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Teatro

- Publicada em 01 de Outubro de 2020 às 21:56

Réquiem para Paulo Albuquerque, diretor de teatro

Antonio Hohlfeldt
Embora este comentário esteja sendo lido apenas na sexta-feira, ele foi escrito na segunda-feira à noite, ainda sob o impacto da notícia triste: o diretor de teatro Paulo Roberto de Medeiros e Albuquerque, o Paulinho Albuquerque, havia falecido, vítima de um infarto, neste mesmo dia.
Embora este comentário esteja sendo lido apenas na sexta-feira, ele foi escrito na segunda-feira à noite, ainda sob o impacto da notícia triste: o diretor de teatro Paulo Roberto de Medeiros e Albuquerque, o Paulinho Albuquerque, havia falecido, vítima de um infarto, neste mesmo dia.
Conheci Paulo Albuquerque, como diretor de cena, em 1973, quando ele dirigiu em Porto Alegre a peça O arquiteto e o imperador da Assíria, do espanhol Fernando Arrabal, a que eu assistira, pouco antes, no Rio de Janeiro, com direção de Ivan de Albuquerque (sem nenhum parentesco), nas interpretações soberbas de Rubens Corrêa e José Wilker. Pois Paulinho alcançou fazer um espetáculo emocionante, que me aproximou muito deste realizador.
Depois, Paulo Albuquerque dirigiu, sucessivamente, textos brasileiros urgentes, recém escritos, como Alzira Power (1973), de Antonio Bivar (recentemente falecido e sobre o qual escrevi, nesta mesma coluna), e As moças (1976), da estreante Isabel Câmara: começava a nascer uma dramaturgia feminina e feminista muito pujante no País. Em 1975, ele participou, como assistente de direção, de Mockimpott, de Peter Weiss, que tivera uma extraordinária realização pelo diretor espanhol José Luiz Gomez, estreando nacionalmente no Teatro de Arena de Porto Alegre, e dali iniciando excursão por todo o Brasil, sob o patrocínio do Goethe Institut (participei daquela produção encarregado do projeto de comunicação do espetáculo). Aumentou minha proximidade com ele.
Em 1977, então, veio a consagração. Paulo dirigiu Jogos na hora da sesta, da dramaturga argentina Roma Mahieu. A partir de uma fábula a respeito da violência das brincadeiras infantis, falava-se sobre as ditaduras do Cone Sul. A peça ficou mais de dois anos em cartaz. O espetáculo ganhou todos os prêmios daquele ano, com destacadas interpretações de Luiz Carlos Magalhães e Ida Celina, Nirce Levin e Raul Machado, dentre outros. O texto, traduzido por Eduardo San Martin, permitiu um espetáculo ao mesmo tempo tocante e chocante: tocante por sua sensibilidade, chocante por sua denúncia. Em resumo, inesquecível.
Paulo continuou a dirigir outros espetáculos, mas sua contribuição, de certo modo, ali chegara ao auge. É curioso lembrar dele agora: alto, sempre com um sorriso que parecia pedir desculpas por ocupar algum lugar, era um ouvinte atento e um comentarista discreto. Ao longo dos anos sempre conversamos muito. Ele gostava de ouvir as observações (boas ou más, positivas ou negativas) a respeito de seus espetáculos. Assistia aos trabalhos dos colegas, era um sujeito eminentemente gregário, precisava sempre conversar, expressar-se, trocar ideias. Mas com uma simpatia e uma atenção que me encantaram.
Paulo Albuquerque, como costumava se assinar, era verdadeiramente um gentleman e marcou a cena do Rio Grande do Sul com alguns dos espetáculos mais inteligentes e mais sensíveis a que assisti, ao longo dos tantos anos que tenho me dedicado a escrever sobre os espetáculos aqui apresentados.
O diretor era cuidadoso em suas anotações e reflexões a respeito de seus trabalhos. Para Paulo Albuquerque, o chamado trabalho de mesa do diretor era importante. Ele pesquisava, ele procurava informações as mais variadas a respeito dos contextos em que viveriam eventualmente seus personagens e, sobretudo, considerava que o teatro era um bom momento de reflexão e de aproximação entre as pessoas. Por isso, seu teatro sempre foi "engajado", não no sentido do discursivo, mas no sentido de assumir sua responsabilidade social, junto ao tempo e ao espaço em que se encontrava.
Paulo Albuquerque, além do mais, foi um verdadeiro militante do teatro gaúcho. Integrou diretorias de entidades de classe, defendeu a manutenção do espaço do Teatro de Arena, sempre combateu a censura... Enfim, Paulo Albuquerque foi um verdadeiro homem de teatro, que agora perdemos. Menos mal que suas obras ficaram na lembrança ao menos dos que as assistiram, em diferentes momentos. Boa viagem, Paulo, os que ficamos, te guardamos.
 
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