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Teatro

- Publicada em 09 de Outubro de 2020 às 03:00

A vitória da Arte e dos artistas

Antonio Hohlfeldt
Quando o Fernando Zugno, coordenador do Porto Alegre em Cena, conversou comigo, ao final do mês de março, logo depois de explodir a pandemia no Brasil, minha opinião era: melhor não fazer o festival neste ano e aguardar melhor oportunidade. Eu entendia que não se devia, não se poderia correr o risco de perder a tradição de respeitabilidade e de qualidade que o festival conquistara ao longo dos anos.
Quando o Fernando Zugno, coordenador do Porto Alegre em Cena, conversou comigo, ao final do mês de março, logo depois de explodir a pandemia no Brasil, minha opinião era: melhor não fazer o festival neste ano e aguardar melhor oportunidade. Eu entendia que não se devia, não se poderia correr o risco de perder a tradição de respeitabilidade e de qualidade que o festival conquistara ao longo dos anos.
Quando, em agosto, ouvi falar que, enfim, o Porto Alegre em Cena seria realizado sob novos formatos e programação, fiquei curioso. Depois de participar da transmissão live que a equipe do festival promoveu, no último dia 24 de setembro, fiquei profundamente entusiasmado. Mas que isso, admirado, e quero expressar isso de público, ao Fernando e a toda a sua equipe. O festival não só vai sair, como alcançou se reinventar, e se reinventou de tal maneira que não acredito que, nos próximos anos, ainda que venhamos a ter esta oportunidade, ele retorne a seu formato original. Não, o festival nunca mais será o mesmo.
Esta será, aliás, a grande herança que teremos desta pandemia. O setor cultural foi - está sendo - um dos setores mais afetados, prejudicados, desafiados - em todo o mundo, entre as atividades humanas, sobretudo porque era um setor que vivia do encontro, da interação ao vivo, daquela relação face a face.
O setor cultural está pagando um enorme preço, os artistas estão sendo simplesmente dizimados. Mas é exatamente neste momento que a Arte e os artistas estão mostrando, na prática, aquilo de que os artistas e a Arte são capazes: a reinvenção. Não demorou dois meses para que a gente começasse a descobrir isso. Primeiro, gravações que nos chegavam pelos celulares: artistas que gravavam a si mesmos, interpretando canções, usando seus instrumentos musicais, colocando-se em sacadas de suas casas, garagens, terraços e praças, interpretando as músicas que, gravadas, atravessavam os oceanos e chegavam a gentes que nem se poderia imaginar. Depois, foram as intervenções de conjuntos musicais, sobretudo de orquestras, cujos integrantes estavam, cada um em sua casa, mas com o auxílio das tecnologias de informação conseguiam, sob o comando de seus maestros, recompor virtualmente seus conjuntos orquestrais. Aqui mesmo, a nossa Orquestra Sinfônica de Porto Alegre tem feito espetáculos lives semanais, aos sábados, primeiro com poucos músicos, já agora com conjuntos um pouco maiores.
Mais adiante, sob o comando vanguardeiro e entusiasmado da Sedac, promoveram-se editais que financiariam propostas de arte digital. E há poucas semanas registrei um dos primeiros resultados desta iniciativa, o trabalho chamado In box, que mescla a arte do vídeo, da dança, da fotografia, etc.
Agora, entre 21 e 31 de outubro, teremos o 27º Porto Alegre em Cena. Misturará todo o tipo de manifestação artística, usando basicamente a midiação tecnológica. Mas não deixará de propor também algumas intervenções ao vivo, em espaços abertos. A página do festival, que o leitor interessado pode e deve acessar (www.portoalegreemcena.com) já é um extraordinário exemplo do novo que estamos vivendo e que a equipe de Fernando Zugno foi capaz de inventar, propor e concretizar: sobretudo porque ocorreu exatamente isso, organizou-se enquanto equipe. Um dos grandes aprendizados que teremos de toda a catástrofe que ainda estamos vivendo é que, mais do que nunca, para sobreviver, é fundamental distanciar-se do egoísmo da individualidade e aderir à interatividade do coletivo, da equipe. Esta página inicial do festival nos dá esta lição extraordinária, que precisa ser aprendida e introjetada por todos nós.
Mas tem mais: a invenção dos espetáculos virtuais, a disponibilidade dos patrocinadores que garantirão uma acessibilidade muito maior ao festival que, neste sentido, estará ainda mais democrático (porque sem pagamento de ingressos, não só estará disponível potencialmente a todos, quanto, de fato, poderá ser acessado por todos). Ao Fernando Zugno e a sua equipe, resta dizer, antecipadamente, obrigado: por terem acreditado, por terem ido à luta, por terem concretizado o desafio, que virou a utopia.
Entre 21 e 31 deste mês, viveremos um novo festival, um sonho, a vitória da Arte e dos artistas.
 
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