Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 15 de Maio de 2020 às 03:00

Toda a humanidade na dramaturgia de Shakespeare

Antonio Hohlfeldt
Um outro grande dramaturgo aniversariante deste período, e sobre o qual também já escrevi especificamente nesta coluna, é o Bardo de Stratford on Avon, William Shakespeare, aliás, sobre o qual o Jornal do Comércio publicou há dias um belo texto do jornalista Igor Natusch. A ele são atribuídas 36 peças de teatro, sendo 14 comédias, 11 tragédias e mais 11 dramas históricos que, na verdade, podem ser igualmente lidos como tragédias. São famosos, ainda, seus 154 sonetos. De sua vida pouco se sabe mas, para compensar, sobre sua obra... A dramaturgia shakespereana é das que maior bibliografia provocou, ao longo dos séculos, assim como sua filmografia, aqui incluídos os filmes feitos a partir de suas obras, quer aqueles em torno de sua figura.
Um outro grande dramaturgo aniversariante deste período, e sobre o qual também já escrevi especificamente nesta coluna, é o Bardo de Stratford on Avon, William Shakespeare, aliás, sobre o qual o Jornal do Comércio publicou há dias um belo texto do jornalista Igor Natusch. A ele são atribuídas 36 peças de teatro, sendo 14 comédias, 11 tragédias e mais 11 dramas históricos que, na verdade, podem ser igualmente lidos como tragédias. São famosos, ainda, seus 154 sonetos. De sua vida pouco se sabe mas, para compensar, sobre sua obra... A dramaturgia shakespereana é das que maior bibliografia provocou, ao longo dos séculos, assim como sua filmografia, aqui incluídos os filmes feitos a partir de suas obras, quer aqueles em torno de sua figura.
Para que bem se possa aquilatar e compreender a importância do dramaturgo, é bom que se diga que, na época, as criações dramáticas se davam a partir de núcleos de artistas que incluíam os próprios dramaturgos, diretores, produtores e atores/atrizes. Muitas vezes, o dramaturgo e o diretor eram a mesma figura; noutras o dramaturgo era também o produtor, mais raramente o principal ator...
Sabe-se que, no caso de Shakespeare, ele teria sido copista, ou seja, ao jovem Shakespeare cabia a tarefa de copiar o manuscrito original, distribuindo-os pelas partes de cada intérprete. Assim, teria formado um repertório extraordinário da dramaturgia inglesa sua contemporânea além de textos de autores estrangeiros.
Sendo também ator e depois diretor dos espetáculos, ele aproveitou aquele conhecimento anterior para buscar criar modos diferentes de dizer e modos inovadores de mostrar. É bom que se lembre que o conceito de inovação ou direito de autor inexistia então. O dramaturgo vendia seu manuscrito ao grupo e não tinha mais direito a ele, por isso era comum que o dramaturgo estivesse vinculado a um determinado grupo teatral. Quanto à inovação, boa parte da dramaturgia de então se inspirava em obras anteriores, às quais parafraseava. Os próprios argumentos desenvolvidos por Shakespeare não eram absolutamente inéditos em seu tempo, mas ele foi capaz de lhes dar uma outra consistência, uma nova perspectiva de desenvolvimento, trazendo ao corpo do personagem também a sua alma. Tomemos como exemplo disso a loucura e a vontade de vingança de um Hamlet, que se expressa no famoso solilóquio do "ser ou não ser", ou as incertezas e, depois, os terrores de arrependimento e sentimento culposo de Macbeth, ao lado de uma humanidade sensível como a do rei Próspero. Cada texto destes, contudo, bebia de diferentes e variadas fontes, já que o conceito de originalidade também era um atributo necessariamente valorizado pelo público da época. Por isso mesmo, a surpresa na criação de William Shakespeare advém da maneira como ele foi capaz de redesenhar estes personagens, dando-lhes consistência, tornando-os verdadeiramente criaturas com as quais o público se relacionava, admirando-as ou odiando-as.
De outro lado, tendo vivido o teatro desde sua juventude, e vivendo sempre em meio à gente mais popular da Inglaterra, mesmo quando já estava sediado em Londres, evidencia um ouvido extraordinário não só no modo de dizer (mesmo que estejamos atravessados por um idioma inglês que sofreu muitas mutações daquela época para hoje, e elas, necessárias traduções de seus textos) quanto no modo de sentir e perceber as diferentes realidades. Assim, há naturalidade nas falas, há profundidade nos sentimentos e há identidade entre personagem e público, em tudo o que acontece. Shakespeare consegue misturar comédia, tragédia e história em todos os seus textos, sem evidenciar artificialismo, e algumas das situações por ele criadas tornaram-se antológicas, como a representação do grupo mambembe de teatro de Sonho de uma noite de verão, do mesmo modo que a finalização de Macbeth, quando a floresta se põe em movimento conforme antecipado pelas bruxas, ou a primeira aparição do fantasma do pai de Hamlet, na peça do mesmo nome.
A dramaturgia de Shakespeare tornou-se modelo e referência, por isso mesmo, graças à evidente característica de "verdade intrínseca" que ele consegue colocar em cada figura, de modo que mesmo o mal extremo acaba ganhando um foro de compreensibilidade e de plausibilidade.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO