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Teatro

- Publicada em 04 de Setembro de 2020 às 03:00

'In box', videodança que abre caminhos

Antonio Hohlfeldt
A partir do edital do FAC Digital (Fundo de Apoio à Cultura), que a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) lançou, logo depois de iniciada a pandemia, uma série de obras, com características estritamente digitais, foram selecionadas e financiadas. A primeira que se pode conhecer e que faço questão de registrar se chama In box (Na caixa), de Simone Saueressig, com 8 minutos de duração.
A partir do edital do FAC Digital (Fundo de Apoio à Cultura), que a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) lançou, logo depois de iniciada a pandemia, uma série de obras, com características estritamente digitais, foram selecionadas e financiadas. A primeira que se pode conhecer e que faço questão de registrar se chama In box (Na caixa), de Simone Saueressig, com 8 minutos de duração.
Conheci Simone Saueressig há muitos anos, enquanto escritora. Aliás, ela tem uma obra dirigida às crianças e aos jovens bastante expressiva, desde sua estreia, em 1987, pela editora Kuarup, de Porto Alegre, com O mistério do formigueiro.
A atriz Marlise Saueressig, que animou o Teatro de Arena nos anos 1970 e Simone integram a mesma família. Simone vivia a literatura, mas agora se aproxima das artes cênicas. Ou melhor, In box, que todos podemos assistir em vídeo disponível no YouTube, é claramente o que, a partir dos anos 1960, passou-se a chamar de videoarte. Este conceito surgiu com o barateamento das tecnologias videográficas, sendo seus primeiros exploradores sobretudo artistas plásticos.
No Brasil, Antonio Dias teria aberto o caminho (Enciclopédia Itaú Cultural), em 1971, seguido de Lygia Pape, Rubens Gerchmann, Hélio Oiticica, Regina Silveira e Júlio Plaza, dentre outros. O trabalho de Simone Saueressig tem ideia original, roteiro, tomada de imagens e realização unicamente da artista que, ao que parece, é também sua intérprete.
Num primeiro momento, pode-se imaginar um vídeo sobre dança. De fato, é isso, mas é mais que isso. Os eventuais textos que atravessam as imagens propõem a "dança em espaço restrito", mas logo ocorre o alargamento do conceito. Surgem indicações de "cenário", "laboratório", "um ensaio para novos dias", tudo isso puxado pela Nona Sinfonia de Ludwig von Beethoven, escolhida a única passagem cantada (e com grande massa coral), que é a Ode à alegria, a partir dos versos do poeta romântico Friedrich Schiller.
Reorganizando estes dados, podemos dizer que In box se trata de um ensaio em videoarte, que propõe uma reflexão para os novos dias (os contemporâneos) a partir da dança, escolhendo como referência o convite de Schiller: "Ó amigos, mudemos de tom!/ Entoemos algo mais prazeroso/ e mais alegre. // Alegria, formosa centelha divina (...)/ Tua magia volta a unir/ O que o costume rigorosamente dividiu" e por aí vai. A vinculação da artista à cultura germânica levou-a a esta apropriada escolha.
A obra que ela nos apresenta é nada mais que um convite a que repensemos nosso contexto, não a partir da tristeza (da pandemia, da separação e do isolamento) mas a partir da alegria que o encontro conosco mesmos, com nosso corpo, com nossa capacidade de expressão, permite. Por consequência, abrindo possibilidades de comunicação, comunicação esta gerada a partir do olhar que o espectador (do vídeo) dirigirá sobre o Outro que, embora tão longe, aparentemente, torna-se tão próximo, graças à magia da arte.
A coreografia - sim, é uma coreografia - não se limita ao corpo e ao espaço que este corpo ocupa imediatamente, até porque os movimentos explorados são os mais simples e primários do balé clássico, aqueles que todo e qualquer aspirante à dança precisa conhecer: ponta, "sauté", posições básicas de disponibilidade corporal, em especial a primeira, que junta as pernas e os pés, e assim por diante. Ocorre que, com o uso da tecnologia da câmera e da multiplicação da imagem, graças à sua edição (imagem é luz, sobre o fundo escuro da tela, que é também a situação primária de todos os equipamentos digitais, quando desligados), ela amplia o espaço: a imagem do corpo é multiplicada: a tela se divide em dois, vertical e depois horizontalmente. Logo são imagens repetidas em até 30 pequeninos quadros que ocupam todo o espaço, criam linhas cruzadas, aumentam ou diminuem suas dimensões e assim vão explorando possibilidades que, estas sim, evidenciam o próprio bailado: não é o corpo que se movimenta, apenas, mas a captação deste corpo que se move, corre e desliza pela tela, criando desenhos e coreografias variadas. Tudo em preto e branco, o que concentra ainda mais nossa atenção sobre a imagem, dramatiza-a e a torna mais comunicativa.
In box é, sim, uma obra de arte. Uma proposta emocionada, a/de que a gente assiste/participa emocionadamente. Obrigado, Simone Saueressig. Que bom que o edital FAC Digital valorizou este projeto, agora concretizado em obra, tornando-se História.
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