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Teatro

- Publicada em 24 de Julho de 2020 às 03:00

Ainda as programações digitais

Antonio Hohlfeldt
Abordei, na semana passada, a transformação por que passam as artes em geral, em especial aquelas que se constituem tradicionalmente em espetáculo e que exigiam, até então, a interação direta entre o artista e o espectador, muitas vezes chamado a também participar da própria performance. Vou continuar, nesta semana, a escrever sobre este assunto porque, na verdade, ele não está esgotado e nos propõe algumas novidades a que vale a pena prestar atenção.
Abordei, na semana passada, a transformação por que passam as artes em geral, em especial aquelas que se constituem tradicionalmente em espetáculo e que exigiam, até então, a interação direta entre o artista e o espectador, muitas vezes chamado a também participar da própria performance. Vou continuar, nesta semana, a escrever sobre este assunto porque, na verdade, ele não está esgotado e nos propõe algumas novidades a que vale a pena prestar atenção.
Por exemplo, na sexta-feira passada, o Theatro São Pedro, na série de atrações proposta pela passagem de seus 162 anos de existência, trouxe à ribalta a montagem da peça teatral Tocar paraíso, do dramaturgo alemão contemporâneo Thomas Köck, sobre a qual eu já havia escrito, inclusive, quando de sua estreia no palco do Instituto Goethe. Além do texto ser, em si mesmo, mais do que motivo para se conhecer a obra, o Instituto Goethe vem propondo, creio que já há três anos, uma interessante experiência que é a montagem de um mesmo texto por dois diferentes diretores locais. Tocar paraíso foi o trabalho escolhido no ano passado, e o espetáculo idealizado por João de Ricardo ganhou praticamente todos os prêmios Açorianos da temporada, merecidamente. A montagem estava prevista para a agenda do teatro, ao longo desta temporada, mas foi impedida pelo surgimento da pandemia, o que tornou mais do que natural a sua escolha para esta programação excepcional.
Mas a exibição de Tocar paraíso foi um momento importante para a gente refletir a respeito do futuro das artes cênicas. Eu havia comentado, na semana passada, que trazer um espetáculo de teatro para a telinha digital não quer dizer fazer teatro filmado. E a principal lição aprendida com João de Ricardo foi exatamente esta. O espetáculo apresentado foi filmado, sim, durante uma performance no Instituto Goethe. Volta e meia, vemos as silhuetas dos espectadores, o que às vezes até atrapalha e distrai, mas confere verossimilhança ao fato de estarmos assistindo, de fato, a um espetáculo de teatro, montado num palco, em que nos colocamos em meio aos demais espectadores. Mas João de Ricardo e sua equipe foram capazes de reler o espetáculo, editando-o de maneira a que, em continuando a ser um espetáculo de teatro, acrescentou uma linguagem visual específica que anda mais valorizou o trabalho. Dou um simples exemplo: na segunda cena da peça, temos os personagens num trem, que acaba sofrendo um desastre. Na montagem a que se assiste desde a plateia, vemos todo o espaço do palco, mesmo que em black out, e, bem no meio, identificados pela barra luminosa, os personagens que dialogam durante a viagem até o momento do descarrilamento. Na versão digital a que assistimos na sexta, com uma hora e 40 minutos de duração, Ricardo valeu-se de closes que aproximaram o espectador das expressões dos personagens, como permite a linguagem cinematográfica, mas que terminou por valorizar a dramaticidade da cena, concentrando sua emocionalidade. E assim ocorreu em várias outras passagens, de maneira que cheguei a comentar com Dilmar Messias, diretor de programação do teatro, que talvez a versão digital tivesse ficado ainda mais teatral que a montagem original.
Na noite seguinte, sábado, o Teatro Comprimido On-Line propôs a estreia de um espetáculo-solo, com o ator Leonel Henckes, a partir de texto de Guy de Maupassant, chamado Horla, um inimigo invisível, na plataforma Sympla Streaming, com cerca de 45 minutos. O espetáculo solo tem a vantagem de, na plataforma digital, apresentar maior facilidade de proximidade com o espectador. A temporada prossegue amanhã. Mas o sistema escolhido não é dos mais amigáveis.
Também na noite de sábado, outro espetáculo-solo estreará. Trata-se de Heinz Limaverde, que mostrará Quarentona na quarentena, espetáculo ao vivo, diretamente do apartamento do ator, às 21h, mas que depois ficará disponível em dois endereços, no YouTube e no site do Bertoldo Cultural. Nestes dois casos, há performances gratuitas e outras que serão pagas, mediante aquisição antecipada de ingresso.
Em síntese, eis alguns dos espetáculos que estão à disposição do público para estes próximos dias. Não sabemos quanto tempo ainda durará esta pandemia. Assim, é ir nos acostumando com este novo modo de assistir teatro. Descobrir suas linguagens, entender suas estéticas.
 
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