Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 30 de Abril de 2020 às 03:00

Refletindo sobre a crítica - II

Antonio Hohlfeldt
Escrevi, na semana passada, a respeito de um pequeno volume em que três críticos teatrais profissionais do eixo Rio-São Paulo refletem a respeito da crítica teatral que exerceram ao longo de muitos anos (A função da crítica, Ed. Giostri, 2014), começando por Barbara Heliodora, que viria a falecer pouco depois.
Escrevi, na semana passada, a respeito de um pequeno volume em que três críticos teatrais profissionais do eixo Rio-São Paulo refletem a respeito da crítica teatral que exerceram ao longo de muitos anos (A função da crítica, Ed. Giostri, 2014), começando por Barbara Heliodora, que viria a falecer pouco depois.
"De que serve a crítica?", pergunta-se Barbara Heliodora em algum momento, respondendo: "Entre outras coisas, serve de ponte entre o público e o novo" (p. 29). Observe-se o adjetivo "novo", que ela então desenvolve. Efetivamente, uma das mais importantes funções do crítico, no meu entendimento, é, valorizando o novo (não por ser novo, apenas, mas porque renova e abre novos caminhos para a arte), chamar a atenção para o fato e explicar isso ao seu leitor.
Mais adiante, Heliodora faz outra observação importante. "O verdadeiro fenômeno dramático, que é a obra de arte em si: o teatro, ou seja, texto mais espetáculo, só existe quando ele é apresentado diante de uma plateia, porque a obra de arte é o que acontece diante de seu público" (p. 34), diz, no que ela valoriza aquilo que é o principal diferencial e fator de afirmação do teatro: sua permanente renovação a cada montagem e, na verdade, a cada performance. Porque, dependendo da resposta do público, aquele espetáculo, mais do que ensaiado e marcado pelo grupo, acaba sofrendo mudanças na sua relação com o receptor.
Jefferson del Rios ocupa-se em fazer o que eu diria uma pequena história da crítica teatral no Brasil. E a gente se dá conta de que é muito jovem esta história, e é muito escasso o rol de profissionais que a ela se têm dedicado verdadeiramente, de José de Alencar e Machado de Assis, seus pioneiros, depois de Martins Pena, evidentemente, que foi não só o primeiro comediógrafo nacional como o primeiro crítico teatral do ainda Brasil colonial (vale a pena ler o belo volume que o Instituto Nacional do Livro publicou com seus textos, por iniciativa do gaúcho Augusto Meyer).
No seu texto, Jefferson del Rios ainda refere dissertações, teses e ensaios a respeito da crítica brasileira, o que é excelente. Dos críticos mais recentes, tive a oportunidade de conviver, por exemplo, com Yan Michalski (Jornal do Brasil), Sábato Magaldi (Jornal da Tarde), Clóvis Garcia, Ilka Marinho Zanotto (O Estado de S. Paulo), Mariângela Alves de Lima (O Estado de S. Paulo, que a substituiu), Edélcio Mostaço, Fausto Fuser e Macksen Luís, depois mais dedicado ao cinema.
Boa parte destes mencionados já faleceram, o que significa que temos novas gerações de críticos, ainda que, cada vez menos, os jornais dediquem espaços a tal prática, bastando lembrar que, aqui, em Porto Alegre, apenas este Jornal do Comércio guarda espaços para a crítica de cinema, de literatura e de teatro, nas edições das sextas-feiras.
O texto de Sábato Magaldi, que encerra o volume, retoma o tom de depoimento pessoal e reflexão mais prática que teórica a respeito do exercício da crítica. Ele reitera o que destaquei na semana passada, ou seja, "a primeira função da crítica é detectar a proposta do espetáculo, esclarecendo-a (...). Em seguida, cabe-lhe julgar a qualidade da oferta e sua transmissão ao público" (p. 68), destacando, mais adiante: "O crítico não pode ignorar nenhuma proposta estética" (p. 70), goste ou não dela, completo eu.
Sábato Magaldi começou na era dos grandes nomes, como Dulcina de Morais, Procópio Ferreira ou Paulo Autran. Imagine o leitor o que era ter de enfrentar estes deuses olimpianos, para lembrar a imagem do Edgar Morin. Depois, ele atravessou a fase das propostas coletivistas do Arena, por exemplo. E tornou-se estudioso de alguns dos principais dramaturgos nacionais, tendo sido encarregado, pelo próprio autor, de organizar a edição da obra completa de Nelson Rodrigues e, depois, de Jorge Andrade. Participou da criação e dos trabalhos extraordinários da Comissão Estadual de Teatro de São Paulo, integrou o grupo fundador e diretivo do Suplemento do Estado de S. Paulo, com Antonio Candido e, tornando-se professor, deixou uma bibliografia exemplar a respeito sobretudo da dramaturgia brasileira.
Em síntese, recomendo a leitura leve, simples, simpática, deste pequeno livro, útil para os aspirantes a crítico, para os grupos de artistas e, claro, para o público em geral, por que não?
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO