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Teatro

- Publicada em 24 de Setembro de 2020 às 21:26

Mostra Anual de Teatro Universitário

Antonio Hohlfeldt
A Mostra Anual de Teatro Universitário da Ufrgs (DAD) deste ano foi transferida do início de 2020 para o segundo semestre, ao mesmo tempo em que todos os espetáculos sofreram adaptações, pois foi impossível que os mesmos ocorressem nos espaços cênicos do próprio Departamento de Arte Dramática, diante da pandemia. Assim, os trabalhos precisaram ser transformados para uma outra linguagem, a de vídeos, que estão neste momento postados em diferentes plataformas, como Instagram, Facebook e YouTube, com acervo permanente.
A Mostra Anual de Teatro Universitário da Ufrgs (DAD) deste ano foi transferida do início de 2020 para o segundo semestre, ao mesmo tempo em que todos os espetáculos sofreram adaptações, pois foi impossível que os mesmos ocorressem nos espaços cênicos do próprio Departamento de Arte Dramática, diante da pandemia. Assim, os trabalhos precisaram ser transformados para uma outra linguagem, a de vídeos, que estão neste momento postados em diferentes plataformas, como Instagram, Facebook e YouTube, com acervo permanente.
Os espetáculos até disponibilizados são três, divididos em múltiplos vídeos relativamente curtos. Trata-se de Sobrevivo - Antes que o baile acabe, com quatro partes; Amores surdos, em cinco partes, e Perigoso, num único vídeo mais longo.
Os projetos são bem diversos e têm acompanhamento e orientação dos professores de interpretação e de direção do DAD. Sobrevivo - Antes que o baile acabe tem direção de Sandino Rafael, com cenário, produção e figurinos do próprio grupo, orientação de Celina Alcântara, que inclusive aparece em cena, e de Patrícia Fagundes.
Trata-se de um espetáculo bastante livre, talvez o que melhor desenvolve uma linguagem de vídeo, reunindo depoimentos e reflexões de jovens negros, interpretados por Cira Dias, Esly Ramão, Gabriel Farias, Letícia Guimarães, Maya Marqz e Phillipe Coutinho. Na definição de Celia Alcântara, trata-se de uma experiência de "aquilombamento", referência aos antigos quilombos que recebiam negros escravos fugidos. O grupo é formado exclusivamente por atores negros, que discutem esta sua condição, acrescentando o segundo desafio que é o das mulheres negras.
O espetáculo, apesar de crítico, apresenta uma linha de forte esperança na mudança da situação de preconceitos que marca a sociedade brasileira. O roteiro é evidentemente contemporâneo, desdobrando-se inclusive a partir da pandemia que todos enfrentamos e que é tomada como uma espécie de síntese dos desafios a serem por eles enfrentados e vencidos (ou por nós, brancos, na medida em que nós é que devemos nos afastar de tais preconceitos que os vitimizam?).
O segundo espetáculo é Amores surdos e parte de um texto da dramaturga (também negra) Grace Passô, que já esteve inclusive em Porto Alegre, numa das mais recentes edições do Porto Alegre em Cena. Para mim, hoje, Grace Passô é a/o dramaturga/o mais importante do Brasil, quer pelos temas abordados, que pela corajosa experimentação da linguagem dramática que explora, e do que este trabalho é um evidente exemplo. Ângela Steiner, Gilvana dos Santos, Maria Eduarda Barbosa, Rita Spier e novamente Maya Marqz são os intérpretes de personagens que vivem o cotidiano de duas famílias que vivem num prédio de apartamentos.
A orientação do espetáculo é de Inês Marocco, com direção coletiva. O espaço cênico - extremamente criativo, com fitas elásticas que metaforizam os desafios deste cotidiano - é valorizado pela atuação dos intérpretes, enquanto a trilha sonora mistura Nat King Cole, Vinicius de Morais e Edith Piaf, depois de uma abertura com Vivaldi. O espetáculo tem uma dramaturgia muito bem explorada, a partir do texto original, que combina equilibradamente a interpretação cênica (do teatro) e as possibilidades da linguagem do vídeo.
Por fim, Perigoso tem roteiro de Patrício Zavarese e Silvana Rodrigues, a partir de uma ideia original dela, com direção do primeiro, interpretações de Eduardo Barbosa, Jackson Barbosa, Jaqueline Barbosa e Kátia Chalmere, com imagem, edição e montagem de Júlio Estevan. O formato escolhido é quase o do documentário, com uma câmera parada acompanhando a conversa de jovens adolescentes (o "bonde") e suas visões a respeito das relações amorosas, marcadas sobretudo pelas dificuldades de expressão e de comunicabilidade. Tudo isso ocorre num terraço de uma casa, na Vila Jardim (portanto, geográfica e socialmente localizado na cidade de Porto Alegre), enquanto o por de sol ocorre. O filme termina com o anoitecer, em que uma sugestão de sonho - que o narrador não sabe se é início ou fim - termina o trabalho.
Em resumo, três trabalhos de jovens intérpretes e realizadores que devem ser conferidos, pois são estes os nomes de artistas que encontraremos, certamente, nos próximos anos, em nossos palcos.
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