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Teatro

- Publicada em 22 de Maio de 2020 às 03:00

A sobrevivência de Hilda Hilst

Antonio Hohlfeldt
Há poucos dias, a colega Roberta Requia fez uma bela matéria, no caderno Panorama, a respeito de Hilda Hilst, escritora paulista, nascida em Jaú (1930) e falecida em Campinas, também em São Paulo (2004). A primeira vez que ouvi falar em Hilda Hilst foi através do escritor Caio Fernando Abreu, então meu colega no curso de Letras, na Ufrgs. Caio, aliás, ficaria na chamada Casa do Sol, residência construída especialmente por Hilda, numa parte da fazenda perto de Campinas que ela herdou da mãe, quando ele se afastou do Rio Grande Sul. Os laços se ligam: outra escritora que muito apoiou Caio foi a também romancista paulistana Lygia Fagundes Telles. Pois saiba o leitor que Lygia e Hilda estudaram juntas na Faculdade de Direito, em São Paulo, a partir de 1948; foi Lygia quem ajudou Hilda na publicação de seu primeiro livro e ao longo de anos foram sempre amigas muito próximas.
Há poucos dias, a colega Roberta Requia fez uma bela matéria, no caderno Panorama, a respeito de Hilda Hilst, escritora paulista, nascida em Jaú (1930) e falecida em Campinas, também em São Paulo (2004). A primeira vez que ouvi falar em Hilda Hilst foi através do escritor Caio Fernando Abreu, então meu colega no curso de Letras, na Ufrgs. Caio, aliás, ficaria na chamada Casa do Sol, residência construída especialmente por Hilda, numa parte da fazenda perto de Campinas que ela herdou da mãe, quando ele se afastou do Rio Grande Sul. Os laços se ligam: outra escritora que muito apoiou Caio foi a também romancista paulistana Lygia Fagundes Telles. Pois saiba o leitor que Lygia e Hilda estudaram juntas na Faculdade de Direito, em São Paulo, a partir de 1948; foi Lygia quem ajudou Hilda na publicação de seu primeiro livro e ao longo de anos foram sempre amigas muito próximas.
Quando Hilda Hilst faleceu, em 2004, a manchete do caderno Fim de Semana, do jornal Gazeta Mercantil, significativamente resumia: "Adeus à escritora séria", tendo, na submanchete: "mais do que pornografia, Hilda Hilst deixou legado literário denso, marcado pela dedicação". Verdade: os poucos que haviam lido Hilda Hilst haviam lido sobretudo aquilo que alguns desavisados ou de má-fé haviam qualificado como "obra pornográfica", com o lançamento do livro O caderno rosa de Lori Lamby e, depois, A obscena senhora D, a que se seguiram Contos descárnio e Cartas de um sedutor; e os mesmos que a haviam ignorado, passaram a atacá-la. Na verdade, nenhuma dessas obras é pornográfica, mas se valem de estratégias de comunicabilidade, para lembrar o pesquisador Jesús Martín-Barbero para, atrair o leitor menos exigente, comunicar a ele o que pretende, de fato.
Poeta e romancista, reconhecida mais como romancista, Hilda, contudo, entre 1967 e 1969 escreveu oito peças de teatro, uma atrás da outra e, depois, nunca mais voltou ao gênero. Este período mais aterrorizador da ditadura militar, que cruza justamente o AI-5, de 1968, teria provocado na escritora, segundo ela afirmaria muitos anos depois (entrevista dos Cadernos de Literatura Brasileira), uma necessidade absoluta incontrolável de se comunicar de maneira imediata com as outras pessoas, levando-a a escrever esta dramaturgia. Duas ironias, no entanto, cercam tal produção: é evidente que a censura da época jamais liberou qualquer texto seu para a encenação e, quando seus trabalhos puderam ser levados ao palco, na verdade, o que mais tem ocorrido é a adaptação de algum texto de prosa para a encenação. É o caso de Osmo, texto presente no livro Fluxo-poema, de 1970, que foi reeditado no volume Ficções, de 1977, e que ganharia o Prêmio APCA daquele mesmo ano, e de A obscena senhora D. Quem estiver interessado encontra registros destes espetáculos, gravados em 2015, quando o Itaú Cultural promoveu sua 22ª ocupação, dedicada à escritora. Ambos os textos foram adaptados por Susan Damasceno, que interpretou o primeiro, enquanto Donizeti Mazonas encenou o segundo.
Aqui em Porto Alegre chegou a haver algumas poucas encenações de Hilda Hilst no teatro, creio que no velho prédio do Hospital São Pedro, diga-se de passagem espaço ideal para um espetáculo deste tipo, em que Arlete Cunha viveu a personagem da própria artista, no espetáculo intitulado Hilda Hilst in claustro, direção de Roberto Oliveira. A mesma Arlete Cunha, ao lado de Marco Fronchetti, fez uma única encenação de outro trabalho sobre a escritora, Obs.cenas: Hilda Hilst e sua prosa, na noite de 26 de abril de 2018, na Biblioteca Pública do Estado; Arlete, enfim, havia também protagonizado In cantus de Hilda Hilst, em 2017, que cumpriu temporada no Van Teese Hight Tea & Cocktail Bar; e o 17º Porto Alegre em Cena, em 2010, trouxe o diretor Ruy Cortez, que apresentou Hilda Hilst: O espírito da coisa.
Ou seja, não sei, sinceramente, se os textos propriamente de Hilda foram alguma vez encenados na forma em que foram idealizados, por mais que ela tenha sido motivo e tenha sua literatura não dramática sido apropriada para espetáculos. De qualquer maneira, quem quiser conhecer este teatro, pode lê-lo completo, na edição cuidadosa que a L&PM Editores fez, em dois volumes, dessas peças: A possessa (1967), O rato no muro (1967), O visitante (1968), Auto da barca de Camiri (1968), O novo sistema (1968), As aves da noite (1968), O verdugo (1968 - Prêmio Anchieta daquele ano) - e A morte do patriarca (1968). Hilda Hilst, sem dúvida, continua viva, e muito viva!
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