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Teatro

- Publicada em 16 de Outubro de 2020 às 03:00

Teatros e auditórios podem abrir: e daí?

Antonio Hohlfeldt
Ao longo da semana, muito se tem falado e discutido a respeito dos desdobramentos do decreto do Governo do Estado a respeito da reabertura de cinemas e teatros, dentre outros espaços. O assunto é polêmico porque, certamente, o setor cultural e de divertimentos foi talvez aquele que mais sofreu com o advento da pandemia, tendo em vista que a interação face a face entre artista e público é um dos elementos fundamentais de todo e qualquer espetáculo.
Ao longo da semana, muito se tem falado e discutido a respeito dos desdobramentos do decreto do Governo do Estado a respeito da reabertura de cinemas e teatros, dentre outros espaços. O assunto é polêmico porque, certamente, o setor cultural e de divertimentos foi talvez aquele que mais sofreu com o advento da pandemia, tendo em vista que a interação face a face entre artista e público é um dos elementos fundamentais de todo e qualquer espetáculo.
O decreto gerou críticas e gerou expectativas, ambas, me parece, equivocadas. No campo das críticas, é a vontade de as empresas cinematográficas, por exemplo, pretenderem lotação maior do que os 30% de plateia permitidos. Aliás, o mesmo percentual que está definido para os teatros, tudo dependendo do tamanho das salas (e, por consequência, número de poltronas oferecidas; e consumo ou não de alimentos e bebidas alcoólicas). O que, no caso dos cinemas, é choro de quem quer recuperar o mais rapidamente possível seus ganhos, o que não é ilegal mas talvez precise de um debate ético mais sério, torna-se extremamente problemático no caso dos espetáculos em teatros e auditórios. Reduzir uma plateia a 30% de seu potencial significa, em tese, triplicar o preço do ingresso, ou reduzir aos mesmos 30% o ganho do artista ou do conjunto ou da equipe toda. Isso é um desafio quase impossível de ser resolvido pelos produtores, a não ser que se inicie uma temporada já com a produção toda paga, o que significa que se alcance um patrocínio de peso.
Aqui entram dois personagens fundamentais, o produtor executivo e os governos, do federal aos estaduais e municipais, levando-se em conta que todos eles estão quebrados e com déficits poderosos em seus orçamentos.
No caso dos produtores, uma das boas alternativas é, ao invés de buscar patrocínio, puro e simples, que significa investimento em dinheiro, tentar as permutas junto a empresas que produzam os materiais de que a produção necessite, por duas razão: é mais fácil uma empresa aceitar fornecer produtos que já tem em estoque a uma produção; por outro lado, seu custo de produção é bem menor do que o preço do produto, se adquirido no mercado (o que significaria maior investimento): o resultado, de qualquer modo, será o mesmo. Fica por solucionar, é claro, a questão de salários e/ou pagamentos de técnicos e artistas.
No caso dos governos, observe-se que a Lei Aldir Blanc mobilizou o país de norte a sul, desde secretários estaduais e municipais de cultura (no Rio Grande do Sul, a liderança de Beatriz Araujo foi admirável), quanto das próprias comunidades de artistas, que precisaram se cadastrar, escrever e apresentar projetos, etc. No momento em que escrevo esta coluna, estamos ainda nesta fase do cadastramento. A expectativa é que não haja desvios e abusos como ocorreram em outros setores...
De qualquer modo, os dados levantados ao longo da pandemia são taxativos. Um investimento na área da indústria criativa é tão pulverizado, em seus desdobramentos, que acaba gerando quase seis vezes mais rentabilidade, ultrapassando inclusive setores tradicionais da economia, como a indústria automobilística (e estes são dados do mundo todo, não apenas do Brasil, a evidenciar a dinamicidade do setor). Isso deve significar, para os governos, que o dinheiro colocado em favor da cultura não é gasto, mas investimento: ele retornará logo em seguida, transformado em imposto, com a vantagem de quer terá movimentado a economia como um todo e auxiliado o mercado de trabalho. Isso vale para o cinema, a música, ar artes plásticas, vale para o segmento de museologia e dos teatros.
Alguns países da Europa já retomaram os espetáculos com orquestras e alguns grupos teatrais, também com ocupações em torno de 30 a 40% da capacidade dos espaços. Para tanto, as instituições promotoras precisam ter apoios decididos, ou de empresas, como registrei, ou de governos. O decreto estadual liberando parcialmente os espaços, abre um caminho: mas trilhá-lo, e o modo como vamos fazê-lo, ainda é um desafio e uma incógnita.
 
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