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Teatro

- Publicada em 29 de Outubro de 2020 às 21:44

Do teatro às performances cênicas

O 27º Porto Alegre em Cena deste ano, com suas alternativas digitais, ofereceu vantagens, mas trouxe desvantagens. A grande e indiscutível vantagem é a mais ampla acessibilidade, a partir de qualquer lugar em que estejamos. Mas duas desvantagens significativas são o eventual desconhecimento de como manipular algumas redes e, de outro lado, a acessibilidade pela disponibilidade de provedores. Eu mesmo, por exemplo, no domingo à noite, tentei assistir a Gaivota, sem êxito.
O 27º Porto Alegre em Cena deste ano, com suas alternativas digitais, ofereceu vantagens, mas trouxe desvantagens. A grande e indiscutível vantagem é a mais ampla acessibilidade, a partir de qualquer lugar em que estejamos. Mas duas desvantagens significativas são o eventual desconhecimento de como manipular algumas redes e, de outro lado, a acessibilidade pela disponibilidade de provedores. Eu mesmo, por exemplo, no domingo à noite, tentei assistir a Gaivota, sem êxito.
Estas serão questões a serem solucionadas para as próximas edições, talvez buscando-se uma acessibilidade universalizada, numa única plataforma, ainda que, claramente, pelo conjunto de obras a que assisti até o momento, talvez isso venha a prejudicar e/ou dificultar a produção de alguns grupos que, mais ousados, experimentam alternativas mais criativas. Enfim, desafios e reflexões a serem desenvolvidas, depois deste enorme esforço - coroado por imenso sucesso - do que organizaram e respondem pelo festival deste ano.
Uma das questões que o 27º Porto Alegre em Cena tem nos propiciado é repensar o conceito de teatro, alargando-o, necessariamente, para o de artes cênicas ou de performances cênicas. Tomemos Marcha a ré, do Teatro da Vertigem que, com a colaboração de Nuno Ramos, mediante comissão da 11ª Bienal de Berlim, propôs uma intervenção artística em plena Avenida Paulista de São Paulo, num horário noturno, em que motoristas participaram de um grande movimento de marcha-a-ré com seus veículos! Isso é quase impensável, mas aconteceu e foi devidamente filmado. Os participantes-atores misturaram-se em meio aos veículos e, com a colaboração dos seus motoristas, organizaram este gigantesco e absolutamente inesquecível balé, saindo do Masp e chegando ao cemitério da Consolação. O mais fantástico é que isso foi pensado em 1931, pelo arquiteto Flávio de Carvalho, um dos ícones do modernismo paulistano... Claro, naquela época, não havia tantos veículos, mas hoje em dia? Pois as coisas aconteceram... Com Antonio Duran como dramaturgista, trilha sonora (que incide no filme) de Erico Theobaldo, figurinos de Renato Bolelli Rebouças (os atores vestem-se com malhas brancas como escafandros, aparelhos de respiração artificial e usam apitos para coordenarem estes movimentos de "contra trânsito"... Participaram motoristas de carros funerários, carros de som e em torno de uma centena de motoristas... O filme vem assinado por Eryk Rocha, com fotografia de Miguel Vassy, Janice dAvila e Luísa Dalé Júnior Lopes.
Depois, tivemos Paraíso afogado, com que o diretor João de Ricardo, da Cia. Espaço em Branco, propõe a releitura de seu trabalho realizado na temporada passada e que foi o ganhador do Prêmio Açorianos de 2019. Com novo texto de Thomas Köck, tradução de Christine Röhrig, os intérpretes performam uma história, mais ou menos organizada linearmente, de um pai de família, a esposa e os dois filhos. O pai é dono de um pequeno comércio de pneus e, a partir desta "deixa", o espetáculo envereda por uma reflexão a respeito da destruição da Amazônia, desde antes de sua descoberta efetiva, graças aos mitos que a envolveram e à sua riqueza/condenação, quando o látex se tornou matéria-prima imprescindível, inclusive durante a II Grande Guerra, levando a região a uma riqueza extraordinária, mas depois a jogou na miséria quando, às custas do contrabando das plantas, o látex passou a ser produzido em outras regiões. Da riqueza soberana sobrou o apocalíptico teatro de Manaus, e da miséria, as queimadas e a destruição de índios e ribeirinhos a que assistimos hoje, inclusive com o incentivo de autoridades federais.
O tema não é novo, já foi motivo de Márcio Souza, tanto no romance Galvez, o imperador do Acre, quanto na peça teatral Folias do látex, do mesmo modo que o romance Dois irmãos, de Milton Hatoum, depois transformado em minissérie televisiva, explorou o contraditório universo humano da região. Paraíso afogado mostrou utilizar muito bem a tela, subdividida em quatro janelas, dinamizando a narrativa, permitindo sua plurissignificação, em interpretações bem compreendidas pelos atores Anildo Böes, Eduardo dÁvila, Evelyn Ligocki, Fernanda Carvalho Leite, Iandra Cattani, JdR, Rodrigo Fernandez e Shico Menegat.
Mas o festival tem muito mais, e vamos acompanhando tudo isso, nas próximas semanas, através desta coluna.
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