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Teatro

- Publicada em 26 de Junho de 2020 às 01:26

O Theatro São Pedro, 162 anos depois (e ainda)

Para o público, que não pode ir ao teatro, vai ter comemoração virtual com artistas

Para o público, que não pode ir ao teatro, vai ter comemoração virtual com artistas


KÊNIA FIALHO/DIVULGAÇÃO/JC
Antonio Hohlfeldt
Imagine o leitor o ano de 1850. Recém encerrada a Revolução, a província de São Pedro está dizimada sob todos os aspectos. Porto Alegre um sítio prolongado e desolador. Alguns "homens bons", no linguajar da época - isto é, alguns homens de destaque da sociedade, não necessariamente nem letrados nem ricos, mas com influência na cidade - recuperam a ideia, antes alvitrada e depois deixada de lado, de construir um teatro. Isso não significava que a cidade fosse especialmente admiradora das artes cênicas ou da música, ou que aqui houvesse grandes artistas ou até mesmo plateias conhecedoras dos diferentes tipos de espetáculos que costumavam ocupar os palcos da época. Pelo contrário: do que se sabe pelos viajantes da época, os moradores, embora pacatos, não eram interessados em arte; uma boa parte, nem alfabetizados! Não obstante, a ideia de 1830 retornou aos corações e mentes de uns poucos que conseguiram sensibilizar o Presidente da província. A administração escolheu o local e fez uma doação. Organizou-se uma associação e assim começou a obra de edificação do que, em 1858, abriria imponentemente as suas portas como Theatro São Pedro. A inauguração ocorreu na administração do Barão de Uruguaiana, Ângelo Moniz da Silveira Ferraz, exatamente num 27 de junho.
Imagine o leitor o ano de 1850. Recém encerrada a Revolução, a província de São Pedro está dizimada sob todos os aspectos. Porto Alegre um sítio prolongado e desolador. Alguns "homens bons", no linguajar da época - isto é, alguns homens de destaque da sociedade, não necessariamente nem letrados nem ricos, mas com influência na cidade - recuperam a ideia, antes alvitrada e depois deixada de lado, de construir um teatro. Isso não significava que a cidade fosse especialmente admiradora das artes cênicas ou da música, ou que aqui houvesse grandes artistas ou até mesmo plateias conhecedoras dos diferentes tipos de espetáculos que costumavam ocupar os palcos da época. Pelo contrário: do que se sabe pelos viajantes da época, os moradores, embora pacatos, não eram interessados em arte; uma boa parte, nem alfabetizados! Não obstante, a ideia de 1830 retornou aos corações e mentes de uns poucos que conseguiram sensibilizar o Presidente da província. A administração escolheu o local e fez uma doação. Organizou-se uma associação e assim começou a obra de edificação do que, em 1858, abriria imponentemente as suas portas como Theatro São Pedro. A inauguração ocorreu na administração do Barão de Uruguaiana, Ângelo Moniz da Silveira Ferraz, exatamente num 27 de junho.
O que teriam imaginado ou projetado aqueles "homens bons" de 1858? Teriam pensado que o prédio duraria 162 anos? Que ele teria sofrido diferentes reformas, remodelações, adaptações, ameaças de derrubada e, enfim, recebido um projeto verdadeiramente restaurador e modernizador, capaz de juntar o tradicional com o contemporâneo, guardando a herança histórica a que somou a tecnologia da modernidade, graças aos esforços de uma senhora alemã, refugiada da Alemanha nazista, que aqui aportou com o marido, também um refugiado do nazismo, e decidindo transformar esta cidade adotiva em "sua cidade" a ela dedicou o melhor de seu amor e de sua força e vontade? O resultado foi o projeto coordenado por Carlos Mancuso (arquiteto) e Ismael Solé (engenheiro). Levou 10 anos, mas o teatro, fechado em 1973, foi reaberto em 1984 e daí em diante, mais de 35 anos de espetáculos, ininterruptos, têm marcado sua história mais recente.
Mas volto minha imaginação, uma vez mais, àqueles homens que, em 1850, decidiram construir o teatro: era possível pensar que o prédio atravessaria 162 anos, sempre pujante, recebendo artistas fugidos da I e da II Grande Guerra, espetáculos de música erudita e de música popular, teatro e dança, recitais e até mesmo, pasmem, formaturas e bailes de Carnaval? Se tentássemos fazer um cálculo de custo-benefício, o que se poderia dizer sobre o investimento? Aliás, pode-se aplicar o mesmo raciocínio para 1973, quando muitos defendiam que deveria ser derrubado e ali erigir-se outra construção moderna, o que fez Eva Sopher erguer-se contra esses bárbaros modernos, encontrando apoio na administração estadual.
O nosso Theatro São Pedro aí está. Mas desta vez, como raramente aconteceu - talvez apenas durante a gripe espanhola - ele não vai receber nenhum espetáculo na data de seu aniversário. Minto: havia sido programado um espetáculo que seria transmitido ao vivo, pelas redes sociais, desde o palco do teatro, ainda que com plateia vazia, mas o fechamento da cidade, determinado pelo recrudescimento da crise, impediu a iniciativa.
A equipe, contudo, não desistiu. No sábado, dia de seu aniversário, o público que gosta de ir ao teatro, terá uma nova oportunidade: a equipe do Theatro São Pedro, com a participação da comunidade sul-rio-grandense, vai trazer um espetáculo que circulará pelas redes sociais, com alguns dos artistas que são "a cara do Theatro".
Para isso, recuperaram-se registros de espetáculos anteriores ou os artistas se dispuseram a gravar no espaço de suas próprias casas uma interpretação única, porque querem cantar seus "parabéns" ao velho prédio da Praça Marechal Deodoro. E dizer que não vai ter público é um equívoco. Talvez o Theatro São Pedro alcance um público tão amplo quanto jamais sonhou, quando ocorre um espetáculo ao vivo. Porque serão milhares de pessoas que poderão, sem necessidade de reservar e adquirir seus ingressos, assistir ao espetáculo que foi idealizado.
O leitor desta coluna poderá acompanhar. Ao completar 162 anos em 27 de junho, o Theatro São Pedro volta a apresentar, não em sua ribalta física, mas em suas ribaltas virtuais, a partir das casas dos nossos artistas, aqueles mesmos artistas que tantas vezes frequentaram seu palco, um espetáculo idealizado especialmente para a data, literalmente único. Milagre da tecnologia, mais que isso: milagre do teatro.
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