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Teatro

- Publicada em 03 de Abril de 2020 às 03:00

Minha visão particular da Ospa

Nossa Orquestra Sinfônica de Porto Alegre está completando 70 anos em 2020. Estava programado um concerto histórico para o mês de março, no Theatro São Pedro, onde ocorreu a estreia da orquestra, com o mesmo programa, mas, infelizmente, os acontecimentos que envolvem o coronavírus impediram tal rememoração.
Nossa Orquestra Sinfônica de Porto Alegre está completando 70 anos em 2020. Estava programado um concerto histórico para o mês de março, no Theatro São Pedro, onde ocorreu a estreia da orquestra, com o mesmo programa, mas, infelizmente, os acontecimentos que envolvem o coronavírus impediram tal rememoração.
Mais do que simples espectador, tenho tido uma relação próxima com a Ospa. Creio que, no início dos anos 1970, a orquestra programou sua primeira excursão nacional, pois o maestro Pablo Komlós buscava colocá-la como o melhor agrupamento orquestral do País. No roteiro, entre outras praças, Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Acabei convidado para ser o assessor de imprensa da orquestra, viajando com os músicos.
No Rio de Janeiro, coube ao crítico Antonio Hernandez, de O Globo, que se assinava simplesmente A.H., como eu às vezes me assinava nos artigos do Correio do Povo, comentar o programa interpretado pelo conjunto. Hernandez que, anos depois, voltaria a encontrar em Washington, aonde fomos a convite da OEA, foi quem deu a primeira e alentadora palavra. Sim, naquele momento a Ospa era a melhor orquestra brasileira em funcionamento. São Paulo repetiu a avaliação, e lá nos fomos para Brasília, que, naquela época, estava ocupada por gaúchos. O próprio governador do Distrito Federal, Hélio Prates da Silveira, era gaúcho e fez questão de receber os dirigentes da orquestra e alguns músicos no Palácio.
A imprensa brasiliense não tinha uma crítica de música, mas a plateia do teatro estava absolutamente tomada: muitos, por obrigação, diante de suas funções; outros, para matar saudades dos pagos. Komlós tinha o cuidado de compor um repertório que mostrasse o lado mais popular e regional, mas sempre incluía uma obra de referência como pièce de résistance. Eram as interpretações demonstrativas da competência do conjunto que dirigia. Os jornais anteciparam o sucesso do concerto e, no dia seguinte, ratificaram a boa impressão que a orquestra deixara.
Na verdade, anos antes eu tivera uma outra passagem de aproximação e vivência íntima com a Ospa. Quando a prefeitura de Porto Alegre tinha apenas uma Divisão de Cultura, vinculada à Secretaria de Educação, a mesma era dirigida pela cantora lírica Eny Camargo, nos anos 1960. Ela conseguiu aproximar o município e o Estado, fazendo com que a orquestra promovesse temporadas líricas que passaram a ocupar o novo Auditório Araújo Vianna (isso em 1964, quando o espaço foi inaugurado pelos esforços do jornalista P. F. Gastal, logo depois afastado, junto com o prefeito, Sereno Chaise, por ser do PTB, mesmo partido de João Goulart).
Seja como for, o Araújo Vianna, ao estrear Aída, de Verdi, em 1965, inclusive com a participação dos animais do zoológico de São Leopoldo (inaugurado em 1962), especialmente trazidos para a abertura do segundo ato, tornou-se o ponto de referência das óperas na Capital, que depois passariam para o Teatro Leopoldina, rebatizado Teatro da Ospa, na avenida Independência. Eu estava entrando no curso de Jornalismo, escolhendo estudar à tarde para integrar o Coral da Ospa, com ensaios à noite. E assim a orquestra trouxe Cavalleria rusticana, I Pagliacci, Un ballo in maschera, La bohème etc., eu sempre integrando o coro, no naipe dos baixos, aqueles cantores de voz mais grave. Ensaiávamos quase diariamente numa das salas do próprio auditório.
Mais recentemente, quando vice-governador, ocupando o chamado Palacinho, na Cristóvão Colombo, com o apoio de uma associação de amigos que então constituímos, tratamos de recuperar aquele prédio que, anteriormente, fora salvo pelo também vice-governador Vicente Bogo, ao refazer todo o telhado e impedir, assim, vazamentos. Mas as administrações que se seguiram não tiveram maior preocupação com a construção, até que o governador José Ivo Sartori atendeu à sugestão do maestro Evandro Matté e decidiu que aquele prédio passaria a sediar a Escola da Ospa. Confesso que fiquei imensamente feliz. O Palacinho, idealizado por Armando Boni, recebeu uma ocupação condigna com sua história. Matté tem sido criativo na busca de soluções para as atividades da orquestra: ocupou, projetou e transformou um espaço do Centro Administrativo na Casa da Ospa, hoje um belo espaço de concertos.
Por tudo isso, me sinto um pouquinho integrante deste aniversário. A história de uma instituição é também a história daqueles que dela participaram. E tenho muito orgulho de incluir minha pequenina história à grande história desta instituição, como tantos outros daqueles colegas que convivemos naquele período da nossa orquestra e de tantos outros que ainda a viverão.
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