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Teatro

- Publicada em 10 de Julho de 2020 às 03:00

A morte de Antonio Bivar, um precursor

Antonio Hohlfeldt
A morte de Antonio Bivar, na semana passada, cria uma espécie de vazio na dramaturgia brasileira. Nascido em 1939, em São Paulo, Bivar foi estudar teatro no Conservatório Nacional do Rio de Janeiro. Em 1968, sua primeira peça individual, Cordélia Brasil, teve encenação dirigida por Emílio de Biasi. Originalmente, a peça se intitulava O começo é sempre difícil, Cordélia Brasil, vamos tentar outra vez, mas acabou reduzida ao nome da personagem. Foi a explosão, a revelação. Bivar recebeu todos os prêmios possíveis, tanto na antiga Capital Federal quanto em São Paulo. Mas se alguém ainda tivesse dúvida sobre sua criatividade e importância para a dramaturgia nacional, no mesmo ano ele mostrava Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manhã (1968) que, quando encenada, igualmente surpreendeu e entusiasmou.
A morte de Antonio Bivar, na semana passada, cria uma espécie de vazio na dramaturgia brasileira. Nascido em 1939, em São Paulo, Bivar foi estudar teatro no Conservatório Nacional do Rio de Janeiro. Em 1968, sua primeira peça individual, Cordélia Brasil, teve encenação dirigida por Emílio de Biasi. Originalmente, a peça se intitulava O começo é sempre difícil, Cordélia Brasil, vamos tentar outra vez, mas acabou reduzida ao nome da personagem. Foi a explosão, a revelação. Bivar recebeu todos os prêmios possíveis, tanto na antiga Capital Federal quanto em São Paulo. Mas se alguém ainda tivesse dúvida sobre sua criatividade e importância para a dramaturgia nacional, no mesmo ano ele mostrava Abre a janela e deixa entrar o ar puro e o sol da manhã (1968) que, quando encenada, igualmente surpreendeu e entusiasmou.
Seu terceiro título, criado sucessivamente, foi O cão siamês ou Alzira Power (1969), resultando ainda uma vez num texto entusiasmante. Cordélia Brasil - com seu título inteiro - teve encenação em Porto Alegre, graças ao Teatro de Arena, de Jairo de Andrade, estreando em 4 de março de 1969, sob direção do paulista Wagner Mello, nas interpretações de Aparecida Dutra, Ludoval Campos e Luiz Carlos Kovacs. A peça foi inclusive capa da publicação que então o teatro mantinha, Teatro em revista, em sua edição 4, conforme aparece documentado em Teatro de Arena - Palco da resistência (Libretos, 2007), de Rafael Guimarães. A proximidade do público com a encenação tornava ainda mais impactante o espetáculo e o texto, que culminava com o suicídio da personagem, numa sequência de ópera bufa.
Antonio Bivar fez parte de um grupo de jovens dramaturgos, surgidos todos, quase simultaneamente, ao final dos anos 1960, de que fizeram parte Leilah Assunção (Fala baixo se não eu grito, 1969), Consuelo de Castro (À flor da pele, 1969), José Vicente (O assalto, 1969) e Isabel Câmara (As moças, 1969). Ao contrário de Plínio Marcos, cuja revelação ocorrera em 1967, com Navalha na carne, embora todos fossem altamente contestadores do status quo, enquanto a linguagem de Plínio Marcos era naturalista e suas encenações necessariamente realistas, a linguagem escolhida por estes novos dramaturgos mesclava realismo e non sense, para muitos sob uma influência cruzada de Ionesco e Beckett, de um lado, e de Nelson Rodrigues, do outro. Havia, sobretudo, uma tendência para uma representação farsesca, talvez reação mais lúcida diante da situação inquisitorial que o Brasil vivia então.
Tive a oportunidade de assistir a todos estes espetáculos, indo sobretudo a São Paulo, que se tornou, nos anos 1970, o verdadeiro centro de produção da nova dramaturgia brasileira, pois ali se encontrava, não só o Teatro de Arena, quanto o de Ruth Escobar e anda o grupo de José Celso, o Oficina, para além dos espaços alternativos e outras instituições. Antonio Bivar integra esta geração de que fez parte, ainda, Caio Fernando Abreu. Estes artistas resolveram enfrentar frontalmente o contexto de então, sugerindo soluções tão radicais que chegavam ao suicídio. Na verdade, aquela geração não enxergava muitas alternativas para o que enfrentava, mas isso mesmo tornou suas criações verdadeiros documentos de época.
As três primeiras peças de Bivar foram editadas em livro, em 2002, justamente sob este título, As três primeiras peças (Azougue e Atrito Art, com apoio da Caixa Econômica Federal e da prefeitura de Londrina). O leitor interessado também encontrará farto material no site do Itaú Cultural.
O batismo a esta "nova dramaturgia" adveio do crítico Anatol Rosenfeld, que se deu conta da inovação e da identidade que estes novos dramaturgos apresentavam: poucos personagens em situações-limite, vividas entre quatro paredes. O número de personagens, para muitos, podia ser uma estratégia para viabilizar a montagem dos textos, diante do perigo da censura. Poucos personagens, poucos atores, produção mais barata. Pode-se pensar, contudo, à semelhança da dramaturgia de Plinio Marcos, que poucos personagens permitiam a concentração da ação, enquanto os espaços fechados traduziriam certa visão existencialista advinda do Jean-Paul Sartre da peça Huis clos (Entre quatro paredes, no Brasil). Seja como for, este conjunto de dramaturgos marcou a história de nosso teatro, em determinado momento, e a morte de Antonio Bivar, sem dúvida, torna esta herança, um pouco mais pobre. 
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