em que se comemora o centenário de seu nascimento (1920-2020), sem inscrevê-la nesta coluna. Imaginei, primeiramente, fazer um levantamento de eventuais adaptações de textos em prosa da grande escritora ucraniana - naturalizada brasileira - eu mesmo assisti pelo menos dois destes espetáculos, um ao vivo, Encontro de Beth Goulart com Clarice Lispector, em São Paulo, admirável trabalho que a própria Beth Goulart escreveu e dirigiu, com assistência de Amir Haddad, espetáculo em que a atriz imitava até mesmo a voz rasgada e com erres guturais da fala da escritora, por sua origem. Lembrei-me imediatamente da única vez em que entrevistei Clarice Lispector, para o Correio do Povo, entrevista mediada pelo escritor Erico Verissimo.
Neste ano, já agora num espetáculo virtual, assisti a Minhas queridas, focalizando a correspondência entre a escritora e suas irmãs Elise e Tania, entre os anos 1940 e 1950, quando ela morou em sucessivos países, acompanhando o então marido, embaixador. O espetáculo é assinado por Stella Tobar, com interpretações de Marilene Grama e Simone Evarista. O texto - a seleção das passagens das cartas - é sensível - a encenação um pouco menos, mas sobretudo prejudicada por uma aparente simples passagem da versão de palco para a versão digitalizada, o que fez com que o espaço cênico ficasse muito escuro e o espetáculo parecesse por vezes truncado.
Pensava que Clarice Lispector jamais escrevera qualquer texto para a cena dramática. Mas tive uma revelação: há um único texto original dela para o palco, texto de 1948, escrito, segundo ela mesma, apenas como diversão, enquanto esperava o nascimento do filho Pedro. Integrou a primeira edição de A legião estrangeira (1964), numa segunda parte da obra denominada Fundo de gaveta. Toda esta parte do livro foi posteriormente expurgada das edições subsequentes deste livro de contos, como se sabe. Fundo de gaveta, contudo, ganhou autonomia e foi publicado em 1978, sob o título de Para não esquecer (Ática), mas o volume circunscreveu-se aos textos do que se poderia denominar de "crônicas ligeiras".
É só em Outros escritos (Rocco, 2005), organizado por Teresa Montero e Lícia Manzo, que o texto da peça teatral reaparece. Intitula-se A pecadora queimada e os anjos harmoniosos, título incomum - tanto por sua extensão, quanto pelas referências aí incluídas - pecadora, anjos - remetendo, evidentemente, à época da Inquisição: ligaria a mulher à luxúria, à tentação (lembrar o episódio do Paraíso) e ao pecado.
Logo encontrei o volume em questão, na minha biblioteca, e o li de imediato. Prometo escrever sobre a obra na próxima semana.
A internet revelou-me, porém, que muita gente logo se interessou por este texto dramático, talvez até por ser filho único da escritora. Quem pesquisar, vai encontrar pelo menos uma dezena de artigos e até dissertações e teses a seu respeito. A surpresa, contudo, foi descobrir que o estudo mais abrangente e aprofundado sobre as relações entre Clarice Lispector e o teatro, de autoria de André Luís Gomes, chamado Clarice em cena - As relações entre Clarice Lispector e o teatro, estava, não apenas editado pela Universidade de Brasília, quanto disponível, gratuitamente, na internet. Aliás, a peça de teatro também pode ser encontrada gratuitamente na internet, numa versão digitalizada de Todos os contos, da escritora.
Fiquei mais feliz, porém, quando descobri que o livro de André Luís Gomes (2007) estava na minha prateleira e prometo que também vou escrever sobre ele. O volume está organizado em três partes: Na plateia inclui as referências ao teatro em sua correspondência, suas crônicas sobre teatro e entrevistas que ela realizou com artistas de teatro; Nos bastidores traz aspectos como sua tarefa de tradutora de textos dramáticos, avaliação de sua própria dramaturgia e uma discussão sobre a linguagem dramática por ela explorada; por fim, No palco apresenta uma exaustiva relação de seus textos em prosa levados ao palco, ou seja, exatamente aquilo que eu queria trazer para o leitor desta coluna, mas com maior competência do que eu.
Em resumo, fiz um grande círculo, mas cheguei aonde queria. Nas duas próximas semanas, vamos falar sobre Clarice Lispector e o teatro.
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